Viagem no tempo

Por Gabriela Zago, do blog ius communicatio

Você não tem tempo para viajar pelo espaço? Ótimo. Vamos viajar pelo tempo, então. É mais econômico, mais rápido, e igualmente interessante. Entre na cabine da máquina do tempo, feche a porta, e esqueça seus problemas. Mas como assim você não tem uma máquina do tempo? Bom, então comece inventando uma.

Primeiro, o design da cabine. Talvez isso seja a parte menos importante do produto. Mas alguém que está em férias, ou simplesmente quer relaxar depois de um dia cansado de serviço, não vai querer fazer isso com total desconforto, não é verdade? Então o primeiro passo é pensar no conforto da cabine.

Decidido o tecido alcochoado da poltrona, e a disposição ergométrica dos botões, o próximo passo é decidir como funciona a máquina (sim, tavez isso seja o mais importante). Ela vai ‘para frente’ e ‘para trás’? Você quer efetivamente ir para o passado e para o futuro? Ou abriria mão de uma futurologia básica em nome do aprofundamento da questão do que já passou?

Se bem que permitir ir ao futuro pode ser um pouco perigoso demais. Não só perigoso. Afinal, convenhamos, se nem o homem é capaz de prever o futuro, o que esperar então de uma máquina, criada e comandada pelo próprio homem? Nada de futuro, portanto. A máquina pode tentar fazer especulações, propostas de futuros baseados na conjuntura em que se está vivendo. Mas, para isso, a mente do homem é infinitamente mais criativa. Então, façamos uma máquina que vá ao passado, e simplesmente continuemos a pensar no futuro.

Até que ponto no passado se poderá ir? Pode-se voltar aos primórdios da humanidade, aos tempos dos homens das cavernas, ou um passado, tipo assim, seu primeiro amor na infância, será que já não bastaria? Se nem bem os livros conseguem recriar fielmente o passado remoto, o que esperar de uma máquina inventada por humanos, os falíveis e parciais humanos, que nem sequer vivenciaram tudo?

Voltemos apenas ao passado recente, então. Mas e esse passado, ele poderá ser modificado? Alterar o passado pode trazer conseqüências desastrosas. Pegue o paradoxo do avô, por exemplo. Se você voltasse ao passado e matasse sem querer o homem que anos mais tarde se tornaria seu avô, mas antes mesmo que ele tivesse filhos, quando voltasse ao presente, você teria nascido? Muitas vezes poderia ser ilógico fazer modificações no passado. Em certos passados. Claro que há casos em que se deseja realmente poder alterar o que já passou, quando como perdemos um filho por morte violenta. Bastaria voltar no tempo, desfazer a injustiça, voltar ao presente, e aproveitar a vida ao lado dofilho. Mas aí talvez não tivesse sentido viver. Afinal, a vida perderia boa parte de sua graça se absolutamente todas as atitudes pudessem ser desfeitas.

A máquina iria somente ao passado. Esse passado seria restrito ao passado recente. E, além de recente, o passado seria imexível.

Então, qual a graça de se construir uma máquina do tempo? Sei lá, talvez algo como poder rememorar momentos emocionantes de nossa vida, como o dia em que seu filho disse a primeira palavra, ou o exato momento em que anunciaram o seu nome na formatura da faculdade. A máquina do tempo permitiria reviver grandes aventuras.

Com formato da cabine e modus operandi definidos, resta saber como colocar em prática isso tudo. Construir uma máquina do tempo talvez demande tempo. Mas se é justamente isso o que se quer com o produto, não faz muito sentido ter que gastá-lo para atingi-lo.

Quer saber? Melhor usar os dispositivos que já temos. Uma foto, um texto, um vídeo – tudo são suportes que nos auxiliam a reviver momentos perdidos.

Enquanto Marmota faz o que pode para o tempo parar em setembro, a série Colônia de Férias apresenta textos gentilmente preparados por seus amigos, imaginando o dia em que será possível controlar uma filmadora digital no passado recente.

Comentários em blogs: ainda existem? (8)

  1. Tenho um amigo que sempre falava em máquina do tempo… pra onde iria com uma máquina do tempo… e eu disse a ele uma vez que voltaria uns meses antes da morte do meu pai e o levaria ao médico, pra que ele se tratasse e não morresse. ele ficou meio chocado e disse que não falava disso, que falava em voltar no tempo em busca dos grandes acontecimentos históricos…
    uma foto, um vídeo, um texto não aplacam esse tipo de saudade, infelizmente.
    mas se fosse pra pensar em nossa vida prática, queria muito um teletransporte pra em um átimo estar sempre perto de quem se gosta e está longe. Aposto minhas fichas nos japoneses pra essa empreitada.

  2. Viajar no tempo seria maravilhoso… ou não! Os enredos cinematográficos estão aí pra nos convencer que mexer no passado ou alterar o futuro pode trazer tristes consequências. Melhor mesmo é aproveitar o presente.

    Ps: tá complicado acessar o blog e, também, comentar… tem dado pau toda hora!

  3. Não conhecia a autora…
    gostei.
    pego minhas lembranças e sempre brinco com elas. as boas e as más. são minhas.

    vou ter construir uma maquinona…não quero ir pra frente ou voltar pra trás sem levar quem eu amo…rsss

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