Há tempos registrei aqui meu ponto de vista sobre a celeuma do diploma de jornalismo. Resumidamente: nunca vi problemas no fim da sua obrigatoriedade (decidida nesta quarta-feira pelo STF), por considerar que nem toda formação acadêmica resulta num bom profissional e vice-versa. Mais do que isso: esse antigo debate normalmente só consegue “fazer espuma” através de argumentos engraçados – constatação evidente ao observarmos algumas reações pavorosas no Twitter.
Enfim, agora que a questão foi resolvida, qualquer debate mais acalorado vai parecer aquele sobre como era boa a seleção brasileira de 1982. De qualquer forma, estou com o Alec Duarte: sempre valorizei a formação acadêmica (antes mesmo de direcionar minha carreira para esse ramo), e quem consegue aproveitar a sala de aula de verdade torna-se um profissional diferenciado. Vou mais longe: paralelamente aos debates referentes às novas diretrizes curriculares, vão surgir outros modelos – como especializações lato sensu direcionados a quem já possui graduação em outra área.
Pessoalmente, sempre vi com bons olhos essa possibilidade. Soube da existência dela há uns seis anos, quando um amigo (o Leandro Rodrigues) decidiu fazer uma pós-graduação na área em Barcelona. O fato de ser o único brazuca no curso não o assustou tanto quanto o conteúdo das primeiras aulas: “eram conceitos básicos, como fazer um lide, essas coisas”, contou certa vez. Notícia velha para ele, formado na Cásper, mas necessidade para os demais – filósofos, advogados, sociólogos, entre outros graduados. Tempos depois, revi o tema nesse artigo do José Nello Marques, defendendo a substituição da graduação tradicional por uma especialização do gênero.
Não acredito que um modelo vá substituir o outro por decreto – apenas em função de uma potencial obsolescência do atual curso de jornalismo. De qualquer forma, quem se preocupa com a educação em qualquer nível deve encarar o fim da obrigação do diploma como uma oportunidade para fortalecer aquilo que realmente importa em qualquer profissional: bagagem cultural, capacidade de interpretação e organização, iniciativa e visão estratégica, bom senso… Essas coisas que tanto uma boa faculdade quanto a vivência de mercado deveriam oferecer.
Enfim, ao menos em duas coisinhas todos concordam. A primeira: além dessa discussão, acaba também aquela sobre blogueiros versus jornalistas, ainda mais esdrúxula. A segunda: qualquer curso de jornalismo deveria obrigar seus alunos a atestarem, por uns três ou quatro anos, votos de humildade.
“Um chefe de cozinha não precisa de diploma para ser um bom cozinheiro…”.
Realmente. Vendo por este lado, poderíamos dizer?
– Um arquivologista não precisa de graduação, basta ter um bom senso de organização.
– Qual o motivo de Artes Cênicas? Qualquer um pode interpretar.
– Biblioteconomia… bobeira, é só arrumar e cadastrar livros.
– Ciência da computação. Mais desnecessário ainda, principalmente com esse acesso a tanta informação que a internet nos dá, só não aprende informática quem não gosta da área.
– Relações Públicas. Hmm, qualquer político já é graduado nessa área afinal, se não tivesse uma relação pública boa não seria eleito
– Educação artística? Pra quê isso? Meu primo pinta quadros bem de mais, minha tia então… ela bota muitos formados em educação artista no chinelo.
– Esporte. Vamos chamar os nossos craques do futebol (viva o Brasil). Concordo que poucos dos graduados nessa área jogam tão bem quanto eles. Chamemos um cabeça-de-área para dar aulas de esporte
– Música. Temos vários MC’s… é uma injustiça considerar que eles conhecem menos de música que um graduado numa faculdade.
– Cinema: Injustiça! Temos várias pessoas que fazem filmes para o Youtube. Como podemos dizer que eles não têm a mesma capacidade de alguém que se formou em Cinema?
– Dança??? Temos várias rainhas de bateria em todos os carnavais.
– Filosofia. Isso é graduação? Pelos comentários do presidente do STF, Gilmar Mendes, uma pessoa pode ser um ótimo filósofo somente soltando palavras bonitas com interpretações próprias e com certeza seria muito mais profissional que um cidadão que estudou se graduou para a área mas não seguiu a linha da escrita de livros, textos, versos.
– Hotelaria??? Não entendo, bastaria ser educado e, segundo o STF, não é necessário ter uma faculdade de hotelaria para ser educado. E se quiser trabalhar com turistas internacionais, basta fazer um cursinho de idiomas e ter fluência que seria o suficiente.
– Turismo. Não seria o mesmo que a hotelaria, pensando e seguindo o comentário do presidente do STF Gilmar Mendes?
Bom, é claro que discordo de tudo que está escrito acima. Só estou citando alguns exemplos da posição ridícula que o grande presidente e o próprio STF assumiu derrubando a obrigatoriedade do diploma de Jornalismo para exercer a profissão. Deplorável.
