Olha, meu anjo, são duas e cacetada da madrugada, cheguei há pouco no Aeroporto Internacional de Carrasco (que é lindo, parece uma espaçonave), a caminho de Bagulhos, aquele aeroporto furreca que você reviu esses dias. Observo os detalhes e fico pensando se não seria melhor apontar todos os vôos internacionais a caminho do Brasil, durante a Copa, para cá. Talvez a impressão fosse outra. Enfim, o chequinho não abriu, mas tem uma turma que já fez fila na frente do balcão da Gol. Todos brasileiros, pressuponho.
Escrevo estas linhas rápidas para te mandar só agora, voltando para casa, pois levei um tempo para me acostumar a cidade e sair do circuito hotel-congresso-restaurante-hotel. O único “boa noite” que te dei foi graças à rede sem fio da Recoleta Pizza e Parrilla, onde tive que pedir uma Patricia gelada para engolir uma pizza de pimentão gigante… Não quis voltar lá, apesar da panqueca de maçã caramelada. E só nesta sexta, último dia, descobri como é fácil entrar no wifi público da Antel, operadora de telefonia dos uruguaios – a mesma que uso agora. Praticamente o mesmo momento onde encontrei gente conhecida, quase no encerramento do evento.
A propósito, se um dia te pedirem alguma dica de Montevidéu, não hesite em dizer: a mais importante é encontrar a rede da Antel, entrar com o login antel e a senha wifi na página azul que abrir no navegador.
Mas enfim, decidi não comprar caneca para a sua coleção. Nem imã de geladeira. Também não comprei presentes para as outras mulheres da minha vida. Faltou uma voz feminina comigo, indicando o caminho das coisas menos esquisitas nas lojas. As roupas que não existem no Bom Retiro. Os cosméticos que não se encontram naquelas lojinhas que você curte. O câmbio aqui também não ajuda: se 10 pesos valem um real, algumas coisas aqui são muito caras. Tudo o que comprei para distribuir saiu das gôndolas do mercadinho Disco, ao lado do Íbis, na rambla do Rio da Prata: a peculiar erva mate daqui, doce de leite La Pataia, alguns alfajores…
Desde terça pra cá, quando passava horas sozinho caminhando pelo Barrio Palermo, tomando H2Oh de maçã, enrolando em portunhol, caçando wifi grátis (estúpido) ou deitadão na cama do Íbis vendo Libertadores na Fox Sports argentina, clipes latinos no canal Much Music ou a versão uruguaia de TiTiTi (chama-se Cuchicheos!), pensava em como seria lindo ter você ao meu lado. Então decidi, por nós, que eu só vou comprar imã e caneca em Montevidéu contigo.
Sabe, na Avenida 18 de Julio, paraíso das compras perdulárias, tem uma fonte. Um chafariz. Nele tem uma placa, explicando uma lenda bem parecida com a de uma ponte italiana. Aquela onde os casais escrevem as iniciais em um cadeado e o deixam ali, na certeza de que o enlace seria duradouro e, mais importante, voltariam ao Uruguai.
Passei alguns minutos diante da imagem, enquanto comia medialunas com suco de laranja no café da esquina. Um cadeado representa a pior das sensações que uma relação pode nos dar. Trancar dois nomes em algum lugar deve ser sufocante, não dá brechas para pensarmos no que desejamos genuinamente. E por mais que esteja claro que minha sina é viver sentindo a sua falta, eu jamais prenderia você.
Ao mesmo tempo, eu via naquele chafariz casais de mãos dadas aproveitando aquele instante… Então eu pisco meus olhos, viajo para o escadão da Gazeta e te vejo de vestido vermelho. Respiro outra vez e volto para Florianópolis, Porto Alegre, Rio, Ubatuba, Parati, Penedo, Santiago… Abro os olhos novamente e já consigo enxergar Salvador, Fortaleza, Beto Carrero, Buenos Aires, Japão, Paris – pena que não vamos ficar no Ritz, porque está em reforma…
Ei, esqueça o que te incomoda por um instante, feche os olhos e segure a minha mão. Vem caminhar pela calçada da 18 de Julio, usando aqueles agasalhos que você só veste comigo. Vamos prender um cadeado na fonte e deixá-lo ali para que qualquer transeunte lembre qual é o melhor lugar do mundo para se estar: no abraço de quem a gente ama.
Uia, já estão chamando meu voo. Chega de escrever, preciso me despedir do Uruguai e de ti. Assim que desembarcar naquela zona, já vou ter meu celular de volta. Besitos, te extraño mucho! Saludos!
Belo texto Marmota ! Feliz por sua volta !
Interessante a reflexão sobre o cadeado, de estar preso a outra pessoa. Não deveria ser assim ! 🙂
Meu querido! Essa ideia dos cadeados é bem singular e agradável, mas, infelizmente, não vinga sempre. Aqui em Recife tiveram a ideia de fazer algo semelhante, no centro da cidade. E por algumas semanas virou point dos casais da cidade. Mas, num belo dia, roubaram as grades – e até hoje não apareceram…
Aqui nessa terra, mesmo se plantando, nada dá…
Abraços!
“o melhor lugar do mundo para se estar: no abraço de quem a gente ama” É isso!