O que tem na panelinha vermelha?

Vamos esclarecer algumas coisas: Internet não se faz com tecnologia, mas com relacionamentos. A blogosfera não é um mundo paralelo, onde as coisas acontecem apenas baseadas na facilidade das ferramenta, nos trackbacks, comentários e links: por trás de tudo isso, acima de tudo, existem pessoas. E a relação entre elas é a mesma tanto na rede como fora dela.

Para ser mais claro: não é sensato avaliar os blogs pelo template ou pela quantidade de visitantes ou comentários, mas sim pela forma como o autor se comunica. Leitores blogueiros ou não se identificam com as idéias, com o estilo, com tudo que está diretamente relacionado à formação de quem está por trás do blog.

Então o blogueiro A escreve crônicas, comenta novidades e demonstra o quanto está antenado. O blogueiro B se diverte com alegres episódios do cotidiano e faz piadas com as agruras da vida. E o blogueiro C faz um pouco de cada coisa, com opiniões totalmente opostas. Outros blogueiros que visitam e comentam A diariamente podem entrar de vez em quando em B e simplesmente ignorar C. E não há problema nenhum nisso.

Qual a tendência natural diante disso? Todas as afinidades entre blogs, sejam elas ideológicas ou sentimentais, acabam formando agrupamentos dentro da blogosfera. E dentro desses nichos, temos algumas referências, pessoas relevantes cujas idéias e opiniões repercutem na maioria dos outros.

Eu mesmo tenho os meus favoritos, e acredito que você também tenha os seus. São blogueiros que exercem uma influência positiva: eles inspiram outros a seguir o mesmo caminho. Não para criar concorrência ou inveja, mas para serem melhores pessoas. Estudar mais, ler mais, conversar mais, enfim.

Não te parece um monte de obviedades desnecessárias? Também acho, por isso fico preocupado quando ouço expressões como “blogueiro famoso” e “panelinhas fechadas”. Coisas como “tá todo mundo ao lado daquele idiota só porque é uma estrela pop”. Então as pessoas esquecem que podem crescer por si mesmas e sonham com um blog de sucesso e sua própria panelinha. Ou vai dizer que você nunca ouviu falar nessa bobagem?

Mas voltando. Quer ver como a idéia do “pessoas no mundo real e virtual” funciona na prática? Vejamos a festa do copo vermelho, onde um dos objetivos era “unir em um só ambiente, da maneira mais democrática possível, os mais variados estilos de escritores, ativistas, pensadores, artistas e formadores de opinião”. Alias, a própria lista pode ter feito um ou outro pensar nas panelinhas e em seus líderes.

O que pode acontecer quando você junta muita gente de estilos diferentes em uma festa? Bom, primeiro você cumprimenta aqueles que conhece, conversa com aqueles que se aproximam, dá uma analisada no ambiente e experimenta alguns acepipes. Depois, não tem jeito: todos se dividem em grupos, de acordo com suas preferências. Foi exatamente o que aconteceu comigo.

Com algumas horas de atraso, encontrei Inagaki e Biajoni, além do não-blogueiro Narazaki e da Carol (que, infelizmente, não tive o prazer de conhecer antes). E graças a um pequeno deslize no planejamento de trajeto (quer dizer, me perdi como sempre), chegamos ainda mais tarde ainda na estranha casinha da Vila Madalena. Logo na entrada, esbarramos com a DaniCast.

Lá dentro da casinha, como era possível imaginar, iluminação predominantemente vermelha. Depois da entrada, um corredor estreito dava acesso a garagem que serviu de lounge. Além dos sofás, banquinhos e bandejas de salgadinhos, dava para brincar com as duas máquinas de lavar da areazinha. Uma escadinha perigosa dava acesso a uma pista de dança improvisada, onde era possível ouvir uma salada musical, além de encontrar barmans serviam a estranha mistura de whisky com groselha (isso mesmo: quem bebesse, enfrentava a perigosa escadinha para comer). Nos fundos, um quintal gramado propiciava outras atividades lúdicas.

Pois chegamos e logo tratei de abraçar velhos conhecidos: a Patrícia Köhler, o Doni, a Vivi, a Fla e a Clara, o Alex Castro… Quando a Alê Felix gritou “marmota”, a simpática Sandra se aproximou: “puxa vida, você é o famoso Marmota!”. Respondi que era tão famoso quanto a Miss Guaianazes antes de continuar a conversa. O Helder (com H) também se apresentou – e marcou meu nome em sua caderneta. Num dos sofás da garagem, encontrei a Bibi, o André e a Gabi, e como o papo dali praticamente não saí – em tempo, para concluir um dos temas da noite, Ray Conniff morreu sim, em 12 de outubro de 2002.

Ainda que eu não tivesse a menor predisposição para me aproximar de quem eu não conhecia, nem de quem imaginava encontrar – mesmo o Gravataí Merengue, que eu julgava conhecer do encontro do ano passado, não encontrei (ou vi e passei batido), mesmo sem balançar o esqueleto nem beber nada alcoólico, devo dizer que tive uma noite extremamente divertida – noite que só acabou às sete da manhã.

Garanto que muitos ali também estenderam suas noites felizes, ao lado daqueles que tinham total afinidade. Todos os grupos afins (tudo bem, se quiser pode chamar de “panelinhas”) estavam claramente organizados, e poucos se misturavam – assim como você vê agora, na grande rede. E foi muito legal para todos eles – até para o pobre sujeito que precisou ser carregado após mergulhar fundo no copo vermelho.

