Marmota e o futuro

– Comecemos este último episódio da série com a incrível manchete de um periódico porto-alegrense do dia 3 de janeiro de 2004: “Repercute na imprensa internacional decisão brasileira de fotografar e colher digitais de viajantes norte-americanos”. Sim, amigos jornalistas: esta era a manchete, em três linhas, seguido por uma foto estúpida e sua legenda de oito linhas – esse “combo” ocupava 80% da primeira página…

– Mais do que a sensação desagradável, seguido por um “que coisa feia”, aquele jornal me trouxe algo ainda mais estranho: quem sabe algum dia esta este o meu local de trabalho. Antes de prosseguir, um alerta imprescindível: apesar dos pesares, adoro o meu atual emprego. A questão da mudança envolve, entre outros fatores mais complexos, a possibilidade da minha família voltar para a “querência”, o lugar de onde vieram.

– Independente da família ou mesmo dos tais fatores complexos, sempre cogitei seriamente uma mudança radical na minha vida: largar a agitada metrópole paulistana e morar no sul do Brasil. Lugar bem menos agitado, porém com um mercado de trabalho de dar medo. A começar pelo naipe dos veículos – duvido que seja por culpa dos profissionais, provavelmente é obra da mesma crise que, vez ou outra, faz barulho também no eixo Rio-São Paulo.

– Diante disso, o único alento para o olhar de um aventureiro é a RBS. Grupo de comunicação mais poderoso daquelas bandas, é a mais antiga afiliada da Rede Globo no país, além de liderar em audiência também no rádio (Gaúcha e Farroupilha no AM, Atlântida e, agora, também a Itapema no FM) e nas bancas (Zero Hora e o Diário Gaúcho, uma espécie de “Notícias Populares”).

– Alento? “Estou aqui há quase oito anos, e todas as vagas que abriram na redação foram absorvidas”, revelou um amigo do Zero Hora, num almoço pré-embarque para São Paulo. Ou seja, mesmo a RBS, em situação melhor que as demais, parece seguir o mesmo caminho sem volta: enxugar custos e manter a produtividade com equipe reduzida. A coisa é triste, minha gente.

– E quem sabe em Pelotas, cidade provinciana mas grande o suficiente para exercer com galhardia a nobre arte da imprensa? Outra roubada: o único jornal da cidade – já centenário – tem o carinhoso apelido de “O Corninho”, por ser sempre o último a saber das coisas. Dizem ainda que, em suas páginas, já foram vistos press-releases assinados por repórteres do periódico – traduzindo, um escreveu um texto e outro publica, dizendo que foi o autor.

– “Existe espaço na cidade para mais um grande jornal”, conclui uma das testemunhas do descaso com a imprensa local, a Raquel Recuero. Mais do que isso, a professora acredita ainda que um portal de notícias locais, com uma cobertura em tempo real, também seria muito bem recebido. Quem me dera ter o poder de explorar esse nicho! Mas a pergunta que ficou no ar durante nossa conversa, no encontro blogueiro do Otto Taberna: quem investiria nisso em um lugar cuja economia não cresce?

– Por essas e outras, tanto a Raquel quanto os outros heróicos estudantes daquele lugar precisam sair de lá para buscar um lugar ao sol. Foi assim com o meu pai em 1974, é ainda pior nos dias de hoje. O mais absurdo é ter que cogitar a hipótese de fazer o caminho inverso ao da maioria… “São Paulo ainda é a terra da oportunidade”, lembra bem o meu amigo do ZH. “Se você está satisfeito com o que você faz, não tem o que inventar”, complementa a Raquel.

– Divagações, teorias… Formas de ocupar minha cabeça enquanto não trabalho. Seja no Rio Grande ou no Leme, torrando os miolos no sol: “por que não largar o jornalismo e importar para o sul estes deliciosos “bixcoitox globo” ou o espetinho de queijo tostado, que só existe aqui nas praias do Rio?”, pensava.

– A vida é uma sucessiva aparição de clichês: recordar é viver, a vida continua, amanhã é um novo dia e tudo pode mudar. Quem sabe não estarei daqui um ano, na série especial 2004/2005, contando como foram minhas férias em São Paulo?

Comentários em blogs: ainda existem? (5)

  1. “tchê music”… é o desespero falando mais alto.
    não sei se tu reparou nos cartazes. qualquer um desses grupos mais parece uma boyband de bombachas.

  2. Oi, Marmota!
    É, eu também estou pensando muito em algumas mudanças, radicais, até. Mas quando os planos estiverem mais amadurecidos, eu te conto.
    Boa sorte e juízo… Pensa bem, viu? 😉

  3. Olá, Marmita! Digo, Marmota…

    Como sempre, suas férias são show, né…

    🙂

    Até hj tenho guardados aqui os vídeos das férias passadas…

    Que as próximas sejam melhores e assim consecutivamente!

    Bjocas…

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