A idéia dessa listinha vagabunda veio quando soube hoje cedo que a borracha TK Plast, um dos xodós da Faber Castell, pode provocar câncer graças a presença de uma substância de nome ftalato na composição do produto. A empresa, uma das mais antigas e consagradas do ramo, já avisou que nenhuma borracha produzida a partir de setembro passado possui esta substância.
Isso significa que a minha geração, que ostentava uma TK Plast na sala de aula, pode manifestar reações adversas? Eu duvido, porque só usava ela. Achava infinitamente melhor que a versão verde-prancha, útil apenas combinada com o tubo de uma caneta bic (vira uma excelente zarabatana), ou a versão Gre-Nal, metade azul metade vermelha, que não apagava piciroca nenhuma – pelo contrário, só borrava ou rasgava as folhas do meu caderno.
Parece ridículo “ostentar” uma TK Plast? Provavelmente porque nenhuma moça bonita da sua sala de aula virava para você e, com um sorriso meigo nos lábios, perguntava graciosamente: “mimpresta uma borracha?”. Até hoje os pais não entendem a necessidade de um estudante, especialmente a galera do primário e ginásio: material escolar é peça fundamental para formar a identidade e contribuir com a sociabilização estudantil.
Independente do ftalato (a empresa garante que a TK Plast sempre esteve em conformidade com as normas nacionais, sem falar na ausência de estudos conclusivos a respeito da tal substância), a borrachinha entraria facilmente no Top 5. Para que ninguém fique com vontade de enfiar uma na boca, vamos deixá-la apenas como menção honrosa. Os demais itens a seguir eram os desejos de consumo do meu “primeiro grau”.
#5 Caneta Kilométrica – Vamos esclarecer as coisas: sinônimo de caneta vendida a rodo é a Bic, e mesmo assim ela costuma estourar no bolso das camisas. Durante algum tempo, a Gillette do Brasil lançou um produto bacana, cuja campanha publicitária bateu de frente com a tradicional: chamava-se Kilométrica. Era toda na cor da tinta e, em seu corpo, o desenho bacana que ilustrava o comercial de TV: “Kilométrica, a caneta simpática por um preço milimétrico”.
De fato, era mais barata. Mas era bem ruinzinha. Tanto que a modinha da Kilométrica acabou assim que a Bic lançou a caneta que realmente pegou em qualquer sala de aula: a quatro cores. Ainda assim, vale registrar a presença de um produto que, certa vez, tentou peitar a caneta Bic.
#4 Lapiseira Poly – Eu sempre odiei lápis. Mesmo os coloridos: sempre fui um péssimo artista, escolhia sempre as piores cores da minha caixa de 32. Também não sabia acertar o apontador. Errava a mão em todas as versões, inclusive na mais bacana de todos os tempos: aquele em formato de capacete, que armazenava os restos mortais dos lápis.
Joguei tudo fora quando descobri minha primeira lapiseira. Era uma Compactor, que usava aqueles grafitãos bem grossos, que vinham com um apontador na ponta superior. Talvez indignado com o apontador, migrei para a versão 0.5 assim que a Faber Castell (sempre ela) lançou a simpática Poly – também anunciada com alarde na mídia, graças a um bichinho animado e sorridente (cujos passos eram acompanhados pela onomatopéia bonachona “poly”).
#3 Liquid Paper – Eu sempre adorei caneta. Carregava um peso, uma responsabilidade infinitamente superior a do lápis: “se errou, não dá pra apagar”. Quer dizer, há quem acredite na eficácia daquela borracha Gre-Nal até hoje. Mas enfim. Óbvio que eu errava usando caneta. E muito. Meus cadernos eram repletos de riscos e borrões desconexos com trechos pretensiosamente inteligíveis.
