Além do Blog da Copa e de outras fontes confiáveis, onde mais você frequentou, entre rádio, TV e Internet, para obter informação sobre o Mundial? Pessoalmente, como refém da TV aberta, vi pouco dos canais a cabo especializados – como a ESPN, que costuma adotar uma linha essencialmente informativa, que me agrada bastante. Também sou fã das ondas curtas, e bastava entrar no carro para sintonizar a Rádio Bandeirantes, que não me decepcionou – como de praxe.
Mas enfim, enquanto especialistas em futebol discutem se houve alguma novidade tática ou quais intervenções soam positivas no esporte, os amantes da comunicação observam o que a mídia fez e, por que não, guarda algumas de suas inspirações para melhorá-las em aplicações futuras. Dentre os formatos jornalísticos que me chamaram a atenção durante o Mundial, estes cinco chamaram a minha atenção.
Dia-a-dia do UOL – Comecemos pela mais simples das sacadas – que, diga-se, foi usada algumas vezes pela Gazeta Esportiva Net em suas coberturas. Só vi isso no UOL, e é um negocinho simples, mas extremamente valioso em eventos curtos e marcantes como uma Copa do Mundo. Diariamente, algum editor do UOL Esporte fechava uma página, com os destaques do dia. Não há forma mais elegante de sintetizar a competição – e melhor ainda, deixá-la como arquivo para a posteridade.
O template da página contempla a manchete e alguns destaques batizados de “hall da fama”, para situações que chamaram a atenção. Um box com as mais lidas do dia, uma breve coletânea de frases e a análise dos blogueiros do portal. Enfim, sou suspeito para comentar: gosto muito do trabalho dessa turma, que alternam momentos de extrema descontração – como no blog da redação – a boa informação. Pelo conjunto da obra, estou com eles na batalha judicial com a Globo.
Infográficos espanhóis – Nada contra os excelentes trabalhos desenvolvidos no Brasil, como a própria Globo.com ou o Estadão.com. Mas em matéria de infografia, os colegas do Alberto Cairo já detinham a taça há tempos. O Marca foi responsável por duas das idéias mais bem resolvidas nesse campo: as fichas comparativas dos atletas que participaram da competição e o calendário de jogos.
Mais difícil, no entanto, é realizar infografias para o dia-a-dia. Nesse quesito, o La Informacion, já citado aqui algumas vezes, capricha no visual. Desde tabelas simples, como a comparação entre as seleções alemã e espanhola de 2008 e 2010, quanto o posicionamento dos atletas em todos os duelos envolvendo os favoritos.
Em tempo: o Tiago Dória fez um apanhado dos melhores infográficos desta Copa, incluindo…
Visualizações do Twitter – Sem sombra de dúvidas, este Mundial foi diferente para quem ficou o tempo todo conectado com o microblog. Impulsionado pela própria ferramenta, que estimulou os usuários a mandarem mensagens com as hashtags alusivas às bandeirinhas.
O grande tormento para acompanhar esse fluxo – que ultrapassou as 3,2 mil por segundo em algumas partidas – é a excessiva fragmentação. Alguns sites como o Twazzup ou Ellerdale podem ser úteis para quem deseja acompanhar essa movimentação. Sites como a CNN ou o The Guardian (como apresentou o Pedrox) aproveitaram bem esse buzz e fizeram aplicações bastante interessantes.
Um Mundo que Torce – Com tanta gente comentando e escrevendo sobre Copa do Mundo por aí, o que resta para os jornais impressos? Descobrir uma forma diferente e inédita de tratar o tema. Que tal passar cada dia do Mundial em um país participante da copa, identificando diferentes modos de torcer? Isso mesmo, uma verdadeira volta ao mundo em um mês. E o jornalista (e herói) Fábio Seixas conseguiu.
Foram nove meses de planejamento, 125.124 quilômetros percorridos, 43 vôos e 29 companhias aéreas – muitas delas péssimas, segundo seus relatos. Uma boa parte do que foi registrado nessa mega viagem pode ser visto aqui. No mais, prefiro pinçar alguns trechos de seu texto de encerramento, seguido de um gigante “parabéns pela audácia e coragem”.
