A primeira fase da Copa termina nesta sexta-feira, e ao contrário de 2006 – quando todas as seleções cabeças-de-chave se classificaram – já vimos a queda de uma nação anfitriã, além das duas finalistas do Mundial anterior – algo duplamente inédito. Ainda assim, como diz o José Roberto Torero, os primeiros 48 jogos estão apinhados de “bragantinos”. Pode ser que você tenha torcido pra Eslovênia se classificar naquela vitória contra os EUA; mas mais curioso seria assistir a eles disputando, como convidados, uma rodada da Série B.
Podemos analisar a evolução do esporte, o excesso de defensividade, a presença de profissionais europeus e brasileiros por todo o planeta “pasteurizando” estilos de jogo… Entre tantas variáveis complexas, sabem qual a mais fácil de ser ajustada por uma competição melhor? A constatação de que tem país demais na Copa do Mundo.
Ao final dos anos 70, o interminável João Havelange pleiteava, diante dos delegados da Fifa, um acréscimo no número de participantes – eram 16, com no máximo um africano e um asiático, desde o torneio disputado em 1954, passando finalmente para 24 no Mundial da Espanha, em 1982. Foi assim até 1994 – com direito a uma mudança no sistema de disputa: o “mata-mata” passou a vigorar em 1986, no México. Tudo bem que a Copa de 1990 foi uma porcaria, e a de 1994 só foi bacana por causa do título do Brasil: o que conta é a grana. Quanto mais times, mais dinheiro.
Assim, com Joseph Blatter no comando da Fifa, a Copa de 1998 chegou a 32 seleções. Então passamos a contar com absurdas 15 seleções européias, cinco africanas, quatro asiáticas, além de surpresas do Caribe. De que outra forma teríamos Jamaica, China, Togo, Trinidad e Tobago, Nova Zelândia ou outra Esloqualquer? Pra piorar, o sistema de disputa pressupõe grupos equilibrados – o que nem sempre acontece.
Isso posto, aciono o mais inesquecível dos mascotes futebolísticos para encampar um pedido que, certamente, será sumariamente ignorado, mas capaz de dar vida nova ao Mundial. Por que não admitir a incoerência e retroceder só um tiquinho, reestabelecendo 24 seleções na disputa?
Os efeitos seriam certamente positivos. Pra começar, com menos vagas, as seleções se empenhariam ainda mais em busca da classificação – atualmente, há tantos grupos, repescagens e afins, que ficamos com a nítida sensação que qualquer gol de mão pode garantir presença… Se houvesse alguma Austrália ou Honduras, seria realmente com méritos. Na sequência, o país-sede não teria que se preocupar tanto com sedes, logística e afins – que tal uma redução no orçamento do país-sede com 16 representações a menos?
A competição também ganharia: mantido o sistema das copas anteriores, os melhores terceiros colocados seriam beneficiados. Em 90, por exemplo, a Argentina, vice-campeã, passou em terceiro de sua chave – só por isso eliminou o Brasil. Aquele mesmo ano viu a última disputa por sorteio diante do empate perfeito de um grupo, mas tanto Holanda quanto Irlanda estavam garantidas: as bolinhas só decidiram as posições. Tudo bem que, desta vez, a tetracampeã Itália sequer chegaria entre os melhores terceiros… De qualquer forma, outros times teriam mais tempo para, por que não, engrenarem.
Por fim, uma sugestão muito interessante do Juca Kfouri, pinçada de um artigo de sua coletânea “Por que não desisto”. Com 24 seleções, podíamos ter oito grupos de três numa rápida e ágil primeira fase, onde apenas o melhor de cada triangular passaria. A segunda fase teria duas chaves com quatro seleções, com o vencedor de cada uma delas decidindo o título em dois jogos – reduzindo a chance de disputas por pênaltis. O detalhe é que, com este sistema, o campeão seria decidido após sete jogos, exatamente como ocorre atualmente.
Independente do sistema ou da quantidade de seleções, é certo que trata-se de um plano completamente distante dos interesses da Fifa. Aliás, se pudessem ouvir apenas seus patrocinadores, fariam torneios com umas 64 seleções a cada dois anos, enterrando qualquer demonstração de bom senso.
Eu também tenho uma ideia para modificar a Copa, mas com uma filosofia um pouco diferente.
Um dos problemas da Copa atualmente é que se precisa de uma infraestrutura grande demais, que poucos países no mundo conseguem ter. Por outro lado, acho interessante a oportunidade de haver conflitos “exóticos” como por exemplo Paraguai x Eslováquia e Nigéria x Grécia.
A minha ideia seria dividir o que a gente chama de “Copa” em vários torneios intercontinentais, cada um com 16 ou 24 times, num total de 48 ou 64, funcionando como “supereliminatórias”. Esses torneios seriam disputados em vários países, um ano antes da “Copa” propriamente dita, que teria apenas 16 times.
Vale lembrar que para a Fifa, a Copa do Mundo começa nas eliminatórias, o que a gente chama de “Copa” é apenas a fase final. Mudar a estrutura seria apenas uma questão de marketing, enfatizando que tudo é apenas uma Copa do Mundo Fifa.
As fórmulas de disputa poderiam ser como essa proposta do Juca Kfouri ou das copas de 74, 78 e 82, quando não havia mata-mata. As “supereliminatórias” nem precisariam de semifinais e finais, já que só serviriam para classificar os times para a “fase final”.
Dessa forma, teríamos mais times, mais torneios e a oportunidade de mais países sediarem, logo, mais dinheiro. Enquanto isso a “Copa” propriamente dita voltaria ao porte de 1970, só com os times realmente grandes.