O mundo mudou quando a Paper Mate trouxe para o Brasil, já no final dos anos 80, a primeira versão do Liquid Paper. Tinha o criativo slogan “é líquido e certo”. Era uma embalagem de vidro, com rótulo preto. E o tal “branquinho” tinha cheiro de tinta (tenho certeza de que muita gente ficou doidona cheirando aquele vidrinho). A fórmula era realmente avançada para a época: além da versão “branquinho”, eera possível comprar o “solvente”, caso o produto ressecasse de vez.
E era batata, claro. Em poucas semanas, a rosca do Liquid Paper esfarelava, e pra resolver só com solvente. Sem falar que, por ser novidade, a patota praticamente “rebocava” os cadernos com o negócio. No fim do ano, os cadernos eram verdadeiras “lazanhas” de papel, palavras e corretor ortográfico líquido…
#2 Estojo com compartimentos – Durante todo o primário, mantive até o fim um companheiro de madeira para transportar meus lápis, canetas, TK Plast e apontador. A partir da quinta série, troquei por um estojo mais maleável, desses de tecido emborrachado. Entrei no curso técnico bastante satisfeito com os meus dois receptáculos velhos de guerra.
Agora, se existia algo capaz de causar inveja em qualquer moleque eram os estojos mais invocados, repleto de zíperes e portinholas fechadas com imãs, elástico prendedores de lápis, apontadores embutidos ou saltitantes… Uma festa ainda mais intensa que o festival de lancheiras dos tempos áureos de infância.
#2 Caderno universitário Salesiano – Sem qualquer contexto, o nome “brochura” já transmite uma sensação ruim, desagradável. Uma brochura. Quando me libertei da obrigação dos cadernuchos encapados com papel pardo ou dobradura, parti para os cadernos em espiral. Quando o ginásio chegou, fiz questão de levar o mais bacana de todos: o caderno de dez matérias Salesiano, da linha “Imagem & Mensagem”. aquele com cores e lacunas semicirculares nas folhas.
O tempo passou e a marca mudou na época que a Kalunga entrou no negóocio, trocando o nome para Spiral. Mas as capas diferentes e temáticas nunca saíram de moda. E pensando nele, no meu estojo manchado de corretor, nas canetas estouradas e na caixinha de grafites em pedacinhos, dá até vontade de voltar para a quinta série, onde tudo parecia mais fácil.
E qual era a sua mochila??
Vc era da tchurma da mochila Company?
Lembro que as pessoas eram divididas entre as que tinham e as que não podiam ter. Fazia parte do segundo grupo.
Uma bobagem de pré-adolescente, eu sei.
Talvez por isso ainda faça parte da minha memória…
Nossa, usei praticamente tudo isso desta sua lista, mas outro item bastante comum nos meus tempos era o tal do “Caderflex”, justamente para a molecada não ficar arrancando as folhas para fazer aviões em sala de aula.
Viajei no tempo agora! 🙂
André!
Outras aplicações do Liquid Paper: servia para pichações mil pela escola e fora dela. Quantos corações com nomes neles não se viu, feitos com Liquid Paper?
E nem precisava ser de alguma forma ligado à escola para ver isso. A molecada melequecava tudo com aquilo, de bancos de jardins a postes de iluminação pública.
Lembra disso?
Eu queria saber qual é a base de cálculo para o número de folhas por matéria que aqueles cadernos universitários para 10 ou 20 matérias continham.
Bom, posso fazer um top 2 do meu material: caneta e um caderno qualquer. Isso de borracha, lápis eu sempre pedia emprestado…
E tinha uma epoca de primário que as professoras pediam “plastico leitoso” ou algo assim para colocar na mesa. Se tivessemos guardado aquilo, com certeza estaria numa galeria de arte, pq era uma beleza pra desenhar…
Bom, daqui a pouco respirar vai dar cancêr tb, ta loko!
Faltou falar da mochila!
Adorei a imagem da lasanha de liquid paper, hahaha.
Eu tive uma mochila da Company, Bianatriz!!!
Sensacional esse seu top 5! E eu adoro tops, né, claro!
