Quinto dia: bamo tudo pra fora!

Família grande é um negócio complicado. O pai de Marmota tem doze irmãos, que somados aos seis de sua mãe, resultam em dezoito tios, centenas de primos e uma quantidade incrível casas para visitar. Parte delas na zona rural, bem próximo a região onde todos viveram boa parte do tempo. Por aqui, ir para a “zona rural” quer dizer “ir para fora”.

Passo do Vieira, distrito de Capão do Leão
Hoje é 30 de dezembro de 2002

Acordei disposto a dar uma volta no centro da cidade. Mas logo após o café, mudança de planos: meu pai resolveu que a nossa "viasaca" lá fora começaria hoje mesmo, prometendo ainda voltar para a casa da vó em menos de 24 horas, para que dê tempo de ajeitar as coisas para a entrada do ano.

Aqui cabe uma rápida explicação: o que chamamos de "viasaca", forma contraída da expressão via sacra, é parte obrigatória do nosso roteiro de férias. Foi por essas quebradas que os meus pais e seus irmãos viveram boa parte da vida deles, e alguns dos meus tios ainda vivem aqui fora. O percurso que o meu pai quer fazer desta vez inclui paradas nas casas de cinco irmãs em um dia.

Vai ser muito difícil. Por um motivo bem simples: não adianta chegar em cada uma delas e dizer que "estamos fazendo uma visitinha rápida". Não existe isso por aqui. Visita mesmo tem que corresponder a uma refeição - seja almoço, café da tarde ou jantar. Em linhas gerais: se não comer, não é visita! Convenhamos: mesmo que isso atrase um pouco a estratégia, isso não é fantástico?

Paramos primeiro na tia Neli, a mais velha das irmãs do meu pai. E por lá, sucesso: tomamos o café da tarde, atualizamos o "boletim médico" de boa parte das tias e seguimos em frente. A próxima é, coincidentemente, a tia Zeneida, a mais nova entre as mulheres. Segundo o meu pai, seriam alguns minutos antes de ir para a casa da tia Maria - as três moram na sequência, mas com alguns bons metros de estrada de chão entre elas.

Mas foi aqui na tia Zeneida que o passeio degringolou. Por um motivo bem simples: não demorou para o tio Vilmar sair do galpão com dois caniços e convencer-nos a tirar alguns jundiás do açude. Aquilo foi música para os ouvidos do meu pai e do Dani, que devem ter mais genes rurais nas células do que eu...

Mesmo debaixo de uma fina garoa, a pescaria levou algumas boas horas. E rendeu seis belos exemplares de jundiá - um deles, fisgado pelo Dani, era deeeste tamanho! Saquei o meu rádio de ondas curtas do porta-malas e, saboreando peixe frito e chimarrão, observamos o sol se perder no horizonte ouvindo emissoras de Piratini, Pedro Osório e redondezas. Mais tarde ainda consegui sintonizar a Rádio Bandeirantes em 31 metros, deu para ouvir as manchetes do Jornal de amanhã.

No fim da noite, já saboreando uma pratada de doce de leite, ouço atentamente aos causos dos meus tios ao lado dos meus pais, desde piadinhas até histórias do arco da velha, como um tal "Deuzinho do Piratini", caso que ganhou as manchetes dos principais jornais há mais de vinte anos. Tinha a ver com um sujeito que "tinha ligações com o demônio" e que teve a audácia de matar a mãe e comer seu coração. Queriam acabar com a minha sobremesa! Enfim, hoje em dia acontece tanta coisa bizarra e, dias depois, parece ter sido tão banal...

Pois bem, uma das tias à tarde e outra à noite. Ainda restam três. Como a tia Maria e a tia Geni passaram por maus bocados neste ano, certamente vamos ficar mais tempo com as duas antes de voltar para Pelotas no fim da tarde. Ao contrário dos anos anteriores, quando a "viasaca" durava pelo menos três dias... Pena que o tempo não possa voltar. Mas amanhã tem mais!

Comentários em blogs: ainda existem? (14)

  1. É engraçado esse choque cultural que a gente tem quando chega no interior. A minha família tem também uma “viasaca” que começa no interior de São Paulo e desce até Santa Catarina. É engraçado (desde que dure pouco). O que mais me irrita são aqueles comentários dos tios que moram “lá fora” : Fulano não consegue fazer isso fulano é da cidade. Fulano não conhece não sei o que fulano é da cidade. Tudo bem… pelo menos eu sei andar de metrô e não fico tonto de subir no elevador. Um grande abraço e boa sorte no BBB

  2. Também possuo uma grande família. O problema é que todo a minha família mora na mesma cidade Bragança Paulista. Nos ultimos 10 anos vem havendo uma migração dos Brandões para essa cidade. Com isso não é só nas grandes festas do ano que tem as visitas mas todos os finais de semana 🙂 Ao todo são 47 pessoas espalhadas por 11 casas. Esse número vem aumentar pois alguns primos já começaram a se reproduzir 🙂

  3. Marmota meee filho…. Que “tur” tu fizeste aqui no sul hein? até o Capitólio visitaste…rs…(cheirão de mofo lá né?).Capão do Leão é “tri”bucólico… legal que poste essas coisas de nossa cultura. Tem taaanta coisa nesse Brasil!A propósito: Adorei a camiseta Vita C (antigripal..rs)Beijos.

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