O norte-americano Scott Adams passou 16 anos de sua vida trabalhando em duas grandes corporações, o Crocker National Bank e a Pacific Bell. Passou todo esse tempo acumulando histórias absurdas, relacionadas ao eterno duelo entre funcionários capacitados e explorados de um lado e decisões gerenciais invariavelmente discutíveis de outro.
Em 1988, transformou essa abundante matéria-prima em quadrinhos e começou a ganhar dinheiro.
Nascia um dos meus personagens preferidos: Dilbert, o anti-herói da repartição. O personagem sem boca – o que não quer dizer “sem indignação” – contracena em seu dia-a-dia com situações absurdas e seres bizarros como um cachorro genial, monstros, duendes, pessoas acéfalas, entre outros personagens presos em cubículos que, curiosamente, são encontrados aos montes em grandes corporações.
Não foi difícil para o personagem emplacar: todos os funcionários se identificaram prontamente com as situações inusitadas das tirinhas!
Seu crescimento, evidentemente, trouxe um questionamento: qual o papel de Dilbert no debate sobre a relação patrão-empregado? Seria o personagem uma forma interessante de conscientizar motivar pessoas em busca de novas formas de trabalho ou uma simples diversão? Quem é mais demente, os loucos que criam as situações todas ou o pobre Dilbert, que continua trabalhando com todos eles e repleto de expectativas?
Alheio à discussão, Scott Adams prefere capitalizar o sucesso e ganhar dinheiro. Objetivo que fica claro logo nas primeiras páginas de seu livro mais conhecido, O Princípio Dilbert, lançado em 1996.
Logo nos primeiros parágrafos, o aviso: Adams esperava aproveitar o boom das publicações do gênero e faturar um bom dinheiro com a idéia: “Atualmente qualquer idiota com um laptop é capaz de produzir um livro de negócios e ganhar uns trocados. Isso é o que eu espero. Vai ser realmente uma decepção se a tendência mudar antes que esta obra-prima seja impressa”.
O livro esclarece a dúvida primordial de todos os seus leitores: afinal de contas, por que nos identificamos tanto com tantas situações patéticas e, mesmo assim, não fazemos nada para mudar?
A resposta é simples: somos idiotas. Todos nós. “Por mais esperto que você seja, você passa a maior parte do dia agindo feito um idiota”.
E isso é muito natural, a ponto dos funcionários mais ineficazes e pouco criativos serem sistematicamente transferidos para um lugar onde causam menos danos. Ou seja, os cargos de gerência.
Este é o princípio básico: todas as idéias de Scott Adams, além do restante do livro, se baseiam nessa premissa – que convenhamos, faz muito sentido. Tanto que a idéia não é tão original assim: trata-se de uma variação bem humorada do princípio de Peter, segundo o qual todos são promovidos até ao seu limite de sua incompetência.
Os outros capítulos satirizam todos os tipos de técnicas de gestão, desde às longas e ineficientes reuniões aos improdutivos setores de marketing, passando pelos conceitos de gestão como a reengenharia, o downsizing e o empowerment.
Curiosamente, todos os 25 capítulos do livro, ricamente ilustrado com tiras geniais, trazem o respaldo de fiéis leitores e seus e-mails tão ou mais pavorosos quanto as situações fantasiosas dos quadrinhos.
Porque, no fundo, algumas das tiras do Dilbert conseguem ser quase perfeitas. As outras são.
Apesar da publicação ter seus dez anos de lançamento, talvez seja uma boa pedida garimpar uma de suas edições em mais uma Bienal do Livro, marcada para o Anhembi. Começou hoje, e vai até o dia 19. Eu, que sempre deixo alguns reais na feirinha sistematicamente desde 98, prometo não faltar de novo. E mesmo sem precisar de estímulos como Bruna Surfistinha dando autógrafos!
Adoro o Dilbert! Mas queria mesmo era comprar o “Toda Mafalda”, do Quino, e algumas dessas compilações recentes do Bill Waterson…
“Alguns reais”? Eu diria muitos reais. ^_^
o interiro de são paulo não tem dessas bienais, senão seria minha falência. já gasto muito em livros pela internet sem ve-los e nem toca-los imagina se fosse al vivo, hehehe. não conhecia este livro. vou marcar a sugestão.
Achei tudo muito caro desta vez. Só levei algumas palavras cruzadas da Coquetel.