Nada como oficializar a série exclusivamente esportiva do MMM com um desses domingos inesquecíveis que marcam nossas vidas. Pois muito bem: neste final de semana, fui conferir, ao lado do meu pai, a etapa paulistana da Fórmula Truck, autodenominada “a categoria automobilística mais popular do continente”. De fato, a competição criada por Aurélio Batista Félix – e estabelecida oficialmente desde 1995, reuniu 65 mil pessoas em Interlagos. Há tempos não via tantos amantes da velocidade e “marias-gasolina” num único dia!
Como fui a paisana, passei longe da área reservada a imprensa. Fiquei no setor A-L, a tradicional e popular arquibancada. Pouco antes da reta dos boxes, num lugarzinho em que mal dava para ver, ao longe, o grid de largada. Pior: mal deu pra assistir ao show de manobras em alta velocidade protagonizado pelo Aurélio, presidente da categoria. Os poucos movimentos arrojados e cavalos-de-pau visíveis, no entanto, provocaram manifestações dos presentes: “ceé louco, meu…”.
Nem todos os presentes pareciam animados. Um cururu – vamos chamá-lo de Chorão, por conta da similaridade com o vocalista daquela banda neopop brazuca – fez questão de desdenhar tudo a sua volta. Além de reclamar da pouca visibilidade, Chorão não poupou o locutor oficial do evento, Ronaldo Gonçalves. O esforçado animador não conseguia entusiasmar o povo mais distante da arquibancada, mas não vi motivo suficiente para Chorão desancá-lo como fez: “mala” foi o adjetivo mais ameno.
A largada, marcada para as duas da tarde, atrasou graças a politicagem de sempre: rasgação de seda para cima dos patrocinadores (o que é compreensível) e da ainda secretária municipal de esportes e futura candidata a uma cadeira da câmara Nádia Campeão (ainda mais compreensível). Até Beto Carrero, que anunciou a construção de um autódromo em seu parque temático, deu as caras em Interlagos. Enquanto isso, o povão encarava as filas do churrasquinho ou refrigerante. Ou se contentava com copinhos d´água em temperatura ambiente ou porções de amendoim. Dois reais cada.
Finalmente, a largada – em movimento – e a corrida. Mesmo sem conhecer nenhum piloto além da ex-playmate-e-sem-terra Débora Rodrigues, não deixa de ser eletrizante acompanhar a passagem de dezenas de caminhões a quase 200km/h. Barulho e fumaceira que valem os R$ 20 do ingresso em troca de uma confortável poltrona diante da transmissão exclusiva da “Errei de TV”. Nas primeiras voltas, todos acompanhavam o espetáculo de pé. Atrás de mim, Chorão sacou o celular: “Mãe! Ligou a TV? Tá me vendo? Estou aqui no começo da reta dos boxes!”. Só faltava falar que era o rapaz de boné branco, perto de um cara de boné azul.
Mas voltando a prova. Tudo conspirava a favor de Roberval Andrade e sua Scania laranja. Até que o caminhão da estreante Danuza Moura vazou óleo, provocando alguns acidentes e a intervenção do “safety truck” – que também é pilotado por uma mulher, Sheren Bueno, para delírio da maioria machista presente (melhor não registrar os gritos da galera). Poucas voltas depois da nova largada, Wellington Cirino, pilotando um chamativo Mercedes-Benz negro, ultrapassou Andrade. Interlagos já tinha para quem torcer: atual campeão da Fórmula Truck e vencedor da mesma corrida em 2002, Cirino havia largado mal – caiu para décimo lugar – antes de se recuperar e assumir a ponta.
“Esse cara é bom”, sentenciou o meu pai, pensamento compartilhado entre a maioria dos espectadores. Na passagem dos pilotos, os aplausos eram divididos entre o caminhão número um, de Cirino, e o de número 35 – um vermelho, pilotado por Luiz Fernando. Havia algo errado com ele: nas primeiras voltas, bancou a “Minardi” da Truck, bem longe do pelotão de elite. “Tá chegando, vai em frente”, gritavam os engraçadinhos, enquanto a maioria descia o polegar.
A alegria de Cirino durou pouco. Logo após a “bandeirada programada” da 12ª volta, quando o “pace truck” da loira Sheren volta à pista, Cirino foi punido com um “stop and go”, perdendo a liderança. Aliás, punições visando a segurança dos pilotos e espectadores não faltavam: seja por ultrapassar em bandeira amarela ou mesmo por excesso de velocidade. Imaginem as gargalhadas das arquibancadas quando o locutor anunciou que o “número 35 havia ultrapassado o limite”… Impossível!
O fim da corrida prometia. De longe, assistíamos apavorados ao acidente de Gene Fireball e seu Ford: o norte-americano perdeu o controle e bateu três vezes no guard-rail, quase capotando. Alheio ao que acontecia no pelotão intermediário, Cirino repetia o bom desempenho das primeiras voltas e logo já estava no encalço do líder Roberval Andrade e do segundo colocado, Djalma Fogaça. No duelo mais acirrado da prova – que nós não vimos, Cirino emparelhou com Fogaça na reta, que não facilitou as coisas para o campeão. No S do Senna, o enrosco inevitável.
O acidente tirou o caminhão de Fogaça da prova, que após ser punido por atitude anti-desportiva, não tinha mais condições técnicas. Mas não impediu Cirino de terminar a prova em oitavo lugar – logo atrás de Débora Rodrigues, e bem longe de Roberval Andrade, vencedor da corrida. O público de Interlagos, no entanto, não estava nem aí para a vitóriosa Scania laranja: apesar de seus méritos, o vencedor moral da corrida era Wellington Cirino.
Valeu a pena encarar o frio paulistano e acompanhar o show. Agora, é hora de voltar para casa. Mas isso é outra história…
O “Chorão” é o figurante da segunda foto? Realmente parece…
Nah, eu não sei comentar sobre esporte. Meu sedentarismo me impede de absorver qualquer tipo de adrenalina. Um dia eu mudo isso. Beijão!
Que disposição! Eu que moro pertinho do autódromo nem queria saber de sair da caminha. Ainda mais que sábado pra domingo foi a madrugada mais fria do ano. Mas fazer o quê. Prometi levar minha mãe pra visitar minha tia e tive que enfrentar o fluxo dos espectadores da Fórmula Truck…