Vamos à réplica:
– Eu SEMPRE botava a TK Plast na boca.
– Melhor do que a Kilométrica era aquela caneta que dava pra apagar. Inútil, mas inesquecível! Hehehe!
– Melhor do que a Poli era a lapiseira Pentel. Eu tenho de todos os tamanhos até hoje, muito bem guardadas em casa. Já que não fabrica-se mais, são valiosíssimas. Acho.
– Meu estojo era desses com elásticos de causar inveja! Rá! 😀
Sem mais, subscrevo-me.
Abraço!
Trotta
Tudo muito bonito até que o Brasil abriu a economia para a entrada de um monte de porcaria de origem paraguaia/chinesa. Sobre estojos, em uma dada época veio a moda de uns estojos de lata. Eles não eram nada prático, eram apenas de lata e talvez com uma estampa fofuxa que agradava principalmente as meninas.
O problema era que eles tinham uma forte tendência de ir ao chão feito manteiga no pão. Pra agitar uma sala de aula de pré-adolescentes não precisa mais do que um belo barulho de lata e lápis e canetas voando por todo lado.
Os professores odiavam estes estojos. Enfim, eu só quis dizer.
Ahhhh… Adorei esse post, me levou no tempo! Na minha época não tinha o liquid paper ainda, só aquela borrachinha que era um lápis.
Eu só fiquei imaginando se vc conseguiu lembrar todos os detalhes de memória, ou se teve ajuda do “tio” Google,kkkkkk
Beijos querido e bom fim de semana.
André,
Você estudou no Rio… Liquid Paper só se usa no Rio. Em Sampa, a garotada usa branquinho. 😉
Abraços,
Nelson
(bilíngüe em carioquês e paulistês)
Quando li a notícia da TK Plast só pensava em uma coisa: Calúnia! :P. Passei minha vida escolar todinha usando essa borracha e continuo muito saudável, eu acho. 😛
O Liquid Paper também era muito eficaz para pintar as unhas das meninas. 🙂
No meu tempo (parece até que sou muito velha), a moda era um estojo gigante que tinha milhares de canetinhas, aquarela, lápis de cor, tesoura, grampeador e mais um monte de coisa que nem um ano era suficiente para usar tudo.
Verdade, a mais pura verdade, tudo que foi dito…inclusive nos comentários, bem lembrando que os Liquid Paper serviam para “pixar” paredes, bancos e tudo que tivesse pela frente!
ahuahauhauh
show de bola.
Na minha mochila tbm tinha aquele chaverinho do paraguai que fazia 8 sons diferentes, aquelas réguas que se entortavam ao redor dos braços, figurinhas da elmachips da copa do mundo….
🙂
Na minha pasta escolar trazia meu estojo de madeira com paisagem, estojo que tenho até hoje, cadernos, apostilas. Na mochila, quando era professora, trazia meus cigarros, óculos, deveres de casa e livros.
Saudades daqueles tempos :~~
A minha última TK Plast foi consumida no segundo ano de faculdade. E meu estojo atual, desde o ano passado, é uma girafa de pelúcia [ok, acho que de certa forma ainda estou em clima de infância :P]
Na minha escola era uma guerra, digamos, fria. Era um sumiço geral de coisas, menos caderno claro. O legal é que sempre tinha gente que aparecia com coisas novas no meio do ano, sem motivo aparente. Até que a diretoria resolveu tomar providências e adeus à atividade pré-criminosa do povo…
borracha tk é questão de honra, para apagar os desenhos sem rasgar o papel.
o caderno universitário foi uma conquista também, mas usado cada vez menos para escrever, só desenhar a partir da última folha até encontrar as poucas páginas de texto.
Ai, que saudades daqueles tempos…. Bianatriz, se minha memória ainda vale alguma coisa, quem tinha a mochila da Company, sempre usava um tenis OP, de veludo, tipo aquele modelo Iate da Rainha….. é, mas eu tb era do grupo que não podia ter…. rs