Não vai acontecer mais nada nesse jogo

Esses dias a Marília Alvarenga, certamente uma das maiores fãs entre os nossos doze visitantes de sempre, fez um registro indignado, praticamente duvidando da capacidade torcedora brasileira em relação aos argentinos.

“Tenho que discordar de você quando fala que a torcida do Boca é especial. Acho que você ainda não teve o grande prazer, a honra, de sentar-se nas arquibancadas do Mineirão em dia de jogo do meu Galo! Cara, não existe igual. É a maior torcida do mundo! Porque ser atleticano, ter forças para viver a emoção que transcende… Vai além, vira coletivo, superlativo, vira força… E explode “na maior felicidade”, fazendo o time sair de qualquer adversidade. Atleticano, como disse Roberto Drumond: se tiver uma camisa do Galo estendida em um varal, e o vento soprar contra, nós torcemos contra o vento… A Massa é a maior torcida do mundo, André. Aprende isso, menino!”.

Marmota no MineirãoNão pude argumentar com ela graças a uma razão imperdoável: eu não conhecia o famoso Magalhães Pinto, o terceiro maior estádio do país, apesar de conhecer histórias envolvendo a inebriante atmosfera das arquibancadas. Uma visão que ficou bem nítida em 2006, quando os alvinegros deram um show ao empurrarem a equipe com toda força de volta à primeira divisão.

A chance de ouro veio numa rápida viagem que fiz a Belo Horizonte. Final de semana que calhou de ser o mesmo de Cruzeiro x Atlético, um dos maiores clássicos do futebol brasileiro. A perfeição esbarrava em um detalhe infeliz: meu vôo de volta estava marcado para o final daquela tarde, em Confins. Fiz o que pude para trocar a passagem, mas tudo que consegui foi tempo suficiente para acompanhar ao menos os primeiros 45 minutos de partida. Se você estivesse no meu lugar, o que você faria?

Marmota no MineirãoEu não tive a menor dúvida: eram quase duas da tarde e lá estava eu, num táxi, em direção à Pampulha. O motorista, um poço de tranquilidade, era um atleticano que ajudou a construir o estádio, entre 1963 e 1965. Muito de seu suor estava ali, mas há anos ele não sentia vontade de acompanhar o seu Galo em campo. “É muita violência”, lamentava, enquanto contemplava as obras recém-inauguradas na Avenida Antônio Carlos. “Mudaram recentemente, mas o trânsito continua o mesmo”. Isto é Brasil.

Desembarquei próximo ao campus da UFMG, exatamente no lado atleticano do estádio. Ainda tinha um bom tempo sobrando, o suficiente para comprar meu ingresso (só esbarrei com três cambistas, todos inofensivos) e dar uma boa caminhada pelos arredores amplos e arborizados do estádio. Em uma análise superficial, cruzeirenses e atleticanos eram praticamente divididos em meio a meio – se bem que uma pequena fanfarra azul, ainda no estacionamento, tratava de ganhar pontos no quesito animação.

Marmota no MineirãoAinda faltava pouco mais de uma hora quando decidi entrar no estádio. Estrategicamente, mantinha um jejum de algumas horas: tudo para degustar o feijão tropeiro do estádio, verdadeiro folclore local. Com cinco reais, é possível encher o pandu de feijão cozido com farinha, arroz, torresmo, couve, molho vinagrete, carne de porco assada e um ovo frito em cima. Para os locais, aquele pratinho com talheres de plástico (e sem cerveja, cuja venda é proibida) deve ser um tremendo sacrilégio à tradicional comida mineira. Sem falar no Zé Ruela, que ignora as regras de boa convivência e leva a iguaria para a arquibancada. Imagine onde vai parar a sujeira descartada: ou no chão ou na cabeça de alguém… Mas olha, tava bem gostoso.

Hora de me acomodar em uma das cadeiras superiores e presenciar o início do espetáculo. A medida em que as pessoas chegavam, aumentavam as trocas elogiosas entre os adversários (a preferida revela que o “Cruzero a bicharada do Brasil”, seguido por paus enfiados em lugares impróprios para o horário). O imponente galo inflável reinava soberano, até um helicóptero pousar no meio do gramado e trazer Raposão, a mascote cruzeirense. Eu ainda não tinha ouvido falar em um boneco tão importante assim…

Então as equipes entraram em campo – primeiro o Cruzeiro, para dar espaço aos fogos, bandeirões, fumaça e papéis picados na cor azul. Do meu lado da arquibancada, só se ouvia “arerê, o Roni vai voltar pra série B”, em alusão ao artilheiro do Galo na Segundona ano passado, atualmente vestindo a camisa celeste. Finalmente, foi a vez do preto e branco tomar conta do estádio, com a presença do escrete atleticano.

A animação da torcida é realmente contagiante, mas com a bola rolando, os mineiros se comportam exatamente como os demais torcedores brasileiros: alguns poucos cantam o tempo todo, mas a imensa maioria acompanha o duelo naquele “senta-levanta” típico de missa dominical. Para desespero do professor Idelber, aquele certamente foi um dos piores momentos do Atlético neste campeonato. A equipe não conseguia atacar, enquanto a defesa cochilava diversas vezes. Os dois gols cruzeirenses na primeira etapa foram idênticos: Roni sem qualquer marcação avançando livremente e cruzando sob medida para Araújo.

