Finalmente consegui conhecer uma das mais famosas quermesses do país: a da tradicional Festa do Divino de Mogi das Cruzes, significativa expressão de devoção ao Divino Espírito Santo e uma das mais conhecidas entre todas realizadas no país.
Vai dizer que você nunca tinha ouvido falar nela?
Independente da sua crença, conheça um pouco mais a respeito desta festa folclórica católica, trazida ao Brasil pelos portugueses durante a colonização. Celebra-se a chegada do Espírito Santo sobre os apóstolos: durante dez dias, até o domingo de Pentecostes (o 50º dia após a Páscoa), a festa mobiliza a Igreja, em especial os habitantes de Mogi das Cruzes, onde as primeiras festividades do gênero foram registradas há mais de 300 anos.
Além das orações, intensificadas por equipes de rezadeiras saem pelas casas dos devotos, a Festa do Divino possui suas peculiaridades. Começa com a abertura do Império e a bênção das novas bandeiras – grande símbolo da festa, vermelhas e com o desenho de uma pomba branca, que representam o Espírito Santo. Durante os dez dias de festa, os fiéis encontram disposição para as Alvoradas, cortejos iluminados por lanternas rústicas que saem do Império diariamente, às cinco da manhã, e percorrem a cidade. Alguns destes cortejos contam com a presença da folia do Divino, formada por violeiros e percussionistas que cantarolam versos conhecidos pelos mais assíduos.
O momento mais tradicional da festa é a Entrada dos Palmitos, que remete aos tempos onde plantadores comemoravam a fartura de suas colheitas. Até hoje, a mega-passeata reúne dezenas de carros-de-bois enfeitados com fitas e flores. Hoje em dia só não tem mais palmito: com a ameaça de extinção das plantas, apenas folhas de palmeiras enfeitam o cortejo, acompanhado ainda por tradicionais bandas, congadas e suas coreografias.
Mas vamos ao que nos interessa: a quermesse. São centenas de voluntários na cozinha, preparando os pratos típicos da festa – entre eles o tradicional afogado, caldo preparado com carne, batata e farinha (centenas de quilos destes diariamente) e o não menos tradicional tortinho, bolinho frito de farinha de milho e carne moída. As chamadas “abelhinhas do Divino” passam dias preparando os doces que serão vendidos nas barracas da quermesse – nova mobilização de voluntários para atender cerca de 20 mil pessoas por dia. No fim da noite, sobra pouca coisa: dá pra tomar, por exemplo, um café caipira: água fervida num forno de barro, café passado no coador de pano e adoçado com rapadura, sô.
Tudo isso organizado pelo festeiro, nome que escolhido um ano antes pela comunidade e chancelado pela diocese – mais um dos inúmeros detalhes cujos devotos fazem questão de manter intactos ano a ano. Se a essência, as tradições e valores religiosos não mudam, o mesmo não pode-se dizer do envolvimento e participação da população, que cresce de forma surpreendente a cada Festa do Divino. Milhares de mogianos que agradecem, pagam suas promessas, fazem suas preces e reforçam sua fé ao Espírito Santo. Louvado seja… Amém.
(Postado em 01/06/2004)
Café adoçado com rapadura deve ser bão dimais da conta, sô!
Esse afogado desse ser bom!
Você provou algum deles?
Tardo mas compareço. Agora, elucidada emplamente a festa do Divino, podere iir dormir mais curta, destruída e …
Boa noite, André. E amanhã tem mais.
Quem já trabalhou na TV Diário, afiliada da Rede Globo de Mogi das Cruzes, já sabe como é: “Estude a Festa do Divino, que é a mais importante que temos por aqui”. Tenho até hoje o livro que ganhei de um entrevistado especialista no assunto.
É uma festa folclórica, promovida pelo povo, não é reconhecida oficialmente no calendário da Igreja, mas que exprime bem a devoção do todos.
Participei das quermesses, fiz entradas ao vivo, comi o afogado, escutei a música do Ivan Lins repetidas vezes, trabalhei muito. Mas valeu a pena! É material farto e rico.
Parabéns pelo material, Marmota. Me ajudou a matar as saudades!
Não conhecia a festa – acho que não sou o único – mas como você a descreveu perce muito com as “sagras” locais, as festas beneficentes que começam nesta época do ano em todas as paróquias.
Uma curiosidade: Corpus Christi não é feriado por aqui.
Passei para informar que o blog “Faça a sua Parte” está com uma série de debates ambientais em preparação à blogagem coletiva que ocorrerá no dia 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente. Segunda-feira 26, estarei publicando um post meio provocatório e gostaria de receber a sua visita lá.
http://www.verbeat.org/blogs/facaasuaparte
🙂
Excelente o texto sobre o “Divino” de Mogi.
Esta festa é laica. Homenageia uma criança que representa o futuro e exibe a pomba como símbolo da paz. Em alguns locais a igreja católica deu apoio ou acolheu, mas na origem representa a humanidade.
Em Alcântara,no Maranhão,também tem.