Como diria o Avallone…

Antes de mais nada, não estou me referindo a dança das cadeiras nas mesas redondas. O fato é que depois de quinze dias, finalmente tomei vergonha na cara e resolvi falar de… Paleeeestra!!! Claro que eu estou me referindo ao evento sem precedentes que tive a honra de participar. Foi no último dia 22 de outubro, em Maringá, norte paranaense. Vou logo avisando que o texto é enorme: prepare-se para conferir todos os detalhes ricamente ilustrados!

– Tudo começou com um singelo convite por e-mail, enviado ao chefe de redação do meu humilde local de trabalho. Dias depois, o recado: “estão querendo que alguém vá falar sobre jornalismo esportivo na Internet. Pensei em mandar alguém que pudesse impressionar a todos e falar com desenvoltura sobre a nossa história. Como não encontrei ninguém bom o suficiente por perto, resolvi mandar qualquer um. Então vai você mesmo”. Então tá.

– Dias depois, já em contato com os organizadores, acerto todos os detalhes da viagem: o embarque seria na quarta mesmo, e o retorno seria no dia seguinte, bem cedo. Ao mesmo tempo, navegando pelos sites dos principais jornais da cidade, descubro que Juca Kfouri e Soninha também seriam palestrantes, completando o rol de “grandes nomes do jornalismo esportivo nacional”. Uia!

– O “bate-e-volta” em Maringá, com todas as despesas pagas pela Faculdade Maringá, promotora da palestra, começou pouco antes do meio-dia no aeroporto de Congonhas. Depois da passagem obrigatória pela Laselva, aguardo alguns minutos na sala de embarque folheando um genial livreto de passatempos, criado por Reinaldo Duque. Não consegui resolver nenhum, fato que estimulou a minha já natural baixa-estima.

– A bordo do vôo 1761 da Gol, com escala em Curitiba, devoro pela enésima vez o pequeno A Cultura Digital, do Rogério da Costa. “Vai saber o que vão perguntar na palestra”, pensava. Durante o vôo, atentei para a fisionomia de um comissário de bordo: “cacete, conheço esse cara! É o mesmo de quando fui a Porto Alegre esses dias!”. Esse é um dos mais perigosos sintomas de quem começa a se achar o tal por andar um bocado de avião…

– Primeiras impressões de Maringá, ainda sobrevoando. Fácil entender porque chamam o lugar de “cidade dos pés vermelhos”: onde não tem lavoura ou outro tipo de vegetação, predomina um tipo de solo muito rubro, quase roxo. Ainda no alto, observo um aeroporto bem mequetrefe, parecido com o daquele velho joguinho Transport Tycoon. Instantes depois, descubro que aquela é a pista velha, desativada. O boeing 737-700 aterrisa no Aeroporto Regional de Maringá, bem distante do centro, por volta das três da tarde.

– Como aquele era o único avião por perto, o movimento no terminal de passageiros (que tem cara de recém inaugurado) era pequeno. Não foi difícil identificar um grupo de quatro pessoas, com aquele ar de “vamos tentar reconhecer o sujeito”. “Com licença, acho que vocês estão me esperando”, disse, ao abordar uma das moças. Sei não, mas acho que a minha primeira impressão não foi das melhores: “nossa… Estávamos esperando um senhor baixinho, e aparece um rapaz jovem…”, disse Solange, que constrangida, não quis levantar um papel com meu nome escrito. Ali mesmo, durante as apresentações, tirei algumas fotos para a faculdade.

– A simpática e determinada senhora de azul nesta foto ao lado é a professora Elza Meller. Simplesmente a “dona” da faculdade: fez questão de buscar o palestrante, da mesma forma que se aproxima de seus alunos no dia-a-dia “Precisava agitar minha vida, por isso montei a faculdade”, revelou “dona Elza”, durante o percurso do aeroporto ao restaurante Monte Líbano, onde fomos almoçar. No trajeto, considerações sobre Maringá – “Minha cidade é muito bonita. Todas as avenidas são floridas, não tem favelas nem sujeira nas calçadas” – e sobre sua vida – “Não sou professora, mas sim administradora. Costumo dizer que administro minha vida” – e a escola – “Mais de trinta mil já passaram pelo meu colégio, e em seis anos de faculdade, tudo é informatizado. Não dispenso mais o e-mail”.

