Nesta quinta-feira, início de feriado, vou ter a rara oportunidade de viajar com toda a família. Vai ser ainda o meu segundo bate-volta de 2005 ao Rio Grande do Sul – tão corrido que nem vou convidar o Ricardo, a Raquel, a Maria Clara e o Otávio para jantar. Certamente não apareceria… Fica para janeiro.
Correria, aliás, é algo que só os moradores de grandes cidades como São Paulo estão acostumados. Pude presenciar um belo exemplo de como esse clima delicioso contamina qualquer atividade: foi justamente em minha última viagem aérea, também no final de janeiro.
A decolagem estava marcada para as 22h30 em Congonhas, onde um vôo jamais parte no horário previsto. Outro detalhe peculiar: como a zona urbana cresceu ao redor do veterano aeroporto, o bendito fecha as portas às 23 horas. Ou seja, depois desse horário, dali ninguém entra nem sai de avião.
Estava sentado na novíssima sala de embarque de Congonhas, vendo as figuras de uma revista qualquer e sem dar a menor pelota para o horário, até a voz feminina de uma funcionária avisar. “Sua atenção, por favor, passageiros do vôo Gol número tal, com destino tal, das dez horas e trinta minutos. Sua aeronave já se encontra neste aeroporto, e em mais alguns minutos, daremos início ao procedimento de embarque. Por gentileza, queiram permanecer bem próximos ao portão tal”, anunciou, dando ênfase ao “bem próximo”.
Devia ser umas quinze pras onze quando o embarque começou. Ainda tranquilo, decidi esperar a manada passar antes de entrar. Ainda tinha um bocado de gente quando a mesma voz disse, em tom ameaçador: “com sua atenção passageiros do vôo Gol número tal… Última chamada para o embarque”. Tudo bem. Já que insistiram, levantei e encarei a fila.
Ao lado do portão, um dos funcionário era uma verdadeira máquina recolhedora de cartões de embarque. Sequer compreendeu o meu “boa noite”. Contrapondo a agilidade do moço, aquela gente toda permanecia a passos de formiga na ponte de embarque.
Assim que cheguei à porta da aeronave, tive outro “boa noite” solenemente ignorado pelas comissárias de bordo. “Por favor, senhor, entre rapidamente e sente-se em qualquer lugar. Ignore a marcação de assentos de seu bilhete”, insistiam. Decidi não questionar e ocupar o primeiro lugar vago que encontrei, entre os primeiros assentos.
Nem todos quiseram cooperar: “por que não posso sentar onde escolhi?”, brigava um. “Meu lugar já está ocupado!”, reclamava outro. Haja saco para agilizar aquela trabanda e ainda explicar ao povo que Congonhas fecha as 23 horas. E faltavam menos de dez minutos.
Foram momentos de pura adrenalina. Quanto mais o relógio corria, menos paciência nas atitudes das aeromoças. Apontavam lugares vazios no fundo. Insistiam para a turma andar de uma vez e permitir a entrada de todos. Foram poucos segundos entre o último passageiro cruzando a porta e o aviso do comandante: “tripulação, preparar para a decolagem”. E eu, ali. Uma pedra.
Ainda tinha gente de pé enquanto o avião taxiava. Com o microfone em mãos, a comissária-chefe implorava para todos sentarem de uma vez, além de balbuciar duas ou três palavras dos procedimentos de segurança. Foi quase um “pessoal, vocês já conhecem aquela história das máscaras caindo e dos assentos flutuantes. Também já viram nosso cartão de instruções. Então vamos pular essa parte e seguir em frente”. Finalmente, as onze da noite, o avião deixou São Paulo.
“Senhores passageiros, aqui quem fala é o comandante. Peço desculpas pela correria, mas ela foi necessária”, justificou o piloto. Pedido aceito – ao menos entre dos paulistanos, que não viram novidade alguma em correr para compensar atrasos…
Em tempo, ainda teremos algumas coisinhas por aqui nos próximos quatro dias. Oficialmente, no entanto, estou de volta na segunda-feira. Para quem também vai enforcar Tiradentes, aproveite bem!
Por essas e por outras que me mudei para o interior…
Sua descrição da correria de cidade grande representada pela azáfama do aeroporto está perfeita. Às vezes a gente não percebe o próprio estresse e quando tem a ventura de ir pro interior, sem relógio, sem lenço e sem documento, podemos comparar os estilos de vida e suspirar: eu quero uma casa no campo…
Nhé… Vou morrer de saudade! :0)
Te espero, guri. Vamos ver se desta vez aproveitamos mais o encontro, ne?
Me liga, assim que puderes para ajustarmos os detalhes. No mais, boa viagem. beijos
Todas as suas colocações foram perfeitas, mas convenhamos: A Gol não costuma ser lembrada pela cortesia de seus comissários, pela qualidade de seu serviço de bordo ou pelo conforto de suas aeronaves.
Ou seja, quis pagar baratinho, se fudeu!
Boa viagem ,man!
Que horror! Há certas peculiaridades paulistanas que realmente não entram na minha cabeça. Isso é coisa de metropolitanos estressados.
Poxa! Tinha que ter pelo menos uma janta. 🙂