Motoristas de São Paulo vão ganhar neste mês um novo aliado para a guerra diária do trânsito: um navegador por GPS portátil, lançado pelo Guia Quatro Rodas, equipamento semelhante ao que já existe em outras regiões do mundo. Vi o brinquedinho pela primeira vez num táxi em Paris, e o motorista não teve a menor dificuldade para seguir do aeroporto de Orly até, a rue Saint-Antoine, perto da estação Saint-Paul do metrô, no centro do Marais.
Aliás, os taxistas da capital paulista deviam ser obrigados a instalar o co-piloto via satélite. Costumo dizer que há uma diferença conceitual entre os motoristas de táxi no Rio e em São Paulo. Os primeiros costumam questionar “qual caminho prefere”: pela praia, pelo aterro, pelo centro… Os segundos perguntam “hmmmm, qual é mesmo o caminho”, tentando lembrar de que lado fica a rua ou o bairro desejado, sem sucesso. Obviamente, tanto aqui como em qualquer lugar, o GPS poderia inibir o espertalhão, aquele que dá cento e duzentas voltas para percorrer alguns quarteirões.
Mas enfim. O navegador portátil vai custar R$ 2.300, praticamente cem vezes mais que o bom, velho e indispensável guia de ruas tradicional. No atual estágio, a relação entre custo e benefício não compensa, já que o novo equipamento faz o mesmo serviço de um colega treinado no banco do passageiro. E sem a voz metalizada na frase “vire na próxima à direita”.
A coisa deve mudar, evidentemente, com a evolução do navegador. Um acordo com a CET, por exemplo, pode fazer com que o aparelho ajude os motoristas a fugirem das vias congestionadas, traçando rotas alternativas no mesmo instante. Como ainda é possível sonhar sem multas ou pontos na carteira, por que não um equipamento programado para executar as irremediáveis paulistadas?
Aqui cabe uma definição para derrubar qualquer má interpretação. Paulistada não é sinônimo de barbeiragem, ou seja lá como você define. A barbeiragem tradicional é inconsciente. Acontece quando o cururu não sinaliza, ignora os retrovisores, acelera ou freia na hora errada… Situações provocadas por imprudência, imperícia ou ingenuidade.
A autêntica paulistada é consciente. Todo paulistano, especialista no complexo trânsito de São Paulo, acredita que sabe quais são os melhores momentos para ignorar o sinal vermelho, o aviso de retorno ou conversão proibidos, mudar de faixa ou piscar a luz alta sem pedir licença… Normalmente a paulistada funciona, aumentando a confiança – e, porque não dizer, a arrogância – do motorista, que sempre vai ter razão.
Claro que, de acordo com a lei, esses momentos nunca deveriam existir. Mas já que a paulistada é inevitável, ao menos que seja com segurança, garantida pelo sistema de navegação via satélite. “Para chegar ao seu destino, siga sempre em frente, vire à direita a 500 metros, depois à direita e novamente à direita. Aguarde no cruzamento e espere o sinal verde. Agora, como são três e meia da manhã… Quer mesmo saber? Encoste antes do semáforo à esquerda, ligue à seta e espere o sinal vermelho… Não, não precisa, agora não vem ninguém. Vai, agora, ninguém está vendo mesmo…”.
Tudo bem, depois que o país inteiro se comoveu com cinco jovens mortos num acidente, alguém pode dizer que o “módulo paulistada para o GPS” não seja uma boa idéia. Concordo. Talvez fosse mais útil um “bloqueador etílico”… Enfim, não se trata de uma apologia ao crime no volante, mas sim uma constatação seguida por uma mensagem: mantenha a responsabilidade ao dirigir por você e pelos demais motoristas, e assuma os riscos de suas paulistadas, especialmente as aparentemente inofensivas.
É por essas e outras que peguei pânico de dirigir…E não há GPS que resolva…Outro dia peguei um táxi e gastei a maior grana, e o carro mofando aqui na garagem. Quando fui comentar com o taxista que preciso superar meu medo de dirigir ele me aconselhou a não “forçar” se não consigo.Por que será? Hehehe
Uma vez aluguei um carro nos EUA que vinha com esse GPS> Chamava-se “Never Lost” – adorei o nome ;). Que maravilha, que tranquilidade! Acredito que seja um equipamento indispensável para se dirigir em SP. Tomara que o preço baixe logo.
Os motoristas cariocas, de um modo geral, estão cada vez mais irresponsáveis. E não estou falando apenas de dirigir alcoolizados ou de fazer barbeiragens (dentro da sua definção). Acredito que a impunidade é que está levando as pessoas a respeitar cada vez menos as leis de trânsito por aqui.
Não vivo mais sem um brinquedinho desses…
Existe um projeto brasileiro sobre GPS para construir um database de POI’s (point of interest):
http://www.tracksource.org.br
Sds.
André, em São Paulo (e em muitos outros lugares) deveria existir um sistema “Empaca, Burro” (funciona sem virgula, também). Ao sentir o bafo de pinga (ou outros odores que denunciem o estado chapado do motorista) o carro simplesmente não anda.