É calhau, que legal! Pega no meu pé!

Por alguma razão completamente sem fundamento, decidi que a era Interney Blogs deste espaço teria um texto por dia, independente de teor, tamanho ou inspiração. É uma decisão idiota: apesar do prazer de conhecer e reencontrar pessoas diariamente na área de comentários, vez ou outra a vida não me oferece condições de pensar e escrever algo diferente e atual.

Assim, para não quebrar a promessa feita sabe-se lá para quem, acabo republicando textos antigos, guardados em uma gaveta aberta – meu endereço antigo. É muito fácil identificar um post velho por aqui: além de uma ou outra diferença estilística, a data original sempre aparece no fim. É o que, no jargão jornalístico, chamamos normalmente de calhau.

Vejamos como funciona. Imagine uma página de jornal em branco. Normalmente, seus editores definem o que vai nela logo no começo do dia: quantas reportagens, fotos, publicidades… Mas aí, se o dia estiver no fim e a tal página estiver com espaços vazios, é preciso pegar qualquer conteúdo para preencher este espaço, antes da publicação ir para a gráfica.

Está lá, no meu antigo Manual da Folha (aquele de 1992, que era bem mais divertido que a última versão): “anúncios referentes ao próprio veículo preparados com antecedência para preencher, sempre que necessário, espaços em branco ou falhas na diagramação de uma página criados pela falta de material, seja jornalístico ou de publicidade”. O manual também define o calhau informativo: “texto usado para preencher espaços na página. Pejorativamente, diz-se de um texto muito frio ou considerado ruim. Faça tudo o que puder para evitar seu uso”.

Então, é isso. Em periódicos, normalmente o calhau é uma publicidade interna (assine nossos classificados, somos o melhor do Brasil, essas coisas). Aqui, o calhau segue à risca a definição pejorativa da Folha. Eu só não imaginava que, um dia, eu teria que responder a seguinte dúvida: de onde veio o termo “calhau”? Deriva do quê? Encalhar? Bacalhau?

De volta ao Manual da Folha. “A palavra é derivada do francês, caillou, provavelmente vinda do gaulês, caliavo, que quer dizer pedra solta, seixo”. É a mesma definição do Aurélio (“fragmento de rocha lisa”) e do Caldas Aulete (“fragmento de rocha dura e ordinariamente silicosa”). Aliás, este último traz a definição jornalística: “matéria de escasso interesse, publicada à falta de coisa melhor”. Exatamente a serventia do calhau neste blog.

Outras curiosidades: ainda na França, país de origem do “calhau”, a palavra também é uma gíria que designa pessoas com excessiva calvície (o nosso “careca”). Não por acaso, essa é a tradução literal do nome de um conhecido personagem animado, sucesso na TV Cultura e em outros países do mundo. A Wikipedia em inglês traz mais uma informação interessante: Calhau é também o nome de uma pequena aldeia de pescadores na ilha de São Vicente, uma das dez que compõe o arquipélago de Cabo Verde. Fica a 15km da capital local, Mindelo.

Sabe o que mais me impressionou? Consegui escrever um bocado sobre calhau. E esse texto não é um calhau!

Comentários em blogs: ainda existem? (8)

  1. Aaaaaah, então isso que é calhau! Não é nem de encalhar e nem de bacalhau.

    Que da hora, eu te ajudei a fazer o primeiro post que não é calhau, em bastante tempo. E é sobre… calhau! 😀

    Gostei. Abraço! 😉

  2. Sempre imaginei que um calhau fosse uma pedra enorme, talvez por causa da palavra calhamaço. Não me pergunte onde ou como aprendi a palavra calhau. Só pode ter sido Monteiro Lobato.
    Teu post é instrutivo e extremamente divertido. E sim, dá pra sacar texto antigo pois aprimorastes ainda mais sua esmerada redação.

  3. então quer dizer que calhau era isso?! do francês…do gaulês…q lembra calvície…uma pequena aldeia…enfim, publicitario inventa cada coisa, né?!! rsrsr
    Abs.

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