Agora a Copa do Mundo ficou interessante

É óbvio que o Mundial não teria a menor graça sem as seleções coadjuvantes. O que seria de nós sem ter uma seleção incrível como Togo? Foi a primeira a chegar na Alemanha, teve técnico indo embora e voltando dois dias depois, hino nacional errado na estréia, ameaça de boicote em função da premiação… A Fifa poderia pular essa e outras etapas cansativas e que não servem para nada, e simplesmente decretar: a Copa começa agora.

Afinal de contas, por uma dessas coincidências do futebol, seis das oito seleções já conquistaram a taça que permanece em disputa. Todos eram cabeças-de-chave em seus grupos. Os únicos “favoritos” que não chegaram foram México e Espanha, o que, convenhamos, não surpreende. Assim, estou bem perto de acertar o primeiro “eu já sabia”: há um ano disse aqui: foram 17 mundiais e apenas sete campeões, e desta vez, novamente o campeão será um dos mesmos de sempre. O segundo diz respeito ao não-hexa, mas enfim, vou continuar torcendo para queimar a língua.

Sem mais delongas, vamos ao retrospecto das oitavas, além de alguns pitacos para os jogos que vão parar o planeta na sexta e no sábado.

Primeira final antecipada – Os alemães chegaram ao Mundial desacreditados. Ninguém dava nada pela molecada comandada pelo “norte-americano” Klinsmann, achavam todos inexperientes e dependentes do talento de Ballack. Pois os jovens atletas mostram fôlego para calar os críticos e, unidos pelo país, não tiveram qualquer dificuldade para ganhar da Suécia por 2 a 0. Aliás, desde a primeira fase, os suecos não mostraram vontade alguma de ganhar qualquer coisa nesse Mundial.

O grande problema da Alemanha está no adversário das quartas: a Argentina. Os países já decidiram a Copa duas vezes. Na primeira vez, em 86, brilhou a estrela de Maradona. Na segunda, em 90, Dieguito viu Brehme cair na área e o árbitro marcar pênalti, fato o que ficou engasgado na garganta dos hermanos. Tudo bem que a alviceleste demorou 120 minutos para eliminar o esforçado (ao menos nesse jogo) México, num chute que o Maxi Rodriguez jamais vai repetir em sua vida. Mas vai ser um jogo duríssimo, sem prognósticos.

Ok, se eu tivesse dez fichas, apostaria seis na Alemanha, vai.

Única chance de zebra – Desde 94, sempre aparece aquela seleção meteórica, que chega longe naquela semana e, em seguida, volta para o limbo. A Bulgária do carequinha Letchkov tirou do caminho os detentores da taça e favoritos alemães. Quatro anos depois, sobrou novamente para a Alemanha, que caiu diante de Davor Suker e a estreante Croácia. Há quatro anos, duas estreantes disputaram uma vaga nas semifinais, e os turcos comandados por Hasan Sas e Mansiz, além do inútil Hakan Sukur, eliminou Senegal.

A diferença é que búlgaros, croatas e turcos cresceram a olhos vistos durante os Mundiais que disputou. O que não aconteceu com a Ucrânia, que tem um andarilho em campo com um rótulo “Shevchenko” nas costas. Chegaram até aqui graças às duas babas de seu grupo, seguido por um horroroso empate sem gols com a Suíça. Contaram ainda com a péssima pontaria dos fazedores de relógio e chocolate, em uma disputa de pênaltis tão deprimente quanto a própria partida.

Com esse retrospecto ridículo, qualquer um diria que a semifinal está nas mãos da Itália. Mas não é bem assim. A Azzurra sai de campo com um zagueiro a menos a cada partida, e apesar de mostrar força conjunta, não foi capaz de marcar um único gol na Austrália em quase 90 minutos. Aliás, os comandados de Guus Hiddink até mereciam a classificação, não apenas pelo desempenho, mas também pelo pênalti inexistente. Enfim, o holandês pagou agora pelos erros do juiz em 2002.

Não está exatamente nas mãos da Itália, mas ainda acredito na Azzurra semifinalista.

Torcendo por Felipão – Tudo bem, admito meu erro: apostei em Inglaterra campeã mundial. Estou arrependido, apesar de ainda não ter errado meu palpite. Mas o fato é que os ingleses conseguiram colocar em campo um bom número de atletas renomados, habilidosos… Mas que não jogaram absolutamente nada! O único gol da equipe contra o surpreendente Equador saiu do pé de Beckham, que estava tão meia boca a ponto de passar mal e vomitar em campo!!!

(Aliás, só não publiquei a imagem aqui para atender a um pedido feminino: “você é um homem superior, e homens superiores não fazem isso”).

Como também apostei em República Theca na semifinal, posso jogar meu palpite pelos ares a favor da minha simpatia por Portugal e por Felipão, que conseguiu o milagre da classificação com um gol no primeiro tempo, mas sem sua “estrela” Cristiano Ronaldo, com dois expulsos e diante de uma Holanda altamente ofensiva, mas por sorte, inexperiente. Muitos vão lembrar desse jogo como uma das coisas mais feias da história, graças aos 12 cartões amarelos e os quatro vermelhos. Para quem já viu um jogo da Libertadores, especialmente os gremistas, não houve qualquer novidade.

