Brasília (DF) – O seminário que estou participando trata sobre tendências do jornalismo multimídia, discutindo uma série de ferramentas e conceitos, entre outros assuntos da área. Num debate amplo como esse, normalmente surge a velha pergunta: o jornal impresso está com os dias contados?
Ainda não vi razões suficientes para mudar minha opinião: apesar do preço do papel, da redução de tiragens e de redações, acho muito difícil o impresso acabar. Opinião compartilhada por muitos participantes do evento – com uma ressalva: eles precisam parar de publicar as notícias que todos já viram no dia anterior.
Mas há quem enxergue o desaparecimento deles, tudo questão de tempo. Antes de também dar a sua resposta, avalie os argumentos do Luiz Alberto Marinho, colunista do site Blue Bus e especialista em marketing. O texto a seguir saiu na revista de bordo da Gol de fevereiro.
No fim do ano passado, a Associação Nacional dos Jornais anunciou um pacote de boas noticias sobre periódicos no Brasil. “A diferença do jornal na vida dos brasileiros”, encomendada pela ANJ ao Ibope Opinião provou que leitores têm maior consciência política e social e mais chances de conseguir emprego. A pesquisa confirmou também a alta credibilidade dos jornais, que merecem a confiança de 74% dos brasileiros.
Mas bom mesmo foi o dado do IVC, que apontou crescimento de 4,7% na circulação media dos jornais no pais, entre janeiro e agosto de 2005, depois de seguidos declínios nos anos anteriores. Do Ipsos Marplan veio mais uma notícia favorável – apenas 1% dos leitores do pais lê exclusivamente jornais na Internet e 48% deles têm o costume de ler ambas as versões, impressa e on-line.
Tudo isso foi suficiente para alimentar entrevistas animadas dos barões da imprensa tupiniquim, especialistas em vender otimismo, apesar da seria crise nos jornais impressos em todo o planeta. Entre quatro paredes, entretanto, as conversas devem ser bem mais tensas.
Realidade óbvia – As manchetes dos nossos jornais diários chegam velhas às bancas, de manhã cedo – já fomos informados dos resultados dos jogos, da cassação dos políticos, dos últimos escândalos, assassinatos e desastres pela TV, rádio, internet e até pelo celular. Alem disso, no orçamento da classe média e do povo de baixa renda não cabe o investimento diário na compra do jornal. Esse luxo fica para dias especiais, como uma grande catástrofe ou um título conquistado pelo time do coração.
Por essas e por outras, o mercado publicitário está careca de saber que os jornais, como nós conhecemos, tendem a desaparecer, assim como a vitrola, aparelho de fax e lojas de discos. Recentemente conversei com um executivo da área que me mostrou uma óbvia realidade, para a qual ainda não tinha me atentado – quem da sobrevida ao segmento é, em grande parte, o varejo, para quem ainda é um bom negocio produzir e veicular seus encartes e anúncios de ofertas em jornais. Por outro lado, o crescimento dos classificados na internet sangra uma receita essencial dos diários impressos. A situação é complicada.
Pelos quatro cantos do mundo, os magnatas da mídia já sabem que será na internet que buscaremos a notícia exata, no instante preciso, customizada e no tamanho desejado. A penetração da web está crescendo e em breve mais brasileiros estarão consumindo informação de acordo com suas necessidades específicas. Enquanto esse dia não chega, os jornais brasileiros espalham boas notícias e tratam de vender anúncios, enquanto podem.
Se não quiser opinar sobre esse tema, ao menos me diga: como você viu as notícias mais relevantes dos últimos dias – a salvação dos deputados do mensalão, a destruição de um laboratório pelos sem-terra, a morte do Slobodan Milosevic e a queda anunciada do Delegado Krusty?
Acho que o desaparecimento ou não do jornal da forma como exposta acima depende do horizonte que cada parte está se referindo. Não creio que o jornal irá acabar em pelo menos 10 anos. Mas talvez em 20, ele não seja mais como o vemos hoje, em formato papel. Talve seja algo totalmente onipresente, instantâneo, universalvemente acessível e colaborativo.
O que sustenta o jornal em papel de hoje, não é o varejo, mas sim o leitor de final de semana que quer um pouco de distância do computador nos dias de descanço. Esse sim alimenta a publicidade do varejo que por sua vez dá o ganha pão dos jornais. Falo por mim. Durante a semana não toco no jornal papel, vivo de notícias online, RSS, etc. Já no final de semana, nada melhor do que sentar na varanda e ler o bom e velho pedaço de papel.
Li noutro lugar que a grande questão é a cultura das novas gerações que está mudando (ou já mudou). O jovem de 16, 18 anos que hoje não lê jornais e busca notícias e informação na Internet será o formador de opinião daqui a 15, 20 anos. E esses formadores de opinião vão continuar preferindo a Internet ao impresso. Sou fatalista: o jornal impresso deve desaparecer até 2050.
Embora eu passe boa parte do dia na internet, não abro mão do jornal impresso. Lembro que quando começou a TV disseram que o rádio iria acabar…
Eu vou discordar do Fábio Seixas e concordar com a Viva. O jornal do fim-de-semana, sim, esse jornal anabolizado realmente dá mais dinheiro que o jornal do dia-a-dia. Mas não é só isso.
O fato é que a porcentagem de usuários de internet em comparação aos ainda “excluídos digitalmente” e mais, a quantidade de usuários que não são exatamente heavy users, ou seja, os que estão aptos a buscar e usufruir das notícias precisas, exatas, no tempo certo (e quem define isso, hum?), ainda são muito pequenos para acabar com o jornal. Mas um fenômeno já ocorre há anos aqui no Rio. Os jornais populares já superam os jornais de elite em vendas e tiragem.
embora torça para que isso leve muitas décadas ainda, acredito ser uma questão de tempo para que o jornal impresso pare de ser publicado diariamente.
é uma questão de evolução das mídias.