Nos últimos meses, provavelmente você já decorou todas as regras da Nova Ortografia. Tudo já foi dito, todos já contestaram e reclamaram – tanto aqui quanto em Portugal, onde há um forte movimento contrário. Enfim, o melhor texto que vi sobre as mudanças foi do Mario Amaya – que, curiosamente, repetiu A História do Mundo de Mel Brooks e limitou-se a escrever apenas a “parte 1”.
De toda forma, concordo com o Tuca: os pensadores por trás da reforma perderam a grande chance de ouvir quem realmente usa o português diariamente e adotar algumas expressões correntes, como “asterístico”, “a nível de” e “enquanto”. Para ir além no debate e colaborar com possíveis discussões a respeito do tema, desenvolvi ao lado do amigo Narazaki uma série de modificações, que podem cair ao gosto do povo.
Apresentamos agora a Nova Novíssima Reforma Ortográfica da Língua Portuguesa:
– Fim do acento grave. Existe uma espécie de divisão soberana entre os luso-parlantes que sabem reconhecer um “a” formado por preposição e artigo do resto. Como se esta informação fosse capaz de separar as criaturas do meu círculo social de amizades da ralé ignorante e desprezível. Para estimular esta união e acabar com as diferenças, derrubamos o acento grave. Aproveitamos para resolver um problema corriqueiro: quantas vezes você não se sentiu um tremendo idiota ao se perguntar “tem crase aqui?”.
– Fim do hifen. Ao invés de resolver o problema, a atual reforma complicou tudo, derrubando o hifen de substantivos compostos que mantenham unidade semântica. Até hoje não sei se “rádio-relógio” tem hifen ou não. Da mesma forma, esse tracinho (que serve ainda para acompanhar pronomes) é sempre confundido com o travessão. Sem falar na trivial separação de sílabas em frases mais longas – coisa que nem todo mundo sabe fazer. Logo, acabamos com o hifen para sempre e pronto!
– Fim do ponto e vírgula. Certamente alguém poderá questionar o fim do acento grave e do hifen, mas duvido alguém apresentar algum argumento palpável para a manutenção do ponto e vírgula. “Ele serve para dar uma pausa maior”, entre outras atribuições como enumerações, supressões… Essas coisas que ninguém sente falta. Só existem duas funções claras para este sinal atualmente: associá-lo ao Wagner Montes ou exibir um smiley piscandinho. Nada além disso: fora com ele.
– Fim do H. Ninguém pronuncia o H. Tal falha na prosódia faz com que sua existência seja completamente desnecessária. Angar, aver e oje podem parecer monstruosas, mas leia outra vez: faz diferença? “E ouve, é do verbo ouvir ou aver?” Ué, depende do contexto, como em qualquer idioma decente. Quanto aos fonemas do LH ou NH, basta trocá-lo por i. Assim, sua mãe terá que ter cuidado para “coziniar uma galinia velia”. Simples assim.
– Fim do tu/vós. É muito estranho para qualquer pessoa chegar a uma sala de aula e exercitar tempos verbais diante dos pronomes “tu” e “vós”. Apenas alguns estados do Nordeste e o sul do Brasil (de maneira equivocada, diga-se) usam estes arcaicos pronomes de segunda pessoa. É você ou vocês, não acham?
– Revisão das conjugações. Já que falamos em verbos, por que não incorporar algo que funciona perfeitamente no inglês: vamos acabar com mais da metade destas variações. Até porque, o que vai determinar o direcionamento das ações é o pronome pessoal. Assim, o verbo ir no presente do indicativo ficaria: eu vou, você vai, ele vai, nós vamo, vocês vão, eles vão. Pegou? O próprio verbo estar também seria simplificado, dentro das regras mais populares: eu tô, você tá, ele tá, nós tamo, vocês tão, eles tão.
– Fim da desinência de plural. Percebeu como, além de determinar o sujeito da ação do verbo, o pronome também indica singular ou plural? Por que diabos concordar qualquer substantivo, desperdiçando “esses”? Dois pastel, oras. Está claro que é dois pastel.
– Fim do mais-que-perfeito. Coisa mais desnecessária diferenciar um passado de outro ainda mais passado. Já está bom demais diferenciar pretérito perfeito do imperfeito, além de entender o uso do subjuntivo e o condicional. Aliás, só por conta disso valeria repensar essa quantidade de tempos verbais nostálgicos. Vamos pensar pra frente.
