Dia desses fui visitar meus amigos, companheiros de “trabalho” em uma antiga “rádio pirata” que funcionava numa das pequenas cidades que compõem o Alto Tietê, zona leste da Grande São Paulo. Um deles, que está chegando aos seus vinte anos de idade, tem um brilhante e futuro promissor como locutor – basta querer.
Nessa visita, descobri que esse amigo conheceu um cara batuta, ligado a um partido político. Sujeito persuasivo, que conhecia o trabalho dele nas ondas sonoras e nos megafones da praça central. Achou que poderia ser um jovem, carismático e bem aceito candidato a vereador.
“O quê? Tá louco! Vê lá onde vai se meter”, retruquei, quando soube da história. Já era tarde. Sua candidatura já estava oficializada, após a convenção do partido no município. Antes, precisou tomar uma decisão importante: ou investia suas economias num carro usado, ou queimava em campanha eleitoral. Optou pela segunda. Ou foi convidado a optar, vai saber.
O fato é que a criatura, ainda na efervescente adolescência, mal sabia me responder qual seriam seus projetos e sua postura na câmara municipal. Balbuciou algumas coisas relacionadas a “jovens, educação e, se der também, asfalto”… Não me parecia muito seguro de suas opiniões. Mas por outro lado, mostrava uma confiança impressionante.
“Com uns quinhentos, seiscentos votos, eu consigo me eleger. Não é difícil. Contando a minha família e os meus amigos, já tenho alguns. Tem também os militantes da campanha, que vão receber o deles depois de votar em mim. Faço muitas visitas nos bairros, converso com toda gente, espalho algumas faixas e faço minha presença”.
Não adiantava falar que, na maioria dessas cidades pequenas, a renovação das cadeiras legislativas é muito baixa – é mais fácil para o povo escolher aqueles que já estão trabalhando. Sem falar que os grandes favoritos gastam muito mais que o valor de um carro usado para promover sua candidatura. Não adiantou. Meu amigo estava “catequizado”.
Hoje descobri que o candidato mais votado da cidade ultrapassou a marca dos dois mil votos. O último dos poucos eleitos abocanhou pouco menos de 800 votos.
E o meu amigo conseguiu heróicos 165.
Quem seria capaz de me explicar por que diabos alguém pretensamente esclarecido embarca em uma coisa dessas? Podemos dizer que foi só para “pegar expperiência”, e que o futuro deste meu amigo candidado, a partir desta eleição, é tão promissor quando sua carreira de locutor?
Como diria a finada dona Milú, mistééério…
Amigo da onça – Tenho outro ex-companheiro de microfone corsário que inventou de sair candidato, na cidade vizinha – um pouco maior. Mas esse é um baita picareta, não merecia ganhar mesmo. Valeu a torcida contra: recebeu apenas onze votos. Dá até a impressão de que o povo aprendeu a votar!
Se bem que, separando alguns nomes eleitos na câmara paulistana, além do nome do virtual candidato favorito para prefeito, podemos esquecer essa impressão.
Oi, Marmota, tudo bem?
Pessoalmente, acho que é exatamente a mesma ilusão que leva meninas a quererem posar nuas, virar dançarina de pagode ou axé e que faz os rapazes quererem ser jogadores de futebol: é o apelo do $$$ fácil. A descrença no trabalho diário e a desvalorização do trabalhador que labuta com horário marcado. Minha opinião….
Beijo, Ju
Wadih Mutran ELEITO???? Definitivamente, o paulistano não sabe votar..
Abraços!
Além do ótimo texto, é bom rever Miriam Pires, grande atriz e recém falecida, na figura sobre Dona Milu… Grande abraço, parabéns pelo site.
Jose Anibal candidato a vereador mais votado, e Jose Serra virtualmente futuro prefeito, sao de embrulhar o estomago. A classe media “esclarecida” de SP conseguiu fazer o estrago que tanto queria. Pobre periferia, triste perspectiva. As vezes da vontade de ficar em Toronto pra sempre…Abracao!
Complicado falar de política em blog…
Eu votaria no Serra. Sem dúvida.
Uhn… acho que sei quais são essas cidades!!!! Na minha, o vereador mais votado teve quase 6 mil votos. Pasmem. O que será que ele fez para conseguir conquistar tantos eleitores, hein? Mistééé..rio….
Assim você me desanima… estava pensando em me candidatar a vereador em alguma cidadezinha de Goiás. Isso, claro, daqui a alguns anos.
Hehehe! Acho que o povo aprendeu a votar sim.
Aprendeu que, pior que votar nos “maus”, é votar naqueles que prometem mudar tudo, ostentam a bandeira dos trabalhadores, e fazem as mesmas merdas.
Aliás…o tããão prejudicado imcomPTência, quem diria, vinha sendo desavergonhadamente favorecido nas “pesquisas” do IBOPE. Ah…mas é foi um erro…acontece, né? Quando é para os outros partidos é roubalheira, agora quando é para o clone da Ana Maria Braga…