A final da Copa representou exatamente o que foi este Mundial: um primor de organização num excelente trabalho de Franz Beckenbauer, endeusado em seu país tanto quanto a heróica seleção, terceira colocada do Mundial; mas ao mesmo tempo uma decepção tecnicamente, com duas seleções nitidamente instáveis disputando a taça. Perdeu o time cujo destaque é um aposentado expulso por uma chifrada em Materazzi. Méritos da Azzurra, com certeza. Mas trocando em miúdos: essa Copa foi como se você levasse uma moça apenas ajeitadinha para um motel cinco estrelas.
De qualquer forma, algumas grandes imagens ficarão por um bom tempo no imaginário popular: provavelmente quem passou um mês inteiro na frente da TV terá algumas boas recordações desta que já é considerada a maior Copa do Mundo de todos os tempos. Aqui vão as que eu consegui lembrar – fique a vontade para lembrar mais algumas.
– Pergunte a qualquer transeunte qual foi o grande jogo da primeira fase da Copa. Aqueles que ainda forem capaz de lembrar certamente dirão Argentina 6 x 0 Sérvia e Montenegro. O segundo gol, de Cambiasso, talvez tenha sido o mais bonito da Copa. Aliás, o lance entusiasmou Galvão Bueno, que passou a partida inteira se referindo ao lance como “toque me voy”. O mala passou esse e outros jogos dos hermanos repetindo essa bomba: ou era a “milonga” ou era o “toque me boi”. Ah, francamente. Nessas horas eu lamento por não ter comprado um Bobueno…
– Outro grande jogo da primeira fase, num tempo em que meu bolão ainda estava em alta: República Tcheca 3 x 0 Estados Unidos. O duelo dos técnicos-clone: Costinha e Dedé Santana. Era a vitória de uma equipe bacana, com um futebol vistoso, diante de um time norte-americano que ficaria ali mesmo na primeira fase. Já estava prestes a encomendar a bela camisa vermelha dos tchecos quando Nedved e Rosicky avisaram, na derrota para Gana: gastamos nosso futebol no primeiro jogo. Malditos!
– A Costa do Marfim parou na primeira fase, mas a virada para Sérvia e Montenegro, somado ao bom futebol nas duas derrotas anteriores, deixaram a torcida chateada com o azar do sorteio. Mas se levarmos em conta os outros africanos da Copa, foram eles que mais festejaram. Quando Dindane, o melhor daquela partida, decidiu “reger” a torcida com os braços, estava dizendo ao mundo: “esperem por nós em 2010”.
– Quem também avacalhou com bolões pelo país foi o técnico Zico, que assim como em 78, 82, 86 e 98, mostrou ser um grande pé-frio em Copas. Depois de sofrer uma virada histórica contra a Austrália, ainda viu Yanagisawa perder um gol espetacular contra a Croácia num dos piores jogos da Copa. Para sorte do Galinho, outras babas como Costa Rica, Togo e Sérvia e Montenegro foram piores na estatística geral.
– Esse cururu já foi citado aqui, mas vale a pena ler de novo: Graham Poll é o nome do figuraça que deu três cartões amarelos para o croata Josip Simunic, na partida contra a Austrália. No fim da história, a Fifa considerou o erro “normal” e relevou. Como fez, bem ou mal, com todos os outros grandes erros da Copa…
– Especialmente com o mais gritante deles, que fatalmente mudaria o destino da taça. Quando o resto do mundo estava torcendo para a Austrália, time que estava dando um suador violento na Itália pelas oitavas-de-final, o espanhol Luis Medina Cantalejo enxergou, e só ele enxergou, um pênalti de Tim Cahill Lucas Neill (obrigado, Wilson) em cima de Fabio Grosso, aos 48 minutos do segundo tempo. Totti converteu e virou herói. Era a vingança em cima de Guus Hiddink, que havia eliminado os italianos quatro anos antes.
