Mais uma desses motoristas de táxi

Minha primeira impressão sobre o Rio de Janeiro, assim que botei os pés na cidade pela primeira vez, foi bastante positiva: o céu, o mar, o calor… Até encontrar uma na área de desembarque do pequeno Santos Dumont. Dizia mais ou menos o seguinte: “para sua segurança, não utilize os táxis comuns”.

Acabei desobedecendo a regrinha e entrei no primeiro carro amarelo com uma faixa azul que encontrei. O motorista era um sujeito parrudo, cabelos compridos e sotaque típico dos nativos da cidade. No trajeto aeroporto-Botafogo, ouvíamos a Rádio Nacional de Brasília (como se o Rio ainda fosse a capital federal) e trocamos idéias sobre o tempo, política, esportes e “afins”…

Bom, o “afins” pode ser resumido em uma frase proferida por este cover do Mancuso – uma verdadeira patada verbal – ao avistar uma linda moça, já em Botafogo. Pessoalmente, nunca tinha ouvido um comentário tão… Putz, sem definições. Veja você mesmo e faça a sua análise:

– Aih, hoje é seixta… É dia de pereréca tomá leite de canudinho…

Baixarias à parte, desconfio que o delicado motorista fez algumas voltas a mais no aterro do Flamengo, até chegar ao meu destino: desembolsei 15 reais pela viagem, o que considerei um absurdo. Horas depois, no Clube Marapendi, percebi que alguns amigos, que se hospedaram ali na Barra mesmo, pagaram mais de 50 reais pela viagem do aeroporto ao hotel.

A conclusão de que todo taxista do Rio é ladrão caiu por terra quando meu amigo Narazaki e eu entramos no carro do senhor João Milanez no sábado à noite.

– Amigo, quanto o senhor cobra do Botafogo até a Barra?

– Bom, é o que marcar no taxímetro. Mas dependendo do lugar, não sai por mais de 25 reais.

Entusiasmado com o preço, Narazaki fechou este preço e combinou de telefonar mais tarde, quando sairíamos para o Barra Shopping. João ficou ainda mais entusiasmado, obviamente interessado na corrida. Assim, às dez e meia, convocamos o “seu” João, que prontamente retornou a ligação e foi atrás dos dois paulistas.

No caminho, descobrimos que “seu” João é, na verdade, paraibano, mas que já mora no Rio há 39 anos. Explicou todos os detalhes do percurso: Humaitá, Jardim Botânico, Gávea, São Conrado, favela da Rocinha e, finalmente, a distante Avenida das Américas, na Barra da Tijuca. Parou o táxi na porta do shopping, quando o taxímetro acusava 22 reais.

“Não disse que não dava menos de 25? Também, se desse mais, tudo bem, já tinha fechado o preço mesmo”, disse o simpático – e honestíssimo motorista. “Tem muito taxista que se aproveita. Eu não gosto disso, não”.

Isso fez com que o “seu” João se tornasse o taxista oficial da nossa estadia. Sua última viagem conosco começou no legendário e muito bem decorado Hard Rock Café, onde eu, Narazaki e Fernão Ketelhuth falamos, entre outros assuntos, sobre “misteriosos anfíbios que sorviam bebida puramente láctea através de cilindros espeíficos”. Fazia tempo que não ria tanto.

E as gargalhadas continuaram no táxi. “Puxa vida, só vocês três? Mas nem uma menina?”, lamentou, a caminho da rodoviária, destino final de Narazaki e Fernão. “Se não tivesse tão tarde, levava vocês lá pra Vila Mimosa. É baratinho”, brincou, referindo-se a popular zona de baixo meretrício. “Tenho dezesseis sobrinhos. E eu matriculei todos eles lá!”. Que beleeeza!

Olha só, tem maix, aih!

– Quando não estava num táxi, tomava a linha 524, entre Botafogo e a Barra. A primeira vez foi na ensolarada manhã de sexta: paguei R$ 1,20 por um belo city-tour.

– Nessas idas e vindas, prestava atenção na propaganda eleitoral pela cidade. Além dos intermináveis Brizola e Moreira Franco, tem o filho do prefeito César Máia, o filho do Francisco Cuoco, o filho do Chico Recarey, e ainda o Bernard (para levantar a bola do Rio). Mas o melhor slogan, sem sombra de dúvidas: “o Rio precisa de um grande Elói”. Sacaram? Herói, Helói… Uaca, uaca, uaca!!!

– Levy Fidelix, o “candidato do Aerotrem” devia dar um pulo no Barra Shopping e ver o estado em que se encontra o monotrilho, um trem com o mesmo jeitão dessa proposta insana, desativado. Se não deu certo num shopping, por que daria certo em São Paulo?

– Em tempo, conversei com meio mundo, e ninguém vai votar na Rosinha. De onde será que saiu tanto eleitor pra essa mulher? Para o bem do Rio, Rosinha Não!

– Alguns preços dos souvenirs do Hard Rock Café: chaveirinho, a partir de dez reais. Camiseta, 40 reais. Jaqueta de couro, 600 reais. Uma gelada! A propósito, gelado mesmo será o assunto do próximo episódio! Se liga, mermão!

(Postado em 25/09/2002)

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Comentários em blogs: ainda existem? (5)

  1. AHUAUHAUHAUHAUHASUHA…. Definitivamente, alguns moradores do Rio nos fazem acreditar que embaixo de toda aquela areia quente e do exageiro de “Xizes” na dicção encontra-se a boca do inferno.

    A parte da perereca foi o máximo. Pior é que não dá nem pra transformar isso em personagem de curta b. Imagine o tanto de profissonais (ou regionais mesmo) da categoria que entraria na justiça pra receber os direitos por terem seus finos e singelos comportamentos expostos na tela?

  2. Ah, eu resolvi contar a lenda urbana da mulher do táxi… 😛
    Tem uma mulher na cidade… que pega um táxi no dia do aniversário dela e sai passeando pela cidade… aí, quando acaba a volta, ela para em frente a uma casa e pede para o motorista esperar que ela vai buscar o dinheiro… nisso, demora séculos… até que o motorista bate na porta e cobra o dinheiro da corrida… a pessoa que o atende diz que não tem nenhuma moça ali… e ele aponta para um quadro na parede e diz: – é aquela ali, ora!… e a pessoa responde: mas ela já morreu… adorava passear de táxi…
    Ai… só de contar, morro de medo… 😛

  3. Mas que cantada mais nojenta!!! Afff!!

    E que diferença: de 15 para 50…

    Mas tem os legais sim! No Reveillon, fechamos preço com um cara, que cobrou 100 reais para ir de Ramos a Copacabana, na noite dos fogos de artifício, e voltar…

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