Por que meu apelido é “Marmota”?

Esses dias respondi a um comentário da Luma por e-mail. Em sua resposta, vi que ela é das minhas: não mede palavras ao conversar com as pessoas, e acabou chutando o balde mesmo sendo simpática:

André!!! Um nome tão bonito com um apelido tão... Marmota!!! 🙂 Brincadeiras a parte, não sabia que se chamava André e quase apaguei a sua mensagem.

Há muito mais tempo, recebi um e-mail de um tal Edmilson, que contou uma história, hmmmm, peculiar.

Quem inventou essa porra de ser marmota hein? Chamam-me de marmota porque certa vez fui chamado atenção por estar vestido feito um marmota e aí comentei com meus colegas do trampo. Não é que eles acolheram o apelido!!! Os filhos da puta de vez em quando soltam um marmota pra lá outra acolá. Acabei aceitando a sacanagem e ser um marmota é algo até filosófico.

Bem antes disso, a Rossana Guessa também escreveu, curiosa:

Apesar de ler todo seu perfil, observei que não ficou bem claro a origem do nome Marmota, ou simplesmente me decepcionei pelo fato de não ter lido que era uma parte do seu sobrenome, assim como o meu... Nós, da família Mota, sempre nos designamos assim (Marmota) quando estamos em rituais íntimos por assim dizer... 🙂

Neste final de semana, veio uma nova mensagem, um pouco mais profunda, enviada pela Silvia Mantovani bem parecido com o que devem pensar na Espanha – lá, “marmota” é usado para quem dorme demais…

Eu não gosto do nome "marmota". Marmota me ocorre uma pessoa mole, lerda, acomodada, desleixada. Eu já deixei de ler muito blog por não gostar do nome. O seu, eu insisto por que eu gosto do que escreve... Por mim mudaria o nome... Sei que é inviável, você construiu uma marca... Mas será que essa "marca" lhe favorece mesmo?

Talvez eu ainda não tenha deixado claro, mas só para lembrar: eu sou uma pessoa só, mas no ambiente profissional, eu me apresento apenas com meu nome e sobrenome. Quando as relações ultrapassam o lado profissional (é o caso de todos vocês, visitantes assíduos do blog), não há problema algum em dizer que tenho um apelido há muitos anos. E isso merece uma recapitulação a respeito da origem desse nome, publicado originalmente em 11/02/2006.

***

Até março de 1992, minha rotina era limitada. Saí poucas vezes do meu bairro, por razões óbvias: para chegar a qualquer área civilizada, é preciso atravessar uma longa jornada nos deliciosos ônibus paulistanos. A partir daquele instante, precisava atravessar a cidade diariamente: diariamente, às sete da manhã, frequentava as aulas de eletrotécnica da Escola Técnica Federal (atual Cefet).

Os quatro anos de Federal mudaram minha vida, e os meus amigos da época compartilham da mesma opinião. Nos primeiros dias, evidente, a preocupação era outra: nenhum aluno de curso técnico escapa de um apelido. Nenhum. Toda sala tinha um Piuí (baixinho), um Diou (“diou tromundo”), um Tocha (ruivo), um Chupeta (para o mais novo) um Alemão, um Jabá, um Feliz, um Zulu, um Tatu, um Rato, um Sapão, entre outros bichos. Os japoneses, maioria esmagadora, traziam o apelido no sobrenome: Osiro, Tazawa, Teruo, Nazima, Murata, Kato… Curiosamente, trata-se de um fenômeno masculino: as (poucas) moças recebiam tratamento carinhoso: Lu, Rê, Pri, Di, Déia…

Logo no primeiro dia, nas tradicionais e enfadonhas apresentações, constatou-se que eu era o cidadão que morava mais longe. Para ajudar, caí na besteira de dizer que morava “perto de um buraco” – e é verdade: uma das escolas municipais da região leva justamente essa alcunha. Não demorou muito para que o nome Marmota pegasse. Como a onda de apelidos era inevitável, não dei bola e assumi o apelido espontaneamente.

Até porque, “Marmota” era infinitamente melhor que “Rosinha”, outro nominho carinhoso dos tempos do primário – fez algum barulho nos anos 80, quando uma propaganda de bonecos da Turma da Mônica apresentou o casal Chico Bento e Rosinha. Marmota só rima com idiota – e cá pra nós, muitas vezes sou isso mesmo.

Em 93, ano do plebscito, lancei minha candidatura para representante de turma com uma mudancinha na logomarca que promovia o parlamentarismo: de PAR, virou MAR (de Marmota. Sacaram? Hein? Hein?). Concorri com outros três nomes: Rossetti, Capachão e Noemi. Perdi aquela eleição, mas o apelido grudava com ainda mais força.

Fato comprovado em uma situação inusitada: em um encontro casual com o pai de uma colega, ela resolveu apresentá-lo aos companheiros de sala. “Bom, pai, esse aqui é o Ricardo, esse é o Marcelo, esse é o Fernando e… Hmmmm… Marmota, qual o seu nome mesmo, hein?”.

Mesmo depois da Federal, época em que as BBS davam lugar à popularização da Internet comercial, foi como Marmota que me apresentei ao mundo virtual. E assim segue, sem nenhuma preocupação em achar o substantivo idiota ou mergulhado em estereótipos negativos. Acredito realmente que, nesse caso, é a pessoa que faz o nome – ou o apelido, no caso.

***

Engraçado que, em nosso convívio escolar, ter um apelido pode ser bom ou ruim, mas imaginei que fosse algo natural, que fizesse parte da vida. Recentemente, pais e educadores levantaram o problema do bullying, termo em inglês associado à perseguição, intimidação. É quando o apelido deixa de ser inofensivo e vira agressão verbal pesada, levando crianças a sérios problemas psicológicos que podem levar ao suicídio. Será que é tudo isso mesmo ou trata-se de mais um sinal dos tempos?