– O grande personagem da Copa, consagrado como um dos maiores treinadores do planeta: Luiz Felipe Scolari. Na primeira fase, não fez tantos gestos: pelo contrário, teve que explicar o desempenho medíocre diante de Angola e Irã. Mas na batalha de Nuremberg, contra a Holanda, portou-se como um verdadeiro general. Quando derrubou a Inglaterra, nos pênaltis, já havia conquistado o mundo com o Estilo Felipão – que, infelizmente, vai ficar mesmo em Portugal.
– Duas imagens que me fizeram torcer definitivamente até o fim pela Alemanha. Primeiro, quando o até então carrancudo e mal-educado Kahn dá um abraço no titular Lehmann e deseja boa sorte na cobrança de pênaltis no jogão com a Argentina – e na verdade, o que consagrou o camisa um alemão foi um papelzinho genial com o estilo de cada cobrador. Segundo, quando os jogadores comemoraram a classificação às semifinais simulando um boliche humano enquanto os argentinos decidiram simplesmente brigar.
– Enfim, toda raiva que fiquei da Itália contra a Austrália foi compensada nas semifinais diante dos alemães. Eles poderiam levar a prorrogação para os pênaltis e protagonizar um duelo com dois excelentes goleiros. Mas a Azzurra, tradicional adepta do ferrolho no meio-campo, foi para cima com quatro atacantes. Os minutos finais de jogo, com direito a dois gols surpreendentes, entraram para a história dos Mundiais.
– Não vamos falar muito disso, mas não podemos ignorar: toda passividade e soberba da esquecível seleção brasileira na Alemanha podem ser representada em dois elementos ridículos: o pedido de desculpas da Globo após a leitura labial e a meia de Roberto Carlos.
– Nosso amigo Editor do UOL Tablóide lembra mais algumas belas imagens deste Mundial: as sempre presentes e animadas torcedoras seminuas nas arquibancadas. Teve uma loirinha de camisa amarela escrito “Brazil” no peito contra a Croácia… Ah se ela me desse bola.
– Por fim, ninguém pode esquecer a grande despedida de Zinedine Zidane. Não há dúvida que ele foi o responsável pelo renascimento dos Bleus, especialmente contra a Espanha (perdeu como sempre) e Brasil (perdeu como merece). Tudo ia bem, com direito a gol na finalíssima, até Materazzi falar poucas e boas a respeito da irmã do craque. O revide veio em uma cabeçada espetacular. Tão inesquecível quanto esta cena – que virou um divertido joguinho em flash – foi ver Zizou desolado a caminho do vestiário, passando ao lado da taça. Mais inesquecível até que a cobrança na trave de Trezeguet. Auguri, Azzurra!
Ah, sim, teve o Dadá Maravilha de roxo na abertura da Copa e a musiquinha “celebrate the day, aaay, the day, aaay”. Faltou alguma coisa?
Copa do Urso Bruno – Fora dos gramados, ninguém mais chamou tanto a atenção da mídia alemã quanto Bruno, um simpático urso pardo. O animalzinho de 100kg (mais leve que eu, oras!) vivia na Itália, até se perder pela Bavária, fronteira da Alemanha com a Áustria. A presença do ursinho, o primeiro naquela região em 170 anos, provocou um caloroso debate. Defensores dos direitos dos animais eram solidários a Bruno. Queriam que ele fosse encontrado e repatriado para a Itália. Campanhas com slogans do tipo “eu amo Bruno” circulavam a todo vapor.
Mas ele já estava dando prejúizo a fazendeiros e criadores de ovelhas, e a possibilidade de um ataque a humanos culminou com o assassinato de Bruno, no último dia 26. Sua morte causou comoção na Alemanha, culminando com cortejo fúnebre em Munique. Eu também fiquei com raiva do caçador e com pena do urso Bruno.
