A palhaçada desavergonhada do leite adulterado com soda cáustica, acetona e outros quetais, somado à descoberta do momento (o queijo com embalagem reciclada), está longe de ser a informação mais impactante dessa história de horror. Essa semana ouvi um professor da Universidade de Viçosa, referência em agronomia e pecuária, dizer que “há mais de vinte anos denuncia esse tipo de coisa”. VINTE ANOS!!!
Esse tipo de fraude absurda, demonstrando a completa fragilidade nos meios de fiscalização, só reforçam uma perigosíssima generalização: a de que todo produto industrializado tem alguma química nefasta, e por isso não presta. Vou mais longe: episódios recentes relacionados à falta de higiene destacaram o parasita no salmão descongelado, o caldo de cana com bicho barbeiro, o açaí com mal de chagas, entre outras disfunções sanitárias. A medida em que peixes, frutas, leite, frango gripado, boi enlouquecido e toda sorte de trangênicos continuarem na moda, comer vai ser um desafio cada vez maior.
E olha que estamos falando apenas em alimentação equilibrada, apenas um dos pilares que sustentam a saúde humana. Viver em uma metrópole como São Paulo implica não apenas em almoçar em restaurantes com alto potencial de gordura impregnada, mas também lidar com o estresse – seja no trabalho ou simplesmente nas longas horas de trânsito. Um ritmo louco que só serve para amplificar paranóias e alimentarmos nossos pré-julgamentos.
Enfim, eu também já penso em incorporar tal egoísmo que impera nas relações humanas – mas sem a vontade estúpida de levar vantagem em função do mal alheio. Basta executar o que já havia pensado em minhas últimas divagações sobre os tais problemas urbanos. Vou dar adeus ao supermercado, pegar minha família e levar para o meio do mato. Pode ser no Rio Grande do Sul ou aqui perto, em Mogi das Cruzes. Vamos comer apenas aquilo que plantarmos: eu, meus pais, meu irmão e a nossa vaquinha 100% orgânica, item que tem tudo para virar obrigatório mesmo na cidade grande. A “mimosa” terá funções vitais, como providenciar leite e adubo fresco. Por ela, seria capaz até de viver à base de soja. Ah, sim: tudo isso com banda larga e wireless. Por que não usar blogs para pagar as contas?
Claro que o mundo ideal está bem longe desse. Seria bem mais fácil alguns sujeitos mal-intencionados (como alguns produtores de leite) incorporarem de vez algum respeito verdadeiro ao próximo. Até porque, se existir realmente alguma seleção natural, a extinção não vai chegar apenas aos donos de vacas orgânicas, mas à espécie toda.
Tenho apreciado muito seus posts, pulei o da viagem, logo aliiii. A veia político-populista só pode ser do RS; é ótima. É legal ler alguém indignado que defende conceitos como pobrema, probrema e problema, por exemplo. Nem que seja por “espírito de porco”.
A solução amor e uma fazendola é retórica. Para fazer queijo você precisaria de mais que uma vaca. Vivemos em sociedade há séculos. Há que exigier dos poderes constituídos cumprimento às leis. Como se faz isso eu não sei. Aqui nos EUA pagamos uma fortuna pela comida orgânica, regulado o rótulo pelo governo. A nossa solução é cortar certos produtos da lista, O que era para o ano todo viru de estação devido à alta nos preçøs de comida e da gasolina.
Mas come-se. De tudo da estação.
Absurdo, né não?
Belíssimo texto!