Holanda campeã mundial (não oficialmente)

Há quem lamente muito o fato daquele esquadrão comandado por Rinus Michels, a popular “Laranja Mecânica”, de não ter conquistado nenhum título mundial quando teve a chance, tanto em 1974 quanto em 1978 – sem o treinador e o líder Cruijff, que moldaram seu futebol total, mas ainda com talento que parou nas armações que encaminharam a Argentina para seu primeiro título. Ainda assim, é uma seleção simpática: só não torci por eles em Copas nos dois confrontos com o Brasil (1994 e 1998) e naquela partida épica diante dos portugueses em 2006.

Agora, pelo menos uma entidade considera os holandeses campeões mundiais – e não estamos falando daqueles brincalhões do IFFHS.

Foi a partir do Ubiratan Leal que conheci o “Unofficial Football World Championship”. Basicamente, é como em uma disputa de título aos moldes dos cinturões de boxe: quem vencer a partida, é o campeão. As estatísticas remontam às duas seleções mais antigas do planeta. Inglaterra e Escócia alternaram a posse da taça a partir de 1872, 58 anos antes de Jules Rimet criar a Copa do Mundo.

A brincadeira foi criada pelo jornalista britânico Paul Brown e inspirada em fãs escoceses, que celebram o fato de seu país ser a maior seleção de futebol de todos os tempos. Isso segundo a UFWC, lógico. Afinal, contando o primeiro confronto internacional de seleções, praticamente apenas ingleses e escoceses se enfrentavam entre 1872 e 1930 – nesse período, País de Gales conquistou seus “títulos mundiais” também.

Esse divertido sistema, que conta qualquer partida oficial da Fifa como potencial decisão, gerou campeões mundiais não-oficiais bastante inusitados. Venezuela, Israel, Coréia do Sul, Antilhas Holandesas, Austrália e Zimbábue, por exemplo, já conquistaram o título. Mais: no período entre 1939 e 1950, quando a Copa foi interrompida pela II Guerra Mundial, o tíitulo continuou em disputa – inclusive com alemães e italianos vencedores.

A seleção brasileira, a “melhor do mundo” segundo a Fifa, é apenas a quinta melhor na UFWC, por ter conquistado o “cinturão” por apenas 29 partidas – foram sete períodos. Uma destas oportunidades coincidiu com uma final de Copa do Mundo: Brasil 5 x 2 Suécia, em 1958. A última conquista brasileira também coincidiu com um Mundial: em 1998, quando derrotamos a Holanda nas semifinais, tomamos o título que acabara de ser tirado dos argentinos, nas quartas-de-final. A faixa durou apenas uma partida, já que os franceses fizeram questão de “unificar” os títulos…

Mas enfim. Os brasileiros estão atrás de escoceses, ingleses, argentinos, russos e holandeses – que, diga-se, são os atuais detentores do título. Além daquela semifinal de 1998, o Brasil teve outro duelo não-oficial pelo título: também numa semifinal, exatamente diante da “Laranja Mecânica” em 1974. Aquele jogo onde, dizem, Zagallo desdenhou da capacidade holandesa, então campeões não-oficiais, e levou 2 a 0. Outra coincidência: houve unificação dos títulos tanto a final de 1974, diante da Alemanha (a “Argentina” deles) quanto a de 1978 contra a nossa rival, já que em ambas a Holanda entrou campeã e saiu frustrada…

É óbvio que, nesse sistema, a única chance do Brasil reconquistar o título é num eventual encontro casual com o campeão não-oficial, seja em amistosos ou em competições oficiais. Por outro lado, prestem atenção no próximo sábado. Além de Brasil e Argentina, teremos outra partida importantíssima: Holanda e Japão, valendo o título da UFWC.

André Marmota acredita em um futuro com blogs atualizados, livros impressos, videolocadoras, amores sinceros, entre outros anacronismos. Quer saber mais?

Leia outros posts em Marmota na Copa. Permalink

Comentários em blogs: ainda existem? (2)

  1. Que máximo isso! Hahaha!

    Mas pra mim, a Holanda é de fato campeã da Copa de 1974. Pronto, não quero saber. A história errou e o destino falhou. Impossível outro resultado mais justo.

    Abraço!

Vai comentar ou ficar apenas olhando?

Campos com * são obrigatórios. Relaxe: não vou montar um mailing com seus dados para vender na Praça da República.


*