Ass.: Um Analista de Sistemas (Bacharel em Análise de Sistemas) ou, como o STF decidiu, também um jornalista 🙁
Bem, já vi algumas reações das mais diversas na internet sobre esse assunto. Creio, que mesmo sem a obrigatoriedade, um veículo de informação sério não vai se aventurar a pegar qualquer um para produzir conteúdo. Por outro lado, abre-se um novo leque para pessoas que tem talento, mas possuem formações em outras áreas. Sinceramente, não tenho saco para fazer outra gradução. Mas, um latu sensu em jornalismo seria algo muito legal. Principamente se pudesse digirir os estudos para o lado do fotojornalismo.
Eu faria uma especialização dessas fácil, fácil.
[]’s de um bacharel em Direito.
eu não ia comentar porque acho que já deu no que tinha que dar esse assunto, mas o comentário do gilson me instigou.
ele disse que “um latu sensu em jornalismo seria algo muito legal. principamente se pudesse digirir os estudos para o lado do fotojornalismo.”
lembrei do quanto adoro fotografia e do quanto esperei ansiosamente pela matéria na faculdade… e do quanto foi decepcionante… então, também adoraria fazer um latu sensu em fotojornalismo que nem ele.
mas no final das contas quero mesmo é o mestrado de estudos literários. 😉
“qualquer curso de jornalismo deveria obrigar seus alunos a atestarem, por uns três ou quatro anos, votos de humildade.”. Taí, lembro que um dos primeiros textos que escrevi no meu blog foi sobre como eu precisava desviar dos egos – de professores e alunos – para aprender alguma coisa na Cásper. Você tem toda razão, André.
Sobre o curso, meu modelo ideal seria algo do tipo: vc faz um ano de jornalismo básico e mais três da área que pretende seguir, como economia, política, etc. Não sei se na prática é possível, mas acredito que alguma solução que siga essa linha seria muito razoável.
Eu acredito que o diploma é que valoriza o curso acadêmico. E que o Gilmar Mendes fez cagada: http://formigueirocomunista.com/2009/06/a-ordinaria-estupidez-do-gilmar-mendes/
O texto ficou ótimo, a discussão é importantíssima, mas hoje eu não posso deixar de registrar meu protesto futebolístico:
FORA, MURICY!
FORA, MURICY!
FORA, MURICY!
Não aguento mais perder Libertadores para time brasileiro, afe! Cara, você não quer levá-lo de volta ao Beira-Rio, não? Eu topo trocar pelo Tite, na hora!
Em tempo: gostei da decisão do STF, sou particularmente contra a obrigatoriedade do diploma por N razões.
Mas, hoje, me reservo o direito de só pedir a cabeça do Muricy:
FORA, MURICY!
FORA, MURICY!
FORA, MURICY!
Os famosos cineastas brasileiros fizeram faculdade de cinema? Luiz Gonzaga, Cartola fizeram faculdade de música?
Eu prefiro ler a opinião de um músico ou de um esportista, a ler a opinião de um jornalista da área. O André que escreveu primeiro poderia ser editor-chefe do caderno de Informática. Aliás, será que o Gabriel Torres (ex-O Dia, webmaster do Clube do Hadware), fez curso de jornalismo. Assis Chateaubriand era formado em Direito, Francisco José e Wagner Montes também. Marcelo Tas é formado em Engenharia e por aí vai.
Cara, quando eu vejo gerente formado em Contabilidade, me dá vontade de chorar.
Assinado, uma Administradora
Eu acredito que o fim da necessidade de diploma para jornalistas, apesar de muito polêmica, pode ser o estopim da queda de muitos outros destes papéis.
Não digo isso para fundamentar a teoria da conspiração, é muito simples na verdade. Hoje, escreve quem sabe escrever, faz quem sabe fazer, é contratado quem tem sucesso fazendo o que sabe fazer. O meu diploma, apesar de conquistado com muito sangue e esforço (sou filho da PUC-SP, quem estudou lá sabe como a estrutura prejudica), hoje em dia nem sequer é solicitado numa contratação, porque não importa muito o papel, importa os seus feitos, fatos e fotos, aparentemente.
Existem agências que só contratam blogueiros, jornais que só contratam formadores de opinião e por aí vai. Também sou a favor da especialização, e concordo em gênero, número e grau que a pessoa que se forma com esforço se torna uma pessoa diferenciada. Ainda hoje vejo cagadas simples (com o perdão da palavra) que teriam sido evitadas se a pessoa responsável tivesse aproveitado a faculdade, e não só comprado o diploma.
Enfim, se no futuro vai sair na frente quem fizer, escrever e divulgar melhor, independente do diploma, uma coisa é certa: Quem tiver o melhor relacionamento e credibilidade, vence.
Elas por elas, credibilidade é, na minha opinião, a maior entrega que um diploma pode dar…