– Nas horas seguintes, programação digna de celebridade. “Você tem apenas meia hora para comer antes da entrevista coletiva no hotel”. Coletiva? E ainda atrasado? Para quem normalmente fica do outro lado do balcão, era uma situação no mínimo… Divertida! Hehehe! “Até tentei ligar no seu celular por volta das onze e pouco, para ver se conseguia colocar você na CBN”, disse Solange, estagiária na retransmissora local da rádio. Uau!

– Dizem que o restaurante Monte Líbano, especializado em comida árabe, é um dos melhores do país. Sempre ao lado da professora Elza, da Solange e do meu xará André, conversamos sobre amenidades, novas tecnologias e até neurolinguística, enquanto devorávamos quibes, esfihas, charutinhos, molhos, entre outras especialidades que deixariam o Habibs com vergonha de existir.

– Mais alguns minutos até o hotel Golden Ingá, bem próximo aos “pulmões verdes” da cidade, o Parque Ingá. No sétimo andar, já me aguardavam dois colegas. O Luís Fabretti, aluno e organizador da palestra, fez uma matéria para um canal local de TV. Já o Andye Iore, do Hoje Maringá, prolongou a conversa, já que trabalhou com jornalismo esportivo na web nos tempos da “ciranda da felicidade”, quando capital especulativo saía pelo ladrão. Apaixonado também pela editoria de cultura, hoje o Andye “se vira nos trinta”, como praticamente todos em nossa área. Por fim, conheci o professor Nuno Vasques, coordenador do curso de jornalismo da faculdade.

– Eram quase cinco horas quando finalmente consigo ficar alguns minutos sozinho, no quarto 1003. Um banho rápido e alguns telefonemas importantes. Com a TV ligada na MTV, ouço o Fica Comigo na voz de Penélope Nova enquanto dou uma última relida nas anotações, feitas dias antes, diante da minha pequena bibliografia. Já embalado em uma camisa cor-de-vinho e dentro da minha calça da missa, faço um registro fotográfico diante do espelho. “Não é todo dia que viro alguém importante”.

– Não consegui aproveitar a ESPN e assistir ao final de Real Madrid e Partizan, pela Copa dos Campeões: já estava na hora. Pontualmente as seis horas, meu xará estava no saguão do hotel, onde seguimos para a Câmara Municipal de Maringá. Cheguei com muita antecedência: o evento estava marcado para as sete e meia. Mas como qualquer time visitante, é sempre bom entrar em campo antes da partida, para sentir o ambiente.

– Aos poucos, as pessoas foram chegando. Fui logo apresentado ao professor Amaury Meller, diretor da faculdade, animado com o empenho de seus alunos. “Este e outros eventos só foram possíveis graças ao trabalho deles”, disse, sempre num tom de voz sereno e tranquilo – bem diferente de sua ex-esposa Elza. Um dos alunos do curso entrou na conversa e, depois de alguns minutos, observou o folder do evento, viu minha foto e concluiu: “peraí, você é o cara!”. Pois é.

– Antes da palestra, os espectadores podiam assistir a um programa de TV elaborado pelos próprios alunos e coordenado pelo professor Nuno: jornalismo, café e um bom livro reúne comentários sobre um livro, lido e resenhado por um aluno com antecedência, e um bate-papo descontraído sobre comunicação no café de uma livraria, parceira do projeto. Aquele era apenas um dos quase vinte programas gravados. O tema? Jornalismo esportivo, claro.

– Não demorou para que as pessoas com as quais tive contato antes da viagem aparecessem: o heróico Paulinho, que divide sua vida como gerente de banco e a faculdade, além dos jovens Allan e Tamara, que entre uma discussão e outra sobre jornalismo, me “entrevistaram” para o informativo da faculdade. Aliás, guardei a última edição, entregue pelo orgulhoso Allan, mostrando sua coluna esportiva.