E você, tinha (ou tem) algum apelido que ficou mais forte que seu próprio nome? Sentia raiva quando te chamavam de algo indesejável? Ou ainda: um apelido mal colocado é capaz de acabar com uma imagem positiva?

***

Esse post inexpressivo e totalmente fora de contexto deve aumentar as buscas google pelo termo Marmota – aliás, esta é a primeira página que o pobre usuário encontra ao digitá-la no buscador. Uma das minhas metas para 2006 é bolar uma página sobre marmotas (o animal mesmo), para não frustrar os pobres visitantes.

André Marmota tem uma incrível habilidade: transforma-se de “homem de todas as vidas” a “uma lembrancinha aí” em poucas semanas. Quer saber mais?

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Comentários em blogs: ainda existem? (16)

  1. Bem, nunca achei o apelido estranho. Para falar a verdade, foi o que me atraiu a primeira vez para o blog. Quando vi o nome Marmota me lembrei automáticamente do filme Feitiço do Tempo (Groundhog day, 1993) com Bill Murray e Andie MacDowell, que é um dos meus filmes preferidos sobre viagem no tempo.

    Quanto ao apelido nas escolas técnicas isso é natural e uma tradição. Trabalho em umas das escolas técnicas de são paulo e os novatos são batizados pelos veteranos em uma espécie de solenidade. Por mais estranho que seja o apelido não tem como o dono espernear. Ele será seu nome oficial pelos próximos anos do curso. A coisa é tão séria que em todas as listas de alunos temos o apelido também, porque ninguém se conhece pelo nome verdadeiro.

  2. André,

    Acabei de descobrir uma vantagem em ser ruivo, fora a tradicional de ser facilmente encontrado no meio da multidão: ter tantos apelidos que nenhum gruda definitivamente.

    Em cada período escolar, do primário à faculdade, passando pelo ginásio e cefet, tive um apelido. Em cada esporte que pratiquei, ganhei um apelido diferente.

    Isso também facilita muito para quem tem memória visual RAM. Pois dependendo do apelido que me chamam, localizo no tempo e no grupo. Dessa forma é mais fácil tentar lembrar de onde conheço aquela pessoa. 😉

    Abração,

  3. Muita gente vai se identificar com esse post.

    Eu tenho dois apelidos “geográficos”: Mano (pra quando estou em Presidente Prudente, visitando família e amigos) e Mané (aqui em SP). Tive uma série de apelidos na minha vida, mas particularmente não gostava de um: Bozo – dado, claro, na época de colégio. E como os meus colegas logo perceberam que eu não gostei, pegou.

    Hoje, preciso admitir, até peço para alguns amigos daquela época me chamarem de Bozo. Mas na época, era o exemplo quase enciclopédico de bullying.

  4. Eu tenho vários amigos com sobrenome de animais, como Lu Lobo, Tati Pavão, Lu Leão, Mariana Onça, Mari Mosca… (engraçado, todos da Biologia) e por causa disso até o ano passado achava que Marmota era seu sobrenome! rs rs rs

  5. Boa tarde, André

    Cheguei em casa agora, já li seu post. Poderia ter usado meu nome sem problema.

    Eu odiava meu apelido quando era pequena, a minha familia me chamava de ‘bolo fofo’.
    Ainda bem que consegui me livrar dele, eca… (Porém digo que os bolos que eu faço até hoje são muito fofos!)
    E na escola, na sétima série teve um que eu não digo nem sob tortura, vai que alguém resolve usar….
    Hoje, quarentona, com anos de análise nas costas; são poucas coisas que me afetam.

    Beijosss

  6. Olha só!
    Gostei de saber a origem do nome!
    Sempre quis saber o motivo do apelido!

    Bom, eu sou a Má. Quando pequena, era Bila oi Mabila para as minhas irmãs mais novas, sou Dê para parte da turma de facul (que vc conheceu).
    Quando tinha 10 anos e estava na quarta série, os meninos e as meninas uma vez me rodearam e me chamaram de silicone. Na época, eu nem sabia o que era isso, mas sei que não gostei e, se já era complexada com o tamanho avantajado do air bag, fiquei mais; coisa que demorou pra ser resolvida psicologicamente.

  7. adoro saber as origens dos nomes. Talvez porque as pessoas sempre perguntem sobr o meu: Rina. Rina Priscilla. Invenção de mãe, não tem escapatório. Como o nome é curtinho (nunca me apresentei como Rina Priscilla), nunca tive apelidos oficiais na escola – só um que nao conto, nao conto e nao conto. Trocadilho feito com meu nome e eu detesto que mexam com ele (meu nome). Mas daí um dia um amigo resolveu colocar o Pri depois do Rina. Alguns anos de esquecimento e eu fui criar meu primeiro email… pensa daqui e dali, saiu rinapri. Rina Pri. E tem mais de 10 anos que eu assino Rina Pri. E tem gente que só me chama assim, mesmo sabendo meu nome inteiro. O que acho mais “interessante” é que nao gosto de Rina Priscilla. Mas do Rina Pri… adoro 😀

  8. Pô, faz séculos que eu leio esse blog e nunca comentei….
    Você fez o quê na Federal? Acho que sou da mesma época que você.
    Esses dias teve um reencontro da galera e era muito estranho ver os maridos/esposas chamando o povo pelos nomes (?!).

    []’s

  9. Eu já sofri bullying com vários apelidos, que não merecem ser lembrados aqui. O mais leve era Gasparzinho, porque sou muito branco.

    “Uma das minhas metas para 2006 é bolar uma página sobre marmotas”. Ainda tá em tempo, hein?

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