Marmota indica: Nanako

Não lembro quando foi (2003, acho), mas lembro de uma antiga capa da Vejinha, estampando uma surpreendente manchete: algo como “São Paulo tem mais restaurantes japoneses do que churrascarias”. Talvez a briga entre os dois permaneça acirrada nos dias de hoje – pela disputa ao segundo lugar, já que a pizza é uma instituição paulistana. Em alguns casos bizarros, os donos dos bons e velhos rodízios carnívoros colocam, ao lado da salada, uma porção de sushis. O glutão aqui, é claro, já cometeu a blasfêmia de colocar peixe cru, carpaccio, rondeli, arroz, banana frita e picanha no alho no mesmo prato.

Enfim. A presença da culinária japonesa nos hábitos alimentares do paulistano teve um baque muito forte no primeiros meses de 2005. Descobriram um parasita no peixe cru, responsável por alguns casos de indisposição abdominal. Aliás, aquele semestre foi propício a disfunções sanitárias em produtos considerados saudáveis: além do salmão descongelado em São Paulo, tínhamos o caldo de cana com barbeiro no litoral catarinense e o açaí com mal de chagas no Amapá. Só faltava descobrirem o germe do macarrão, o bacilo da banana e a epidemia da feira livre: assim eu trocaria definitivamente o sashimi por enlatados e transgênicos.

Até que o tal parasita sumiu e as casas do ramo, que sofreram com a queda de clientes, voltaram à baila – para alegria de consumidores felizes, como eu. Sempre que posso, convido alguém para se esbaldar nos tradicionais rodízios de sushi. Durante um bom tempo, o lugar mais popular nessa linha foi o Kazan, mas de tão badalado se tornou impossível: longas filas que repercutiram no atendimento e na qualidade dos pratos. Melhor dar um pulo no Yoko Zuna, o preferido da Lu, bem mais aconchegante. Gosto também do Mori, o campeão em invencionices saborosas: harumaki de salmão com cream cheese, peixe-prego ao shoyu com requeijão, queijo coalho com mel e lula recheada de shimeji.

Agora, se existe um lugar onde a tradição é preservada e a apresentação salta aos olhos, como deve ser a tradicional cozinha japonesa, chama-se Nanako. Foi uma ex-namorada que me apresentou a esse cantinho, dizendo que “seu sonho era comprar aquele restaurante da família Ebara e Ishiba”. O simples fato de voltar lá e ignorar este detalhe sentimental, que normalmente faria com que eu jamais pusesse os pés lá novamente, já dispensaria nossa apresentação de praxe. De qualquer forma, vamos a ela.

Localização: ****MUITO BOM. O site oficial do restaurante apresenta cinco unidades na capital: Brooklin, Centro, Perdizes e Berrini são as filiais da unidade que eu conheço, em Moema (Av. Lavandisca, 627). Para quem vai a pé, são poucas quadras da Avenida Ibirapuera ou da Diogo Jácome. Quem for de carro encontra estacionamento ao lado (dependendo do horârio, também dá pra parar na calçada).

Ambiente: ****MUITO BOM. Esqueça a modernidade dessas casas novas: inaugurada nos anos 90, os detalhes da tradição japonesa (ambiente tranquilo, lanternas no teto, carpas no aquário, fonte iluminada) contrastam com aquelas antigas estrelas do Guia Quatro Rodas, muito comuns há umas duas décadas. Simples sem ser simplório.

Atendimento: ****MUITO BOM. Apesar do esquema “self-service”, os garçons são sempre atenciosos, e estão sempre de olho nas mesas para garantir pratos limpos e copos cheios. Se bem que eu nunca testei a cordialidade deles, perguntando logo de cara “para que serve essa toalhinha quente embalada no saquinho de comida congelada”. Quem sabe na próxima vez.

Acepipes: *****ÓTIMO. Você pode até pedir o cardápio e se refestelar com um prato só. Mas o diferencial do Nanako é o buffet completo, com um pouco de tudo. E sem invencionices, como aquelas coisas com abacate e maionese: guioza, trouxinha de camarão, lula empanada, tempurá de legumes… Mas a vantagem está no sushi e sashimi à vontade – coisa que a maioria não faz. Fique atento ao desperdício de comida: pode ser fatal.

Preço: **OPS… Bom, nem tudo é perfeito. Restaurante japonês normalmente já é caro, e comparado com o Kazan ou o Yoko Zuna, o preço do Nanako realmente é mais salgado. Se bem que, dependendo do tamanho da fome, a conta fica até justa. Só não deixe de reservar alguns cruzeiros para dar um pulo na Ofner da Avenida Ibirapuera e fechar o momento gastronômico.

Avaliação geral: ***BOM. Para os iniciados na nobre arte de sustentar fatias de peixe cru ou bolinhos de arroz enrolados em algas usando apenas duas varetas de madeira, ou para os experts que costumam lembrar aos amigos da mesa “o molho shoyu é para molhar apenas o peixe, não o arroz”, o Nanako é o local ideal. Só não dá pra ir toda semana. Bom, uma vez a cada três, quatro meses, vai.

André Marmota tem uma incrível habilidade: transforma-se de “homem de todas as vidas” a “uma lembrancinha aí” em poucas semanas. Quer saber mais?

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Comentários em blogs: ainda existem? (3)

  1. Como morador de Vitória-ES, me resumo às pizzarias daqui. No máximo, um China In Box pra variar!

    hehehhehe

    Muito bons os links que vc citou no meme parecido com o Schmooze.

  2. Aqui em beagá tá difícil encontrar um restaurante japonês bom. Medianos existem, mas sempre pecam nos detalhes. E se não é para reparar nos detalhes, acabou-se a culinária japonesa.

    Valeu a sugestão…

    abraço

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