– A propósito, fiquei impressionado com a idade dos alunos do terceiro ano. Eram poucos os que tinham seus 22, 23 anos, como na minha época: boa parte deles trabalham há pelo menos uns dez anos, seja na área ou fora dela, moldando o perfil daquela turma de uma forma bastante peculiar. Isso certamente explica também o entusiasmo de todos ao organizar aquela semana.

– O papo tava muito bom, até o locutor oficial da VI Siecom anunciar a abertura oficial do evento. Foram convidados para formar a mesa o professor Nuno Vasques, o secretário de comunicação de Maringá Mário Camargo, o diretor Amaury Meller, a professora Elza Meller, o presidente da Câmara Municipal Walter Guerles e o outro convidado da noite.

– “Então o seu maior desejo é ser feliz? Então mostre isso para as pessoas, com seus gestos, com seus olhos. Seja feliz, e boa sorte!”, disse a professora Elza, antes do Hino Nacional. Ali não tinha mais volta: por alguns minutos, demonstrei seriedade e pulso firme para falar com os pouco mais de cem espectadores.

– Seriedade? Pera lá, faltava um pouco da minha personalidade naquilo. “Talvez fosse mais fácil falar sobre Deus e seu tempo, já que o assunto é muito extenso. Mas aqueles que conseguirem me suportar até o final podem ser premiados com este presentinho”, anunciei, mostrando um exemplar do livro Jornalismo Esportivo, do Paulo Vinícius Coelho, uma espécie de “Narazaki” do futebol internacional. Ideal para quem deseja entrar no ramo, público-alvo daquela palestra.

– Entre uma história e outra, inseri outro mecanismo engraçadinho: “aproveito para agradecer a paciência dos torcedores do Coritiba, que a essa altura, estão preocupados com o São Caetano e a Libertadores”… Achei estranho: foram algumas risadas, mas poucas manifestações. Logo fui questionado a respeito do meu time, respondi que “torcia para o time que venceria o líder no Beira-Rio naquela noite”. Muitos vibraram, e o Fabretti levantou da cadeira para me cumprimentar! Só depois pude constatar que, em Maringá, ninguém torce para os times da capital paranaense: ali tinham corintianos, são-paulinos, colorados ou mesmo gremistas. Não perdi a chance e cravei: “o Grêmio vai cair!”. Ah, sim: depois soube que o Inter venceu o Cruzeiro por 1 a 0!

– Nessa altura da palestra já tinha falado o que tinha previsto (durou menos de uma hora) e aproveitado o coffe break para mais contatos. Foi quando a Rose Ortega, que assina uma coluna social no Diário Maringá, veio me dizer que estava entusiasmada com a web. Deixei com ela um dos inúmeros cartões de visita que preparei…

– Atendendo a pedidos, saí da mesa e prossegui o bate-papo ao lado dos espectadores, em pé mesmo. Ficou bem melhor: entre a mesa e a platéia, existia um “abismo” formado pelas mesas usadas normalmente pelos vereadores Claro que nem todo mundo conseguiu ficar até o fim, mas ao encerrar a minha participação, ainda tinha muita gente interessada. Sinal de que fui bem!

– Bom, a palestra pode não ter sido lá essas coisas. Mas a receptividade de todos foi algo inquestionável: depois dos aplausos, ganhei presentes (um kit de perfumes e uma medalha da faculdade), tirei fotos com alunos e professores, “prolonguei” a palestra com mais alguns… Que beleza! Já estava me sentindo em casa!

– Ainda faltava o jantar de confraternização, com alguns dos alunos que organizaram a Siecom. A caminho da pizzaria Martignoni, na companhia do Paulinho, sua esposa e do professor Ricardo Torquato, autor da seguinte pérola ao avistar um gato atropelado na avenida Perimetral, ao lado de um dos inúmeros parques da cidade: “ele tomou muito ar puro”. Esse é dos meus! Gostei dele!

– “Deve ser o Martignoni”, pensei, ao ser cumprimentado pelo dono do estabelecimento, que logo anunciou seu slogan: “a melhor pizza de Maringá”. Pessoalmente, gostei. Lembra o rodízio do Viena. Antes de comer, no entanto, mais fotos. Essa vida de celebridade ainda me mata…

– Durante o jantar, o papo ficou restrito ao Allan e ao Fabretti, que trabalhou dez anos como repórter de rádio. Evidente que falamos muito sobre esse apaixonante veículo. O assunto também foi parar pras bandas do futebol, beisebol e até golfe!

