O Sol, a Terra ou nossa espécie: o que vai acabar primeiro?

A premissa do filme Sunshine – Alerta Solar, uma opção muito bacana de entretenimento, é a de que o Sol está perdendo a sua força, e daqui a apenas 50 anos, só uma mega-bomba nuclear seria capaz de reascender a estrela central do nosso sistema. Antes de se impressionar ao sair do cinema, não se preocupe. Vai levar muito tempo até que essa ameaça aconteça de verdade. Até lá, a humanidade vai dar cabo de sua própria extinção.

Ou não. A expressão de ordem é aquecimento global e suas inseparáveis conseqüências climáticas: aumento do nível do mar, derretimento dos pólos, maior quantidade de furacões e ciclones, áreas atingidas por secas e desertos… Nunca se debateu tanto a respeito do aumento da temperatura no planeta e sua relação com as maldades do ser humano, emissores de lixo, gás carbônico, desmatamento…

Muitas vezes o embate envolvendo as facções xiitas dos ecochatos e os malfeitores do meio-ambiente transformam discussões produtivas em brigas desnecessárias, e que só contribuem com a deterioração das relações humanas. No meio desse entrevero, ações mais interessantes, porém isoladas, se ofuscam. Quem é que sabia, por exemplo, da blogagem coletiva proposta pela Lucia Malla e seus amigos, mantenedores do coletivo Faça a sua Parte?

A proposta é simples, apesar da execução ser difícil – afinal, só eu, você e mais alguns que pensaram no assunto vão fazer. Quem aceitasse o desafio apontaria uma meta a ser atingida no que se refere à economia de recursos. O texto seria publicado no último domingo, 22 de abril, o Dia da Terra, data que marcou um dos primeiros protestos contra o aumento da poluição no planeta. A primeira vista, parece perfeito: se cada um tivesse um espasmo de consciência, provavelmente não estaríamos discutindo nada disso no futuro. Sem falar que é melhor tomar uma atitude, por menor que seja, do que não fazer nada e esperar alguém nos salvar.

Conversei muito sobre o assunto com um amigo, o Arno Rochol. Ele tem uma visão de mundo especial, fundamentada em valores humanos em detrimento ao material. Ele é um entusiasta da Teoria de Gaia, lançada nos anos 70 pelo cientista britânico James Lovelock. Gaia é o nome de uma divindade grega, a “Mãe Terra”. Também é o nome dado ao conceito de que todos os seres que nasceram dela precisam se respeitar. Segundo a Teoria de Gaia, a Terra é um ser vivo, capaz de gerar e manter as suas próprias condições de meio-ambiente.

Isso significa que o comportamento da nossa espécie no planeta poderia influenciar na saúde da Terra, e se nós perdermos o controle, Gaia, a Mãe Terra Gaia, trata de se livrar do problema (ou seja, nós) e seguir seu caminho. Faz todo sentido, não?

Baseado nesse ponto de vista, Arno fez algumas ressalvas sobre simplesmente fazer a minha parte. “A idéia de reduzir o consumo de energia, mesmo sendo o caso combustível do carro, é boa. Mas esse discurso é antigo. Há muito que não está em jogo salvar a Terra, mas sim A NOSSA SOBREVIVÊNCIA! Talvez tu próprio ainda sentirás na própria carne as conseqüências de nossa ações atuais. E o que falar dos filhos de nossos filhos? Não será economizando uns litros aqui, outros ali, que vamos resolver. Seria preciso muitíssimo mais”.

Ele vai além. “A abordagem, a meu ver, não é por aí. Esse tipo de salvação é igual aos muitos projetos de ‘responsabilidade social’, de ‘ajuda ao desenvolvimento’… Remendinhos, assistencialismo, paternalismo. O que precisamos, realmente, é de justiça! Justiça ambiental, social. Dar a cada ser o que merece por ser o que é! E não economizar combustível… Precisamos pisar no freio e puxar a trave de mão e dar marcha ré. Tudo ao mesmo tempo! Ou será que já não estamos voando pelo espaço de um precipício, achando que estamos numa ponte?”.

