Copa *PIIIII* Libertadores e o patrocínio esportivo

Alegria alegria, torcida brasileira! A temporada do futebol está recém decolando: nesta semana, o São Paulo faz sua estréia na Copa *PIIIII* Libertadores, jogando na Colômbia. Outros clubes brasileiros também estarão em campo: o Santos terá um páreo duro em casa, diante do *PIIIII* Guadalajara. A propósito, perceberam que, em 2008, a montadora japonesa *PIIIII* deu lugar aos espanhóis do Banco *PIIIII* no patrocínio do nome? Enfim, a Conmebol está feliz da vida: as duas empresas associaram uma grana preta ao evento.

É um alento saber que ainda existem competições atraentes, cujos gastos (lícitos ou não) podem ser financiados graças a contratos como esse. Óbvio que há muitos interesses por todos os lados (alguns indignos, como a indústria dos direitos de transmissão), mas analisando friamente, a imagem das empresas que patrocinam o esporte melhora diante do público. E com dinheiro bem investido, os atletas também crescem.

Ocorre que a mídia brasileira já enraizou em suas entranhas a nociva prática de ignorar solenemente qualquer marca associada a clubes, estruturas, competições e derivados. No caso da Libertadores, por exemplo, os únicos veículos que citaram nominalmente o nome do Banco *PIIIII* foram o canal a cabo Fox e a rádio Bandeirantes. Enfim, é um comportamento esperado: quando o Atlético Paranaense assinou o primeiro contrato de “naming rights” no país, atrelando a Arena da Baixada a uma marca e chamando-a de *PIIIII* Arena, praticamente ninguém citava a empresa de impressoras e copiadoras.

Mas em matéria de “larga desse papinho de incentivo, se é empresa e tem lucro, só aparece aqui pagando”, a campeã é a Globo. Só faltava mesmo implicar com o *PIIIII* Guadalajara, por causa do uísque – na verdade, o time tem esse nome porque *PIIIII* também é o nome de um cabrito selvagem mexicano. De resto, a emissora, que monopoliza os direitos de transmissão de praticamente todas as competições relevantes do país, desconhecem o uso do bom senso desde as entrevistas fora de cmampo, feitas em close extremo (para driblar o painel dos patrocinadores), e vão até o fim no quesito “desinformação”.

O Luiz Fernando Bindi, aqui e aqui, chama a atenção para duas aberrações recentes. Ignorou a *PIIIII*, universidade particular que que dá nome a um clube de futebol no Rio Grande do Sul, chamando-o de Canoas, cidade onde joga. E durante a Copa São Paulo, o *PIIIII*, clube que leva o nome do grupo de Abílio Diniz e potencial revelador de novos talentos, era chamado ora pela sigla PAEC, ora por Embu – cidade onde o time estabeleceu sua sede recentemente.

Mas é nas outras modalidades que o sumiço das marcas é mais feroz. Na Fórmula 1, enquanto montadoras como *PIIIII* e *PIIIII* podem, o energético *PIIIII* vira RBR. E no vôlei, o banco *PIIIII*, que investe no Osasco desde os tempos em que se chamava *PIIIII*, nunca aparece. É o único caso onde o uso da cidade faz sentido: o desodorante *PIIIII*, que dá nome ao time de Bernardinho, vira Rio de Janeiro; já a companhia telefônica *PIIIII*, que mantém o time há dois anos, era Brasília e agora é Brusque. E o Macaé quase acabou com a desistência da *PIIIII*, de telefonia celular – foi salva pela fabricante de remédios *PIIIII*. E você lembra do primeiro time do Giba, campeão da Superliga em 97 e vice no ano seguinte? Fosse a Globo, chamaria de Rio de Janeiro, ao invés de usar a marca de material esportivo *PIIIII*.

Mas o vôlei, que há anos recebe um polpudo patrocínio do *PIIIII*, o mais antigo banco do Brasil, ao menos está bem na fita. Ao contrário do basquete, que recebe verba ainda menor da estatal energética *PIIIII*, refletindo em perrengues sucessivos dos tradicionais clubes sediados em Americana, Franca, Sorocaba e Ourinhos. No fundo do poço, aparecem os outros atletas olímpicos, doidos por iniciativas semelhantes à da empresa de limpeza doméstica *PIIIII*, que entre 2005 e 2007, manteve o projeto “Mulheres que fazem o Brasil Brilhar”. Afinal, se é para serem ignoradas no fim, pra quê investir em esporte?

Ah sim, agora que a mensagem ficou clara, podemos substituir os *PIIIII* por Santander, Chivas, Toyota, Kyocera, Ulbra, Pão de Açúcar, Ferrari, Renault, Red Bull, Finasa, Rexona, Brasil Telecom, Oi, Cimed, Olympikus, Banco do Brasil, Eletrobrás e BomBril.

Comentários em blogs: ainda existem? (8)

  1. Sabe que eu nunca tinha me ligado nisso? Realmente ridículo. A Globo deve estar estudando um jeito de fazer com que as placas de publicidade sumam da tela do espectador em casa, já que hoje em dia é inevitável que elas apareçam na hora do jogo. Mas o pior caso mesmo é o da Kyocera Arena.

  2. Rodrigo, no caso das placas, os pacotes de patrocínio vendidos pela emissora também incluem essa publicidade se os direitos de tv do campeonato em questão forem da globo, tanto que os anunciantes das placas são os mesmos que compram as cotas de patrocínio de futebol da globo (ambev, itaú, havaianas, etc).

  3. Talvez não tenha muito a ver, mas agora lembrei do logo do SBT no uniforme do Vasco na final do campeonato de não me lembro o ano… A Globo teve que engolir miudinho… 😛 Tudo doidice do Eurico, que nem consultar o SBT consultou, que dirá ganhar grana de patrocínio (pelo contrário, correu até o risco de ser processado pelo uso não-autorizado da marca – coisa que é claro, não aconteceu, porque repercutiu que foi uma beleza pra a empresa do SS)… Fez só de pirraça mesmo com a Globo.

  4. História que já me contaram (é uma pena que eu não tenho mais detalhes).

    Houve uma vez em um coletiva, se não me engano, que o velho assunto falta-de-apoio-para-modalidades-que-não-são-o-futebol foi abordado por um repórter da Globo. Aí, o atleta vira e fala: “Mas de que adianta a gente ter patrocínio, se vocês são os primeiros a cortá-los na hora da divulgação?”

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