– Na volta, mais uma vez o bem humorado professor Torquato mostrou seu estilo, ao falar sobre ética jornalística. Ou quase isso… Definitivamente, me tornei fã dele! Cheguei ao hotel pouco antes das duas horas da manhã, com a certeza de que o dia valeu. Não apenas pela palestra, mas pelas pessoas extraordinárias!

– Depois dessa, dava para dormir? Ainda estava ligado, e o vôo para São Paulo partia as seis e pouco da manhã. Cochilei com a televisão ligada, mal consegui ouvir o Marcelo Duarte falar que a briga nas Laranjeiras entre o torcedor das galinhas, o Romário e o tal Zé Colméia envolveu, na verdade, o “Zé Colmeia e o Catatau”. “Piada fraca, essa eu usei na minha palestra!”. E tinha usado mesmo – quem disse que eu era sério?

– Pontualmente as cinco horas, estava no saguão, pronto para voltar a minha vidinha normal. Wagner, outro aluno do terceiro ano, ficou responsável pelo traslado. E lá estava ele, sempre solícito. Mas antes, a última foto: ao lado dele, segurando o manto sagrado colorado. Pediu para o porteiro bater, enquanto tirava do carro sua camisa do Inter. “Acha mesmo que vou perder a chance de registrar a visita de um ilustre colorado?”. Sensacional!

– No caminho para o aeroporto, e mesmo por lá, durante o café, conversei um bocado com ele. Nasceu em Bagé, e seus pais ainda vivem na cidade gaúcha. Além dele, que está no Paraná há onze anos trabalhando na área farmacêutica, tem duas irmãs em Pelotas. “Não acredito!”, respondi, ao resumir a história da minha família. Nesse final de ano, Wagner pretende levar adiante seu projeto de concusão de curso: uma série de vídeos turísticos sobre o Rio Grande. Já marcamos um churrasco, para quando eu estiver por lá durante as festas!

– Antes de embarcar, parada obrigatória: um jornal do dia e cartões postais para a minha coleção. Todos da Catedral Metropolitana da cidade. “Só tem esses?”, perguntei, como se a cidade tivesse mais algum. Lembrei da frase do Allan, na noite anterior: “aqui, dá para ver a Catedral de qualquer lugar…”.

– Depois de uma rápida conexão em Curitiba, mais amendoim e serragem com mel da Gol. E a mesma constatação da ida: “vaisiferrá! É o mesmo comissário de bordo!”. Pouco antes das nove da manhã, já estava em Congonhas.

Fim de um dia inesquecível, era hora de voltar a ser o Marmota velho de guerra. Até porque, naquela noite, trabalho não faltaria. Como sempre.

Obs.: Quero só ver o que vão pensar de mim depois que encontrarem meu nome no Google e dar de cara com isso aqui…

Comentários em blogs: ainda existem? (12)

  1. Ao ler o seu texto eu me lembro do Claudio Odri dizendo algo como…
    “Na Internet, os textos devem ser curtos e sem firulas. E esse negócio de ‘meu querido diário’ não está com nada”.

    Nada como um dia após o outro.

  2. É muito legal saber que você está tendo sucesso em sua profissão. Mais legal ainda é saber que podemos cultivar amizade e admiração por pessoas que pouco vemos fisicamente.

    É o blog aproximando as pessoas.

    Não se menospreze: você já faz parte de um pequeno grupo de pessoas gabaritadas para dar uma palestra. Orgulhe-se, e conte pra todo mundo. Mesmo. E nós, que bisbilhotamos diariamente a vida dos outros em seus blogs, acabamos torcendo secretamente para que tenham sucesso.

    Parabéns!

    (e prepare-se para a sova de amanhã, no boliche)

  3. Ah, quem dera ter o dom de falar em público! Eu morro de vergonha hehe Ainda mais quando é pra tantas pessoas desconhecidas… Mas parabéns! Vc parecia estar ótimo!:)

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