A preocupação do meu amigo Arno se materializou num site lançado, coincidentemente, no Dia da Terra: o Grupo Gaia. Por enquanto, a página traz apenas os seus ideais, contra à desagregação social e destruição ambiental, alem da proposta para a criação de uma comunidade sintonizada com seus valores de respeito à vida.

Pena que nossos limitados valores humanos, que invocam coisas como “meu grupo de defesa do meio-ambiente é melhor que o seu”, ainda inviabilizem qualquer grande idéia. Mas tanto o Faça a sua Parte quanto o Grupo Gaia e muitos outros que eu não conheço podem, ainda que separadamente, funcionar como um “choque de gestão”. E talvez ainda dê tempo de salvar a nossa espécie bem antes do dia em sejamos obrigados a reacender o sol.

Não deixe de ler também os textos do Chico e do Edney sobre o filme Sunshine, além dos dois parágrafos sensatos do prodígio Ibrahim Cesar (seguido de comentários muito engraçados sobre o apocalipse).

André Marmota pode perder um grande amor, um amigo de longa data ou uma oportunidade de trabalho... Mas não perde a piada infame. Quer saber mais?

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Comentários em blogs: ainda existem? (6)

  1. André,
    A proposta nem é tão difícil assim, basta decidir uma meta alcançável. Que pode ser substituída quando for atingida…

    O pior é não fazer nada e ficar achando que ALGUEM fará algo que NOS salve.

  2. Olha só que engraçado, Marmota:

    outro dia (provavelmente no dia da Terra!) vi no Discovery Channel (ou seria no Nat Geo?), um tal de escurecimento global (http://en.wikipedia.org/wiki/Global_dimming) provocado pela poluição. Tecnicamente estamos recebendo menos Sol a cada lufada de fumaça das fábricas e carros. Isso é quase contrário ao efeito estufa. “Estamos salvos”, diriam os mais otimistas. Não… Esse escurecimento global apenas mascara parte do global warming.

    Bom, dito isso, essa história de aquecimento global, efeito estufa, kyoto, etc… acaba sempre descambando para a política e economia e no final ninguém faz nada, empurra pras gerações futuras. o problema é que aparentemente não vamos precisar esperar as gerações futuras.

    obs: qto ao seu comentário no meu blog, acho que vc quem pautou e não eu! 🙂

    Abraços!

  3. trabalho com meio ambiente há muito tempo e sei que esse negócio de preservar porque os bichinhos são bonitos e a natureza é marabilhosa é pura balela. A conservação ambiental passa pela nossa sobrevivência e como explorar os recursos de maneira mais racional, para que eles durem mais tempo. Quando as pessoas falam em desenvolvimento sustentável elas não tem noção do que realmente é. Ele passa por três partes. Tem que ser ambientalmente equilibrado (não explorar irracionalmente), economicamente viável (ninguém investe em algo que não dá lucro) e socialmente justo (não pode esquecer do povo). Dentro dessa premissa, na faculdade eu criei a Teoria do Ursinho Coala. Se um dia entrar na moda usar no pescoço a patinha do Ursinho Coala, a medida de desenvolvimento sustentável para essa situação é criar o coala em cativeiro e continuar a arrancar a pata dele. Ou seja, dane-se o Coala, a moda é mais importante.

    Dentro da questão do “o que podemos fazer?” como trabalho com reflorestamento digo para o os alunos que visitam a área trabalhada que se cada um plantar uma árvore por ano de vida, já está dando uma grande contribuição.

    Agora, só para criar polêmica. Levando em conta todos os estudos climatológicos nos constatamos que o planeta segue um mesmo ritmo a milhões de anos alternando pequenos períodos quentes com longas aglaciações. E geralmente antes do início de uma aglaciação temos um pequeno periodo de altas temperaturas. Segundo o relógio geológico da Terra estamos nesse pequeno período quente que antecede uma aglaciação. Claro que a intervenção do homem pode estar influenciando para que ela seja mais quente, mas se preparem que em alguns séculos vem gelo por ai.

  4. na minha cidade ja ouve 3 queimadas esta semana,por isso devemos nos concientizar que agente nos mesmo vamos sofrer as quoncequencias,um exemplo de agreçao a natureza e desmatamento. nao se esqueça de proteger a natureza sempre que puder.beijosssssssssssssssss!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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