Todo mundo deveria ter pelo menos uma madrugada reservada para conversas intermináveis com os amigos. Pessoas adoráveis que trazem histórias de vida e filosofias completamente diferentes das suas. O que fatalmente implica em discussões saudáveis que, analisadas friamente, podem representar sugestões ou determinações de como fazer para ficar de bem com a vida. Ainda que só você tenha o poder de saber qual é, exatamente, a sua “fórmula”. E o grande barato é que não existe “isso está certo” ou “isso está errado”, mas sim “depende do ponto de vista, como tudo na vida”.
Então o sol estava quase no horizonte quando, cansado de defender minhas convicções, imaginei uma frase de efeito para encerrar a conversa e, quem sabe, estimular outro assunto.
– Sabem de uma coisa? A gente fica aqui divagando sobre as nossas atitudes e decisões, mas no fundo, não existe método ou fórmula para viver bem.
– Ah não? Pois me diga: o que você achou do filme 300 de Esparta?
– Ah, é um entretenimento bacana, e o Santoro ficou uma bichona.
– Certo. E você assistiu a Shrek dois?
– Sim, é bem legal.
– Mas você gostou mais do segundo ou do primeiro?
– Olha, os dois se equivalem, mas o segundo é um pouco mais elaborado.
– E o que você acha do Democratas, o partido que até ontem era o PFL?
– O Demo??? Deus me livre.
– E o PP, do Maluf?
– Ah, isso é tudo farinha do mesmo saco.
– Legal. E o que você achou da visita do Papa ao Brasil?
– Ah, me atrapalhou no trânsito, mas teve alguma repercussão… No geral, foi adstringente.
– Esperem um pouco, vocês dois. Eu não entendi ainda a razão dessa sequência de perguntas!
– Não entendeu? Pois o que vocês ouviram foram opiniões, visões de mundo… Pois então!!!!
– Hmmmm
– …
– Justamente.
– De acordo.
– ???
– Você não entendeu?
– Não, pois então o quê?
– Justamente. As fórmulas. Existem fórmulas, não?
– Ah, mas isso não tem nada a ver. Algumas opiniões, dependendo dos temas e das pessoas, mudam rapidamente. Ao contrário de outras, cuja resposta, a qualquer momento, surgem espontaneamente, com total naturalidade. Por exemplo, com todo respeito: em algum momento de sua existência você daria a bunda?
– Eeeeuuuu??? Mas é lógico que não!!!
– Então, não te parece uma coisa óbvia? Essa não tem discussão!
– Pera lá, eu contesto. E se viesse alguém, com uma arma na sua cabeça, e te perguntasse: “a bunda ou a vida!!!”.
– A bunda ou a vida? Caráleo, isso não existe!!!
– Ah, mas vai saber. E se eu dissesse vida, talvez o sujeito ficasse com os dois… Matasse primeiro, e depois…
– Tá, chega. O assunto chegou ao limite.
– Mas você não respondeu. Abundoavida?
– Abundoavida? Abundoavida!!! Então passamos os últimos minutos confrontando nossas angústias e compartilhando experiências, tentando enriquecer nossas vidas e reforçar nossos laços de amizade… E tudo o que você consegue dizer é abundoavida?
– Abundoavida! Vai, responde.
– Não tem resposta. Isso é inverossímil. Não aconteceria com ninguém.
– Mas você sabe, que todo boato é verdade…
– É, e quem não morre não vê Deus…
Ainda bem que, tanto esta quanto outras questões complexas, vão continuar sem resposta. E a humanidade seguirá de acordo com os olhos de quem a vê.
Atualizado: “Abundoavida” já virou frase corrente no dialeto dos meus amigos, com direito a um exemplo de epitáfio (“Deu a vida para salvar a bunda”) e a resposta mais inteligente para esta intrincada questão: “nossa vida é infinitamente maior que certos pudores íntimos”.
A única coisa que não entendi até agora foi o raios da história dos vetores!!!!
Abs
Eita! Vocês estavam sóbrios?
Eu diria que a vida abunda.
Isso me lembrou a história do machão que chegou em casa de madrugada contando que um assaltante o atacou e depois de roubá-lo proferiu “a bunda ou morre”. A mulher perguntou “e aí, o que você fez?”. E o machão: Morri!
Amigos são amigos.
Bjo.
André, só tenho uma resposta pertinente: tum! boaaaato é verdade! hahahahaahah! 🙂
De qualquer forma, não abundam os casos de ‘deu a bunda até morrer’. Ou não.
Dei muita risada! E esse “abundoavida” virou paradigma. 😉
Grande André! Obrigado pelos votos de boa sorte, amigo.
Pois é, mais uma mudança de ares… Mas essa é temporária, a princípio. O negócio é se dedicar bastante e torcer pra que dê tudo certo, né? 🙂
E achei impagável o tal “abundoavida”, hehehe. Abração!
eu li já faz muito tempo… é certamente um assunto inesquecível pra mim, mostrei o post pra vários amigos… enfim é um conhecimento adquirido que vou levar pra vida toda, se a vida tá ferrando voce… é só lembrar que nossa vida é infinitamente maoir do que certos pudores íntimos!!!