– Igualdade entre pronomes pessoais. Você sabe a diferença entre “eu” e “mim”? Normalmente “mim” não faz nada, por ser um pronome oblíquo. Mas convenhamos: nem todo mundo leva isso em consideração. Por que não considerar estes dois tipos equivalentes? Será melhor assim, para mim escrever da maneira como der na telha.
– Gerúndio liberado e sem o D. Por fim, se não podemos com o gerundismo, aceitamos e pronto. Vou mais longe: com a natural utilização do gerúndio ao invés dos tempos futuros, não vai demorar para que o “D” também ir pro saco. Logo, se “estar fazendo” é horrível, acostume-se com “tá fazeno”.
Enfim, se tivé outras sugestão, você pode tá comentano. Enquanto isso, vô ali no terreiro catá umas galinia veia pra mim tá cozinhano oje a noite.
O não também pode virar naum! Tudo bem, tem uma letra a mais e dá mais trabalho pra escrever, mas já que é pra assumir todas as manias coloquiais, então vamo nessa! 😀
Abraço! Esse post ficou ótemo!
Minhas sugestão: morte ao pronome VÓS. Só usavam esse pronome nos tempos biblicos…
Para os verbos, creio que deveríamos adotar a conjugação binária, “eu e os outros”:
. Eu vou
. Os outros vai
Assim:
. Eu vou
. Tu vai
. Ele vai
. Nós vai
. Vós vai
. Eles vai
Fácil, fácil 🙂
Assino embaixo, começando pelo ífen (sem “h”, né?), o “traço de uniao que separa duas palavras”.
(acho que é do MIllor essa definição)
A nível de Nova Novíssima Reforma Ortográfica da Língua Portuguesa devo discordar da queda do H, afinal, nomes belos como Helena ficariam prejudicados.
Também devo te lembrar que a nível de uso de tu, os paraenses também usam muito e são nortistas.
Como sugestão, permitiria o uso de “há muito tempo atrás”, que eu enquanto professora de português e jornalista adoro usar.
Beijo! 😉
Menino! Essa sua reforma seria um arraso! Um arraso total com a forma culta! kkkkkkkk
Em tempo: qual o plural de arroz? E de mel? Tive um curto-circuito e fiquei na dúvida… me perguntaram esses dias e não soube responder!
“tempos verbais nostálgicos. Vamos pensar pra frente.”
Rolei de rir!!! É uma nostalgia mesmo esse monte de passado, hahahaha!!
Ótimas regras, Marmota!
hahahahahaha
Realmente, o “tá fazeno” é clássico!
🙂
Por pura preguiça, quando conjugo o verbo ‘estar’ no passado, troco o V pelo R. Algo como “eu tarra fazeno”. Bem mais simples.
😀
Muito bom ! Ri demais (:
O melhor da sua reforma é a gente poder só relaxar pra usar, hahahahah…
Como assim, “ninguém usa tu”? Tu ficou doido? Tu pirou? Tu enlouqueceu? Se tu estiver se referindo à (opa) conjugação da segunda pessoa do singular, eu até te entendo;(epa) porém, o pronome fica! E pronto!
(Aliááás, eu tenho pra mim que o único lugar onde se usa “você” é em SP, MG…e na TV. Todo o resto do Brasil usa tu. Opa, isso ficou dúbio.)
Quanto à (opa) desinência de plural, eu não sei. Raramente uso plural, pois acho MUITO pedante usar plural. Prefiro contorná-lo – um monte de pastel, muito pastel, pastel pra caramba, uma carrada de pastel, quanto pastel! – mas dificilmente eu diria dois pastel ou cinco ovo…
E quanto a tirar o D do gerúndio, eu fico com a Cyn: aí já é muita iskuliambaçaum.
Muito didático…rs!
Beijos nossos,
E só deu pra mim tá leno esse texto oje! Muito bom! 😀
Pelo cunho das tuas propostas, sugiro que você se candidate à prefeitura de Sulacap!
Pra quem perguntou ai, o pl. de arroz é arrozes
E o pl. de mel é ‘méis’ ou ‘meles’ 😀