“Sua besta, você se isolou porque quis”, pode dizer algum. É verdade, admito que me acomodei tão facilmente no sofá que mal percebi quando alguém disse “são três e meia”. E eu também estava pouco concentrado: se eu lembrasse de onde conhecia aquele cidadão de óculos e cabelo enrolado antes, certamente me aproximaria e diria: “puxa, você é o Cerezo no Batendo Bola? Cara, parabéns, é uma das coisas mais sensacionais que eu já vi”. Mas só lembrei em casa.

A coisa também poderia ser diferente com um recurso simples. Quando a Alê promoveu a festa das mascaras, em 2003, todo mundo colou uma etiqueta com o nome no peito. Isso ajudou muito a aproximar os desconhecidos. Fiz esse comentário com uma das mocinhas da organização. Ela me olhou com ar blasé e, sem se esforçar para ser simpática, disse “talvez você precise se esforçar mais para quebrar o gelo”. Traduzindo: “bem feito pra você”. Obrigado.

Só no final da festa, depois do café e de muitas risadas, usei um artifício discutível, mas que deu certo: figurinhas da Copa! Acabei presenteando a Lilian com alguns cromos repetidos, alem de ter conhecido pessoalmente o Julio César, do muito bacana Imperador. Reconheci o Mr. Manson quando ele me viu, com o bolo de figurinhas na mão, praticamente repugnando minha atitude. “Saiba que essa é uma atividade relaxante, boa para espairecer”, disse, sorridente. “Prefiro sexo”, respondeu. Faz sentido!

Enfim, pode ser que muita gente tenha saído da festa do copo sem a sensação de que foi “um marco na historia da blogosfera”. Devem ter se perguntado porque não tinha luz na escada, porque deram ao sabor da bebida o estranho nome lima da pérsia, porque tinha uma árvore na garagem daquela casinha estranha, porque não havia uma ordem lógica nas musicas… Pois eu fiquei convencido de que um blog pode ser útil pra muita coisa, até pra abrir portas de uma festinha. Mas o blog sozinho não deixa ninguém famoso, não cria relações bacanas e frutíferas, nem transforma ninguém em pessoas melhores. Isso é por nossa conta.

(Acho que ficou grande o suficiente para ninguém pensar que estou fazendo propaganda…).

Atualizado: a DaniCast fala mais da festinha na revista Paradoxo. Inclusive com fotos!

Atualizado de novo: Falando em fotos, tem muito mais aqui.

André Marmota adora usar a função “rand” do PHP, combinada com um array repleto de frases diferentes. Paaaaarabéns! Quer saber mais?

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Comentários em blogs: ainda existem? (15)

  1. Panelinhas são inevitáveis e não são um mal. Eu sou uma preguiçosa social, só falo com quem eu já conheço. Eu acho que a marca da bebida se deu mal. Bem feito. E o Ray Conniff não morreu não. Você vai ver, vai tocar na festa de formatura da sua neta.

  2. É, no fim das contas o lance todo foi engraçado. Como eu havia dito em um blog aí, “reunião de blogueiros” nasceu fadada ao erro. Que diga JC e os Apóstolos, blogueiros famosos de outras eras…hehehehhe
    Mas enfim, prazer em te conhecer cara. E desculpas por ter relação de figurinhas repetidas mais “clichê” da história dos álbuns.

    Abs.

  3. Eu adorei rever o pessoal e conhecer outros, ainda que poucos. Teve panelinha sim, e tudo bem, festa é assim mesmo. Quem vai numa festa e acaba conhecendo 90% dela? Só político.
    Panelinhas são normais e apesar de eu ser uma pessoa sociável e extrovertida tento ao máximo ser simpática mas se recebo uma resposta como a que você recebeu da organizadora acabo tomando como indicativo de que fulano (a) é no mínimo um (a) mal educado (a) pra não dizer chato (a) idiota (a) assim vou eliminando de meu círculo de possíveis amizades indivíduos do tipo.

    É a lei da selva social, baby.

    Mas eu adoro você. E prometo que te dou um CD com autógrafo psicografado do Ray Conniff e um beijo na bochecha.

  4. Oi Marmota. Quanto tempo. Menino, tanta coisa mudou na minha vida. Agora, que estou muitoooo feliz, tenho vontade de escrever novamente e criei o blog, mas tá faltando tempo. Entre uma fralda e mamadeira tento postar lá. Bjos

  5. Oi Marmota. O melhor da festa foi estar entre pessoas interessantes. Cheguei sem conhecer ninguém pessoalmente e saí com vários novos amigos. Essa idéia da etiqueta é legal. Como só vi rostos e não urls, não sabia quem era quem. O que me salvou foram as panelinhas. Através dos que eu conhecia fui conhecendo os outros.

  6. Sou suspeito para opinar sobre essa festa, uma vez que me vendo facilmente pro sistema quando que me oferecem whisky (original!!!) e salgadinhos de graça. Portanto, achei tudo mil maravilhas, ainda mais porque estive muito bem acompanhado. Pude até conhecer, de vista, aquele tal do Marmota, o tal do Inagaki, o tal do Wagner Martins, o tal do Alex Castro, etc e tal…

  7. Saí super cedo, não encontrei ninguém – cumprimentei rapidamente o Inagaki e falei com o Manson. Sabe como é, vida de casado etc… 😀

    Achei a festa legal, claro, mas tinha um ar de ‘bailinho de colégio’ (não sei se por conta da predominância nerd ou pelo ambiente ‘caseiro’).

    Achei bacana o banheiro com chuveiro elétrico, a escada-caracol interna e os acepipes servidos em ‘temperatura ambiente’.

    Mas a medalha de ouro vai para as declarações que tínhamos que assinar, para o caso de sair em alguma foto. Genial!!!

    Devem conhecer a egolatria dos blogueiros, que não cedem assim tão facilmente seus direitos de imagem…

    Mas, na boa, saldo positivíssimo. Beeeeeeeem melhor do que ir para aqueles lançamentos de livros chatos.

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