Dias antes do Carnaval de 2002, uma curiosa mensagem chegou na minha caixa postal. “Oi, te achei no ICQ. Se quiser conversar…”. Muito parecida com aquelas que certamente você recebe diariamente, mas sem aquelas babaquices como “oi, ker tc, de onde vc eh, tem foto”.
Lembro que, naquele dia, até comentei o fato com uma amiga por ICQ. Na mesma hora, concluímos o óbvio: pessoas que pintam do nada se tornam figuras efêmeras e passageiras.
De qualquer forma, mantive contato com ela. Bia, 25 anos. Moradora de Campinas, com a mãe. Libriana, mas não acredita em astrologia. Católica praticante, nasceu no dia de São Judas Tadeu. Pedagoga, valoriza muito a educação das crianças. Como qualquer professora, precisa preencher o resto do tempo para completar seu orçamento, e ela o faz dando aulas de inglês.
Todo esse levantamento, além de outras histórias que não vem ao caso, feito com a troca de alguns e-mails e dois telefonemas.
Na terceira ligação, finalmente marcamos um encontro. Deixei o Marmoturbo em frente ao Shopping D na manhã do dia 24 de fevereiro e embarquei num Cometa para Campinas, as dez da manhã. Detalhe importante: apenas ela tinha uma vaga idéia da minha fisionomia, graças a uma dessas fotos horrendas com cara de bobo que eu tenho. Para se certificar que não se tratava de nenhum sujeitinho abusado, a mãe foi até a rodoviária com ela.
– André?
– Bia?
– Sou eu!
– Muito prazer!
Cumprimento discreto, mas sorrisos que atestaram a empatia criada logo de cara. Até a mãe dela, aparentemente desconfiada no início, se mostrou “desarmada” minutos depois! Antes do almoço, fiquei alguns minutos envolvido em álbuns de fotografias e histórias do cotidiano – que continuaram na churrascaria Santa Gertrudes, onde fomos comer.
E aqui, um adendo: se um dia você for a Campinas, prefira outra. O atendimento desta é péssimo, e em três anos, certamente piorou. Isso se aquela espelunca não fechou.
Enfim. Se durante as primeiras horas daquele domingo já estava convencido de que a Bia tinha uma presença de espírito sem igual, essa conclusão ficou mais clara no restante da tarde, quando fizemos um “tour” pela cidade – com escala na Igreja para a missa das cinco.
Passamos em frente ao Moisés Lucarelli e ao Brinco de Ouro; fomos até a estação de Anhumas acompanhar a saída da histórica maria fumaça, andamos em frente ao parque Taquaral, esticamos até a Vila São José (para lembrar, vagamente, onde era a casa que morei quando tinha uns três anos de idade) e encerramos o dia no Shopping Galeria – nessa altura do campeonato já trocávamos as nossas figurinhas repetidas do álbum “relacionamentos fracassados”.
Deixei a cidade, já por volta das dez da noite, com aquela sensação plena de ter conhecido uma pessoa muito especial, dessas que só a presença já é suficiente para lhe trazer paz.
É uma pena que esses tais encontros internéticos são, definitivamente, efêmeros e passageiros. Nos vimos pela última vez quando fomos juntos à Bienal do Livro, em abril daquele ano de Copa do Mundo – faz tempo. Infelizmente, fica difícil arrumar uma brecha em meio as atribuições diárias para dar um telefonema.
Esse post serve como lembrete: telefonar para Campinas nesse dia 24. Perguntar a Bia se ela finalmente casou-se com o amor da vida dela (um de seus objetivos da época). Além de lembrá-la o mais importante: cuidado ao ignorar aquela mensagem despretenciosa no ICQ: pode ser algum anjo da guarda!
Dia de São Judas Tadeu não é 28 de outubro (no caso, Escorpião)????
Eu fico pensando se não temos tempo ou se nos escondemos atrás desta desculpa fácil.
Caro amigo André, como vão as coisas?
Outro dia fui até a Galeria dos Pães com a minha mina e lembrei daquele bate papo legal com a galera. Até comentei com o Marquiños.
Referente ao post, hahahahah realmente! Existe alguma chance de você encontrar um anjo da guarda em meio aqueles spams malditos. Também já compartilhei de experiência igual.
Quanto aos Cuzões Anônimos, agite com o Marquiños para que o negócio saia do papel, a idéia é muito louca e existem milhares de seres cuzões como a gente que vivem experiências muito semelhantes todos os dias e que querem apenas um ombro amigo para chorar suas mágoas.
Um grande abraço brother!
Sou meio antiquado e inteiramento receioso às relações na net, talvez por que leve tudo muito a sério. Tenho medo da responsabilidade de fazer muitas amizades e não dar a elas a atenção desejada. Coisa de matuto.
Primeiramente, MARMOTURBO… fantástico, a´te gargalhei…
Sim, a vida se encarrega de deixar estas amizades fracassarem.
Já tive uma amizade assim, fomos (eu e a esposa) pra são paulo conhecer uma amiga virtual, nos demos muito bem, ela chegou até vir pra catanduva, porém, depois de algum tempo ela arranjou um trampo no rio e distanciamo-nos… Se bem que, quem sumiu foi ela… mas, assim é a vida…
Abraços
Puxa! Vc é a cara no Nisan Guanaes…
Se tem uma coisa que me incomoda profundamente nas relações de amizade que eu fiz através da net, é exatamente isso: a fragilidade delas. Podem muito bem acabar da mesma forma rápida que começaram. Já passei várias vezes por isso e me entristeci bastante. Mas também posso dizer que dei sorte. Carrego comigo hoje em dia, grandes amigos(ou seriam anjos da guarda?) que fiz através do blog, icq…E sei que temos uma troca muito grande. Só temos a ganhar sempre. Pena que alguns se vão…mas se eu pensar positivamente, eles fizeram a parte deles. Abriram minha mente e meu coração pra essa nova possibilidade e me mostram que é preciso ser mais responsavel em relação as pessoas que estão ao nosso redor. Já dizia o grande Saint Exupery: “Somos responsáveis por aqueles que cativamos!” 🙂 é isso ai!
Beijo em vc!
:****
Ia fazer o mesmo comentário do Lello. Dia de São Judas Tadeu é 28 de outubro.
Já fiz muitos amigos pela internet, todos jogando em multiplayer. Mantenho contato com muitos deles, ainda hoje.
Uma coisa que deve ser considerada, independentemente se o seu amigo é da internet, do trabalho, da sua vizinhança, da sua faculdade ou até mesmo de algum desses “disk amizade”, é que as pessoas vão sempre entrar e sair da sua vida.
Algumas vezes, guardamos boas recordações de pessoas que se afastaram de nós, mas ainda assim preferimos acreditar que “não temos tempo” para ir atrás delas. Não vejo nada de errado nisso, afinal, porque lutar contra a própria, e legítima, vontade?