Copa do You Tube – Quem precisou daquele provedor do bicho preguiça pra ver a Copa pela Internet quando se tem no ar a coisa mais revolucionária entre todas as aplicações que trazem o rótulo “pensado para web 2.0”? Um dos usuários do YouTube publicou os melhores momentos de todos os jogos. Horas e horas de buscas rendem imagens espetaculares de gols, comerciais, toda sorte de imagens bacanas. Uma salva de palmas para o YouTube!
Cerveja e rivalidade também na Argentina – Não são apenas os brasileiros que sabem fazer propagandas criativas de cerveja. Esse comercial da Quilmes é uma das coisas mais espetaculares que eu já vi. Como a Quilmes pertence a Ambev, patrocinadora da seleção brasileira, a marca concorrente Isenbeck não fez feio e se lançou como a “anti-patrocinadora oficial da seleção brasileira”. No site oficial da campanha, dá para ver os cinco comerciais da série. Paralelamente, lançaram uma promoção polêmica, que inclusive foi proibida: troque duas tampinhas, uma de cada cerveja, por uma garrafa de Isenbeck.
Seleções da Copa – Para encerrar definitivamente o assunto e tocar a vida adiante, lanço aqui a sugestão do Fábio: quem quiser, pode apresentar aqui as suas duas seleçções finais do Mundial. Sim, seleções: como não há qualquer impedimento legal, por que não escalar o melhor e o pior time?
Aqui vão os meus craques. Buffon; Miguel, Thuran, Lúcio e Grosso; Maniche, Frings, Pirlo e Zidane; Klose e Henry. Técnico: Felipão. Agora, os traques: Porras; Cafu, Gamarra, Krstajic e Roberto Carlos; Srna, Xabi Alonso, Rónald Gómez e Ronaldinho Gaúcho; Ibrahimovic e Yanagisawa. Técnico: Zico.
Pronto, acabou. Agora voltamos à realidade. Neste sábado, tem Pirambu x Vitória pela Série C.
Só corrigindo, o “pênalti” da Austrália no Grosso foi feito pelo Lucas Neill, não pelo Cahill.
E, interessantemente, Grosso foi o último cobrador de pênaltis na final e, tecnicamente, marcou o gol que ganhou a Copa…
Cara,
Minha tristeza ao ver Zidane sendo expulso daquele jeito, naquele dia, depois daquela cagada, só se compara ao que senti após os 2 pênaltis perdidos por Raí em 1999, contra o Corinthians do Dida, ou nas derrotas do São Paulo para o Cruzeiro, em 2000, e para o Vélez, em 1994.
Zizou não merecia. O futebol não merecia!
Definitivamente, não era pra ter sido assim…Mas, infelizmente, foi.
Ah, minha Seleção da Copa:
Buffon, Miguel, Cannavaro, Lúcio e Lahn; Frings, Vieira, Pirlo e Zidane; Henry e Klose. Técnico: Luiz Felipe Scolari.
Craque da Copa: Zidane, apesar dos pesares, e até como solidariedade.
Penso depois na Seleção dos Piores e volto aqui.
Comentario altamente nerd: Marmota, toda vez que leio o nome do Srna sempre penso q ele eh um “small RNA” com as letras trocadas do CAPS lock… (a abreviatura de small RNA em biologia molecular eh sRNA). Depois dessa, eu desisto de discutir: sou uma nerd mesmo.
Eu ainda acho que a melhor coisa dessa copa foi o Bobueno. Aqui em casa, na falta de um deles, a gente imprimiu uma foto do queridão e aproveitamos as almofadinhas-brinde do Sucrilhos como munição. A idéia já pegou e pretendemos usá-la nos torneios nacionais também.
Beijo, André!
Grande post, está tudo aí. Agora é acompanhar meu Galo contra o Santo André…
Como esquecer do Roberto Carlos arrumando o meião? E do vomitão do Beckham? Ou do Roonie dando chilique porque foi substituído? Ou da eliminação da incomum da Suíça? Ou do maldito recorde do Ronaldo?
Se os jogadores ficaram devendo no futebol, essa Copa certamente sobrará em histórias.