…Ouvi muita gente dizer que era impossível, que algum problema iria acontecer, que era tecnicamente inviável ir para 31 países em 31 dias, que voos seriam perdidos ou cancelados, que minha saúde não aguentaria… Saí de Johanneburgo na noite da abertura, 11 de junho, e só fui tomar banho e dormir numa cama em Douala, Camarões, no dia 14. Entre uma coisa e outra, escalas malucas. Da África do Sul até a Nigéria, parada no Quênia. Da Nigéria para a Argélia, um voo até Paris. Da Argélia para Camarões, escalas no Líbano, na Etiópia (e como eu corri por aquele aeroporto para não perder a conexão…) e no Gabão. De Camarões para Costa do Marfim, pouso no Benim. Da Costa do Marfim para Gana, uau, um voo direto. Mas de Gana para a Coreia do Sul, bem, escalas na Nigéria (de novo) e nos Emirados Árabes Unidos. Ainda dormi uma noite em El Salvador (paradinha antes de Honduras), comprei camisetas e meias no Havaí (no caminho do Japão para o México), perdi e achei o computador na Colômbia (rota EUA-Chile) e, na Europa, passei por Áustria, Hungria e República Tcheca.
Não perdi nenhum voo. Em parte por um trato comigo mesmo de chegar sempre duas horas antes, não importa o que acontecesse nas matérias. Em parte porque as coisas funcionam aqui fora, mesmo em países que julgamos mais atrasados. Nenhum voo foi cancelado. Tudo funcionou ao redor do mundo, o que me leva a imaginar que há algo de muitíssimo preocupante na aviação brasileira.
É claro que passei por alguns perrengues…Havia, também, a questão do planejamento. Porque saí do Brasil com toda a primeira fase montada. Países que dificilmente avançariam para as oitavas seriam os visitados nas primeiras duas semanas. O acerto passou longe dos 100%, graças ao fiasco europeu. E daí começou a fase de torcer contra uns, a favor de outros. Se dois países já visitados fizessem a final, seria o fim do meu mundo. Se “queimei” um lado da tabela ao ir para a Holanda ver o jogo com o Brasil, do outro lado eu fui deixando Espanha e Alemanha mais para o fim. Deu certo.
Central da Copa na Globo – Respeito a opinião do Felipe Corazza, preocupado com a “tadeuschmidtzação” do jornalismo esportivo: “edições engraçadinhas, antes usadas em poucos e seletos momentos do jornalismo esportivo na TV, viraram rotina; aliás, rotina é pouco, viraram obrigação”, diz ele, citando a bizarra reportagem do SporTV ofensiva ao Paraguai. Excluindo o exagero, sou da opinião do Alec Duarte: às vezes, o esporte precisa do “fait divers” (o bom e velho “fedivér”) para deixar nossa vida mais leve. Nesse velho embate entre informação e entretenimento, a Central da Copa fez a festa.
Li esses dias uma entrevista com o Tiago Leifert, um dos responsáveis pela nova linguagem do Globo Esporte em São Paulo: depois das suas novas intervenções, o programa – exibido na hora do almoço – ampliou o leque de sua audiência: não apenas o marmanjo torcedor, mas também as mulheres, maioria do público neste horário. Faz sentido.
Para o Mundial, o mesmo cenário usado por Luis Ernesto Lacombe em alguns horários se transformava ao final da noite: platéia agitada, uma mocinha simpática torcendo para a Argentina, convidados musicais discutíveis, Caio Ribeiro (alvo de um meme do Twitter) e aquela descontração que deixa muitos de nariz torcido – afinal, é jornalismo ou um programa de humor? Sem querer fugir do debate, admito: interrompi diversos afazeres para desconectar do mundo e dar risadas com o programa.
E você, o que gostou mais na cobertura do Mundial?