E eu não duvido que mais um milagre venha pela frente.

Segunda final antecipada – Pessoalmente, estava torcendo pela Espanha. Até usei minha camisa vermelha, para dar apoio à Fúria diante dos mal-acabados franceses. Mesmo que, no fundo, um confronto Brasil x França soasse melhor, não só para caracterizar a revanche de 98, mas também pelo fato dos franceses estarem meio “passados” – haja vista os empates medíocres dos Bleus na primeira fase.

Só que até os espanhóis já sabem: a Espanha sempre chega favorita, mas sempre cai antes das semifinais. E a amarelada, desta vez, veio logo nas oitavas. Não adiantou nem sair na frente: os cururus viram Zidane ressurgir das cinzas e comandar a virada por 3 a 1. Mas enfim, muitos brasileiros comemoraram.

Mas antes disso, tiveram que aturar mais uma partida ao estilo Parreira: não fosse a lesão de Robinho, certamente estaria certo em dizer que jamais a escalação dos dois primeiros jogos seria repetida. Pois foi, e a burocracia em campo voltou. É ótimo, mas ao mesmo tempo horrível ter que aplaudir o sistema defensivo, afinal de contas, todo mundo espera o mínimo dos criativos homens de frente. Ainda bem que Gana só tem habilidade, mas não sabem marcar nem chutar à gol. Vai ficar para a história das Copas o placar de 3 a 0, o que pode fazer algum incauto falar: “puxa vida, que moleza”. Vai parecer o Parreira e o seu “o show é o placar”. Blé.

Como somos exigentes e desconfiados por natureza, já recebi do meu amigo Sakate o aviso: “tá com um cheiro de a história se repete no ar… 20 anos depois, Brasil x França nas quartas, jogo no sábado…”. “Mas é só não colocar o zico pra bater pênalti”, lembrou Lello. Ou o Robinho, o “salvador lesionado” da vez.

O “mistério” de Gana – Muitos poderiam perguntar, antes do confronto desta terça-feira: se Gana teve tanto sucesso nas categorias de base em seu histórico, por que demoraram tanto para chegar a uma Copa do Mundo? O UOL traz a resposta: a desconfiança de que seus times sub-17 e sub-20 eram, na verdade, sub-30 ou 40, fez com que grandes atletas simplesmente acabassem ao atingir uma idade considerada normal para um jogador. A história da “panelinha”, que lembra as antigas birras entre Rio e SP no nosso século passado, também é bastante curiosa.

Falando em Brasil… – Não perca a viagem e clique nessas duas sensacionais matérias especiais da GE.Net. Enquanto Brasil e Japão jogavam, o Jardim Irene de Cafu e o Morumbi de Kaká não escondiam seus contrastes, mas eles se diluem em um mesmo grito de torcida. Cinco dias depois, foi a vez de abordar pessoas que, por uma razão ou outra, não podiam parar para assistir ao jogo. Situação inusitada do dia: coveiros gritando e comemorando durante um enterro no Cemitério da Consolação…

Bagunça coreana na web – Os coreanos são conhecidos pelo grau índice de alfabetização (quase 100%) e conectividade na rede (número bem próximo disso). A surpresa vermelha da última Copa também transformou os asiáticos em apaixonados definitivos por futebol – e realmente, é impressionante ver a torcida gritando “Daehan Minguk”.

Paixão exagerada vista também na rede após a derrota para a Suíça: os coreanos contestaram a vitória por 2 a 0, graças aos erros do árbitro argentino Horacio Elizondo. Indignados, os internautas coreanos vandalizarem todos os sites que conseguiam – este blog descreve ações curiosas, incluindo uma enxurrada de e-mails ao site oficial da Fifa. Resultado: acessos coreanos bloqueados. Nem a Lucia Malla, que nada tinha a ver com isso, conseguiu navegar no site oficial da Copa.

Em compensação, os coreanos que estiveram em Leipzig após o empate com a França, mostraram outro comportamento: fizeram todo o trabalho de limpeza, faclilitando o trabalho dos garis. Vai entender.

Ô Louco, meu! – Essa eu já sabia mesmo: imaginem se uma ínfima parte dos 90 milhões de usuários de celular no país participassem durante todas as 15 semanas da Seleção do Faustão… A expectativa da Globo é de faturar R$ 100 milhões com a brincadeira. No último domingo, a Folha de S. Paulo abriu os olhos de quem não se deu conta: na teoria, os R$ 4 caracterizam a compra de um boletim meia boca, o que dá direito a participação gratuita no sorteio. Balela: as pessoas pagam pela promoção, o que caracteriza crime, já que só a União pode explorar jogos.

Comentários em blogs: ainda existem? (8)

  1. Tudo bem, a minha favorita tb já caiu fora. Mas o meu palpite colocava a França nas Semifinais (na outra chave…)

    Jogão no sábado…

    Um abraço!

  2. 2006 é a minha redenção, após o fiasco de palpites furados em 2002! Estou cravando tudo, viva!!!!!!!!

    Só espero que erre o campeão, de verdade. Que venha o hexa, mesmo que isso signifique eu não ganhar o bolão…

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