Preocupado com o meu vôo de volta, e depois de um início de jogo tão sonolento, não pensei duas vezes em deixar o Mineirão no intervalo. A caminho de um táxi, próximo à Igreja de São Francisco e na beira da Lagoa da Pampulha, ainda telefonei para o Narazaki, grande fã do Mineirão – e que certamente não perderia a chance de estar ali, se pudesse. Enfim, talvez fosse melhor ter ficado quieto.

Marmota no Mineirão“Falestúpido! Sim, estou no Mineirão, mas já estou de saída. Infelizmente, mas eu tenho que escolher: ou eu perco o meu vôo, ou perco o segundo tempo. Mas olha, ao menos conheci o Mineirão e me diverti com as torcidas. E quer mesmo saber? Esse primeiro tempo foi broxante mesmo, vou embora feliz pois tenho certeza de que não vai acontecer mais nada nesse jogo”.

Juro que não escolhi, mas o taxista que me acompanhou até o aeroporto era um cruzeirense, que ouvia a narração do Willy Gonser e os comentários do meu amigo Júnior Brasil, da Itatiaia. Nessa altura do campeonato, o Atlético havia simplesmente empatado o jogo nos primeiros quinze minutos de segundo tempo, tornando a partida eletrizante. “Ué, o Galo acordou?”, comentei, espantado, para desespero do motorista. Dez minutos depois, o Atlético ganhou de presente a chance de virar o jogo: um pênalti de Leo Fortunato sobre Thiago Feltri.

“Puxa vida, acho que o pé frio era eu, hein? Foi só eu sair do estádio e o Galo começou a reagir”, brinquei. Na verdade, queria ter dito algo como “que diabos estou fazendo aqui nesse carro, porra?”. O motorista soltou um grito de alegria ao ouvir que Gatti defendeu com o pé a cobrança de Marcinho. Vibrou ainda mais quando Guilherme e Ramires ampliaram o marcador, transformando o clássico daquele domingo em uma das partidas mais sensacionais de todos os tempos. E que eu não vi, mesmo estando lá.

Dos males, o menor: ao menos já posso concordar com a Marília. Sem falar na eterna lembrança da frase “não vai acontecer mais nada nesse jogo” em minha mente.

Comentários em blogs: ainda existem? (4)

  1. Oi André…
    somente agora, dez e cinquenta e nove da noite, pra ser bem exatinha, estou tendo tempo pra passar aqui.
    realmente não sei se te torço o pescocinho ou se morro de rir!
    “antes não tivesse acontecido mais nada naquele jogo…foi terrivel…quero nem lembrar…

    aqui, será qui num foi vc? cê é tipo pé frio??? fala sério André…
    mas , menino cê tem coragem de dizer que a torcida do Galo é igual a todas??? mesmo depois do video que gravou? da emoção que sentiu?
    cara, RATIFICO meus dizeres do comentario com o qual vc começou seu texto de hoje…
    A Massa é a maior, e amanhã tamo lá… è contra o grêmio…Olha, sou gremista lá, por que contra o Galo, eu não sou nem Brasil… não tem jeito…
    tá no hino, tá no grito na garganta:
    – lutar, lutar, lutar, esse é o nosso ideal..clube atletico mineiro ,galo forte , vingador…
    rssssssss
    valeu o post e me sinto honradíssima com muitos esssseesss em ter participado um pouquinho de sua decisão de assistir o maior clássico do Brasil.
    abração, e bom fim de semana…

  2. Meu caro, essa saída sua do Mineirão vai ficar marcada como uma das maiores gafes da história, só comparável à minha saída aos 42 do segundo tempo do que até então era um Milan 2 x 0 Atlético, jogo que o Galo empatou heroicamente nos últimos minutos. A Marília tem toda a razão: como a Massa, não há. Torcer para o Boca Juniors é fácil, isso qualquer cruzeirense faz. Grande abraço aqui de Parati!

  3. ahuhauahuahahuahuhauahuahauhauhauahauhua

    os pateticanos até hoje tentam segurar essa mentira que há muito tempo foi desmascarada!!! a torcida do patético mineiro é a coisa mais ridícula que eu já vi, não cantam, não vibram, passam todo o jogo assentadas e caladas e ainda vaiam o timeco todos os jogos. kkkk grande torcida essa. Lembro-me do 1º jogo de 2006 no mineiro quando voltaram da segundona, era de se esperar que as galinhas fossem ao campo pois estavam de volta a serie A. Mas o que viu foi um masacre nas arquibancadas, a FANÁTICA torcida CRUZEIRENSE calou e humilhou novamente a fraca sofrida pateticana. Quer mais uma? No último”clássico” o CRUZEIRO deixou o time pequeno de 4 e a fanática torcida azul fez a festa o jogo todo, no intervalo como de costume também não parou de apoiar e todos reporteres de fora diziam: ” contra o CRUZEIRO a torcida do atlético-mg fica sempre assim, calada e assentada? não era isso que que me falavam dela não” kkkk ACABOU A MENTIRA!! tá provado em MINAS O CRUZEIRO REINA, É O ORGULHO DO MINEIRO, AFINAL TEMOS MAIS GENTE, TEMOS MAIS COPA, E TEMOS PAIXÃO, NÃO SOMOS A FARSA COMO O TERCEIRO TIME DE MINAS.

    VIVA A RAÇA SUPERIOR CELESTE!
    VIVA O CRUZEIRO!!
    VIVA O PALESTRA E SUA FANÁTICA TORCIDA!!

    ZZZZZZZZZEEEEEEEEEERRRRRRROOOOOOO

    CRUZEIRO É PAIXÃO, RELIGIÃO QUE MOVE MULTIDÃO!!

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