O diogomainardismo

Divagava esses dias sobre comparações a Diogo Mainardi, coisas como “ele quer ser Diogo mainardi”, “fui xingado de Diogo Mainardi”, “não quero perder tempo discordando da maioria e arrumar futricas”. Enfim.

A história foi adiante: o colunista ratificou, na edição da revista Veja do último dia 15 de junho, a criação de um novo verbete: o “diogomainardismo”. Algo como “ato ou efeito de fazer barulho e instigar pessoas concatenando palavras de forma discutível”. Veja você mesmo.

Virei um insulto. Tutty Vasques assinalou o fato. Quando os leitores querem insultá-lo por causa de um artigo, já não ofendem sua mãe, como antes, mas o comparam a mim. Chamam-no de Diogo Mainardi. Assim como o termo malufismo ganhou a conotação de desvio de dinheiro público, diogomainardismo pode ser definido como uma difamação espalhafatosa na tentativa de chamar atenção. Foi com esse significado nada lisonjeiro que meu nome entrou para o dicionário. Acompanhado por adjetivos como derrotista, frustrado, invejoso, ególatra, leviano, oportunista, mal-humorado. Pouco importa que eu não me reconheça na descrição. Diogo Mainardi se tornou uma entidade maior do que eu. Como Pelé, posso começar a falar a meu respeito na terceira pessoa.

O epíteto Diogo Mainardi é aplicado a qualquer coitado que reclame publicamente de alguma coisa. Do jornalista que denuncia nossa falta de jeito para o cinema ao blogueiro adolescente que se recusa a gostar de uma determinada banda musical. Em geral, trata-se de gente inofensiva que se limita a soltar um comentário gratuito sobre um tema desimportante. Basta pouco para estimular a ultrajante comparação. Atribuíram-me o monopólio do protesto. Desse modo, qualquer um que proteste é automaticamente associado a mim, com tudo o que isso tem de negativo. Os brasileiros sempre preferiram o conchavo e o corporativismo à discussão e à insubordinação. Apesar dessa nossa propensão à canalhice, tivemos grandes contestadores no passado, sobretudo na imprensa. Aparentemente não sobrou nenhum. Ou melhor, só sobrei eu, um palerma, uma caricatura grosseira de quem me precedeu.

Pelas contas de Tutty Vasques, 96% dos cariocas cassariam meu visto e me mandariam embora do Rio de Janeiro. Certamente os mesmos 96% que apoiavam Lula no começo do mandato. A eleição de Lula representou o triunfo do diogomainardismo. Peguei no pé do presidente desde os primeiros tempos, para contrastar a euforia plebiscitária que se formou ao seu redor. Agora a euforia passou. As pessoas se encheram de Lula e, conseqüentemente, encheram-se de mim, identificando-me como uma espécie de parasita do insucesso petista. Cresci como um verme solitário na barriga do governo, alimentando-me da figura de bom selvagem de Lula, com seu palavreado primário e sua malandragem brasileira. Quando Lula acabou, acabei junto. Virei um palavrão. Daqui a alguns anos, por sorte, ninguém mais se lembrará de nós.

Claro que ser identificado como único opositor do Brasil me envaidece. Claro também que não é bom para o país. A identidade cultural brasileira não se baseou em idéias, mas em um ou dois acordes de violão. A falta de idéias não criou o hábito da contraposição, da reivindicação, da argumentação. Quem não está acostumado a argumentar é facilmente enganado. Por isso o Brasil não funciona. Porque a gente forma espontaneamente maiorias bovinas de 96%. Cultura não é rebolar na rua. Cultura é reclamar, achincalhar, protestar, caluniar. Lamento muito que meu nome seja usado para ofender os mais inconformados. Se alguém o chamar de Diogo Mainardi, porém, não se desespere. Eu já fui comparado até a Aracy de Almeida.

Legal. Mas continuo na minha, longe de diogomainardismos…

Comentários em blogs: ainda existem? (10)

  1. Não gosto de tudo que o Mainardi escreve, mas me divirto muito com a crítica ácida que ele possui. Muito provocatória e divertida, mas, às vezes, tenho a impressão que ele gosta de fazer polêmica também sobre si mesmo.
    Ciao.

  2. Hmmmm…. realização total para qualquer narcisista: virar verbete. Discordar é saudável, alguma polêmica idem. Agora, fazer disso caso etimológico e moral é exagero. Outro ponto: por que ninguém questiona a(s) instituição (ões) que cedem espaço editorial para o DM?

  3. Eu sempre achei que o Jabor falava tudo o que pensava, como bem entendia. Até conhecer o Diogo Mainardi… Ele é o tipo de pessoa que consegue despertar nos outros uma série de coisas, que vão da admiração ao quase ódio…
    Eu ainda não consegui formar uma opinião sobre a figura… Muito inteligente, bastante polêmico, mas que tem muita coisa que ele diz que me deixa louca, isso tem…

  4. bem, se esse cara babaca pode escrver o que pensa na Veja, eu posso escrver que penso que esse Diogo Mainard nao passa de um recalcado, de um debil mental. Ele esta empre querendo mostrar, e se mostrar, o lado pior de tudo…Vai embora do Brasil, seu chato.
    Deixo aqui meus maiores sentimentos de furia por esse cidadao.
    Joao Paulo Lima- RJ

  5. Conheci Diogo Mainard quase que por acaso nas páginas da Veja, e desde então não perco nada e me divirto muito com suas críticas ácidas, inteligentes e desconstrutivas. Que pena que a mídia escrita seja tão pouco difundida. Sorte do Lula!

  6. Bem, não tenho muito a dizer. Sei q idade não é documento, principalmente no Brasil, mas de qualquer forma sou apenas um adolescente sonhador. Apesar de 16 aninhos, tenho convicção q os dizeres de Mainardi extrapolam a insignificancia de uma tentativa de se aparecer. Dizer o q pensa é uma arte. é superar a abstração trivial desse meio em q convivemos,ao ler Mainardi tento me superar, rat-se de um estímu-lo e da maneira mais pura de expôr algo simples e raro: a VERDADE. O q falta a cidadões como o q difamou e chingou Diogo é na verdade uma boa dose do mesmo, falta-lhe cair da cama, pq quando o fizer talvez já seja tarde e ele perceba q o mundo, principalmente nosso país não é tão colorido como ele pensa e que o fato de morar aqui, estar diante dessa dura e podre realidade é o q faz de nosso ilustre jornalista figura notavel em nosso meio de comunicação, uma vez q sente na carne o q se passa dentro de nossos limetes administrativos. Abraço ao dono do endereço !

  7. É isso mesmo, li sua obra ” entre tapas e pontapés “, o cara muito divertido e diz muitas verdades sobre nosso País, se 30% do que ele fala fosse seguido o pais seria rico.

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