Definição de pautas, na última terça-feira. Editores atentam para a semifinal da Copa do Brasil, em São Paulo, às 21h45 da noite (ou madrugada, como queiram). “Tem esse joguinho aqui, Santo André e 15 de Novembro, no Pacaembu. Estádio vazio, num frio ducarai e dois times furrecas. E não tem ninguém pra fazer. Ah, manda o André”.
E eu fui. Era uma das seiscentas pessoas no estádio – o restante do mundo talvez nem desconfiasse que ali começava a disputa por uma vaga na decisão do caminho mais fácil para a Libertadores. Arquibancadas praticamente vazias: a maioria preferiu ficar nas numeradas, mais protegida do frio de onze graus. Com bloquinho e caneta na mão, fiquei por ali também. Sem radinho – todas as emissoras paulistanas transmitiam São Paulo e Táchira.
Pedi uma água mineral a um dos poucos vendedores que se arriscaram ali. “Sem gelo, por favor. Gelado, aqui, já bastam nós”. Depois do sorriso, o comentário: “Mas rapaz, só vendi sete. Se fosse em Santo André, seria diferente”, lamentou. Horas depois do jogo, o técnico do Santo André, Péricles Chamusca, disse algo parecido nos vestiários. “Nós sabiamos que a situação seria essa, a participação foi menos ativa por ter sido um jogo em São Paulo. Se fosse no Anacleto, quem sabe nossa torcida teria participasse mais”.
A torcida do Santo André se reforçava timidamente, mesmo com o primeiro tempo já em andamento. Mas nada que abalassem os poucos torcedores do time gaúcho, que quase não foram importunados. Aliás, a maioria deles nem veio de Campo Bom. Os que estavam no Pacamebu eram de Cândido Mota, interior de São Paulo. Familiares do camisa onze, o meia Canhoto. Certeza de origem mesmo era a atriz Bárbara Paz, nascida justamente na pequena cidade do Vale do rio dos Sinos. Estava com a camisa do 15 de Novembroe acompanhada do namorado Dalton Vigh. Assistiu sem medo ao bom desempenho do time de sua terra natal.
Como todos os times gaúchos, a marcação do 15 de Novembro foi dura. Ao mesmo tempo, o Santo André esteve longe de ser o time que surpreendeu Atlético/MG e Palmeiras: pelo contrário, parecia deslumbrado diante da outra surpresa da competição. Não foi difícil para Bebeto abrir o placar, de cabeça, aos 22 do primeiro tempo. Os poucos andreenses que gritavam e batucavam na arquibancada só voltaram a se manifestar quando Luiz Oscar derrubou Romerito na área do time do ABC. Pênalti cobrado por Barbieri, aos 33, e festa dos gatos pingados.
O jogo ficou bem melhor, mais movimentado, no segundo tempo. Não para o Ramalhão, que viu o time amarelo ampliar para 4 a 1 nos primeiros treze minutos de jogo. Dauri fez quase igual Bebeto no primeiro tempo. Depois Patrício arriscou de longe, e o goleiro Júnior aceitou. Por fim, Bebeto novamente, de peixinho, fez um golaço. A turma da batucada nas arquibancadas já ensaiava o grito “vergonha”. Do outro lado, nas numeradas, exigiam atitude de Péricles Chamusca.
Mas ainda era cedo para ir embora. Tanto que, surpreendentemente, o Santo André reagiu. “Pensei em fechar um pouco a equipe, mas a gente relaxou rapido demais”, analisou Mano Menezes, técnico dos gaúchos. Tássio, carrasco palmeirense há uma semana, chutou de primeira. E aos 24 minutos, a bola caiu nos pés de Osmar, que estava quase em cima da linha e fechou o placar em 4 a 3.
Valeu a pena: foi uma bela partida, digna de uma semifinal. “Mas nós temos que estar dentro da realidade. Somos equipes pequenas, e que vamos jogar longe de casa”, observou Gérson, meia do 15. De fato, o Santo André não será a única equipe a jogar fora de sua cidade: o jogo de volta será em Porto Alegre, a 40 quilômetros de Campo Bom. “Não vamos jogar fora de casa. Na verdade vai ser em um campo neutro, como foi aqui no Pacaembu. Temos todas as condições de fazer um melhor jogo lá no Olímpico”, disse Chamusca, confiante.
Não tenho certeza se vai ser a mesma coisa. Pela primeira vez, ouço em “torcidas unidas” no Rio Grande, em prol da surpreendente equipe detentora de seis vitórias seguidas na Copa do Brasil. Levando em conta o histórico “nacionalismo gaúcho”, não duvido que isso aconteça. “Vamos aproveitar as cores da nossa camisa, que são abslutamente neutras em relação as mairoes torcidas do estado. Todos vão dar força para este time que está representando bem o Rio Grande do Sul”, conclamou Menezes.
Estádio Olímpico cheio para 15 de Novembro e Santo André ao menos uma vez? Vamos aguardar o jogo de volta, no próximo dia 9. E quem sabe, contar com uma destas surpresas na Libertadores 2005… Já imaginaram?
De vez em quando aparecem essas pautas aparentemente “furadas”, mas que acabam rendendo um bom divertimento. Por isso que eu adoro essa vida de labuta de jornalista 🙂
Nossa, André, que maldade fazer isso com você. Eu fiquei imaginando nos 594 pagantes do jogo – ouvi essa informação pela rádio Globo enquanto torcia pelo Tricolor contra o Táchira. Pra compensarem o esforço, deveriam te mandar pra Porto Alegre, então!
É André, imagino que tristeza deve ser cobrir Santo André e Quinze. E pensar que no Championship Manager, o Quinze é uma barbada. Grande abraço!