Ahora me dejen tranquilo.
Ahora se acostumbren sin mí.
Yo voy a cerrar los ojos
Y sólo quiero cinco cosas,
cinco raices preferidas.
Una es el amor sin fin.
Olha, eu nunca fui muito bom em poesia. Na verdade, minha preferência pela prosa nunca teve uma explicação muito convincente. Deve ser da época em que eu gostava de uma menininha que amava poesia. Eu inventei de escrever uns versinhos, mas que na prática, viraram riminhas boboquinhas. Ela não gostou, é claro. Só faltou mandar ler poemas apaixonados de verdade.
Bom, há um ano e meio, decidi aceitar aquele antigo desafio. Durante alguns meses, tratei de ler um poema por dia. Alguns deles, extraídos de um livro chamado “Os Versos do Capitão”, falavam em uma mulher de “pequenos pés duros de osso arqueado”, mas que usava “coroa de cristal, consagrada rainha”, e apesar dos “cem homens entre os teus cabelos”, eles sempre estariam sós, como se tudo que houvesse no mundo fossem “pequenos barcos que navegam para essas tuas ilhas que me aguardam”.
Lo segundo es ver el otoño.
No puedo ser sin que las hojas
vuelen y vuelvan a la tierra.
Lo tercero es el grave invierno,
la lluvia que amé, la caricia
del fuego en el frío silvestre.
En cuarto lugar el verano
redondo como una sandía.
Aqueles versos carregados de paixão, sensualidade e sensibilidade são de 1952, e ao contrário de seus cantos gerais, dos vinte poemas de amor e uma canção desesperada, permaneceram anônimos durante muito tempo. Escondidos com o mesmo amor que seu autor, o chileno Pablo Neruda, sentia por Matilde Urrutia. Eles se conheceram na década de 40, mas só durante o exílio de Neruda, em 1949, eles se reencontram no México.
Daquele instante, Matilde ocupou um lugar que nenhuma outra mulher havia chegado. Apesar de oficializar sua união apenas em 1967, aproveitou a dedicatória de “Os Versos do Capitão” para casar-se de maneira informal: como a Terra e a lei dos homens não poderiam ajudá-los, pediu à lua, eterna inspiração dos poetas, para celebrar o matrimônio, que seria respeitado da mesma maneira. Um ano após esta linda cerimônia, decidiu construir uma casa em Santiago para viverem juntos.
La quinta cosa son tus ojos.
Matilde mía, bienamada,
no quiero dormir sin tus ojos,
no quiero ser sin que me mires:
yo cambio la primavera
por que tú me sigas mirando.
Amigos, eso es cuanto quiero.
Es casi nada y casi todo.
Ahora si quieren se vayan.
Assim nasceu “La Chascona” uma de suas três casas no Chile (as outras estão em Isla Negra e Valparaíso). Significa algo como “A desgrenhada”, “A descabelada”, homenagem do poeta aos cabelos ruivos e em eterno desalinho de Matilde. Como bom capitão apaixonado, prestou atenção em todos os detalhes, transformando a casa no ancoradouro de um eterno navio. As salas e quartos da primeira casa são bem estreitos, e possuem um pé direito baixo. Na copa, uma surpresa: o mesmo armário que guarda a louça revela uma passagem secreta, uma escada em forma de caracol e um segundo piso especial para amigos como Vinicius de Moraes e Jorge Amado.
A segunda casa, separada por corredores de concreto e corrimões brancos, revela algo muito além de um simples bar para confraternizações amplas. Uma sala circular com grandes janelas de vidro proporcionam vista similar a de um farol à beira do mar, como queria Neruda. Um novo corredor separa a biblioteca, enquanto mais um lance de escadas nos leva a mais um quarto – onde Matilde viveu a partir de 1973, quando Neruda foi embora.
He vivido tanto que un día
tendrán que olvidarme por fuerza,
borrándome de la pizarra:
mi corazón fue interminable.
Pero porque pido silencio
no crean que voy a morirme:
me pasa todo lo contrario:
sucede que voy a vivirme.
Sucede que soy y que sigo.
Passaram quase 55 anos, e “La Chascona” virou um museu dedicado à obra de Pablo Neruda. A casa, impecável, aparece aos poucos durante a caminhada pela estreita Marquez de la Plata, a partir da rua Constitución, no boêmio bairro de Bellavista. Está tudo ali, como se o casal mais apaixonado do Chile fosse receber seus convidados. Bandeiras e placas com seu peixe-símbolo; grades que revelam as ondas do mar, a lua, as montanhas e as iniciais P e M; móveis e objetos pessoais em ordem e a mesa posta para o jantar; cartas, manuscritos, rascunhos; a maquete de sua casa sem escadarias, que jamais foi construída; quadros de Matilde, mapas de navegação e carrancas…
Não havia como deixar Santiago sem pagar os 2500 pesos (uns 13 reais) para sentir “La Chascona”. Certamente era o mesmo pensamento da única visitante que, emocionada com aquele ambiente, levantou a mão quando a guia perguntou “quantos de vocês já leram algum livro de Neruda”. Provavelmente os outros encararam aquela casa azul como mais um museu na lista, para depois contarem orgulhosos que “conseguiram tirar fotos clandestinas lá dentro”…
Se trata de que tanto he vivido
que quiero vivir otro tanto.
Nunca me sentí tan sonoro,
nunca he tenido tantos besos.
Ahora, como siempre, es temprano.
Vuela la luz con sus abejas.
Déjenme solo con el día.
Pido permiso para nacer.
No lado de fora, diante dos pilares que reproduzem o poema “Pido Silencio”, lamentei o tempo perdido sem entender o que a poesia é capaz de provocar. Vislumbrei minha futura casa bem no alto, com uma sala ampla e iluminada com vista para uma cidade tranquila, repleta de bons amigos, impregnada com debates políticos, histórias pitorescas de vida e um amor capaz de cruzar os mares.
Neruda tem coisas lindas. O que eu mais gosto é esse daqui:
“Nós, os que perecemos, tocamos os metais, o vento, as margens do oceano, as pedras, sabendo que seguirão, imóveis ou ardentes, e eu fui descobrindo, dando nome às coisas: foi meu destino amar e despedir-me”
Abs!
Eu queria escrever muita, muita coisa sobre esse texto e essas fotos. Mas acho que o essencial é: além de ser um autêntico MMM, ele é também (talvez) o melhor post de 2008. Rico, informativo, emocionante, poético. Lindo.
Quando fui ao Chile também estive na La Sebastiana e me apaixonei. Parece que as paredes transpiram os poemas, né?
qdo fui ao Chile, apesar de ter ficado um bom tempo em Santiago, não fui visitar a casa, mas fui na de Isla Negra, incrível, parece um navio, muito legal mesmo e Pablo Neruda é bom demais []’s
André, estou quase chorando na redação e a culpa é sua. Mas por uma boa causa, sempre. O amor é a melhor causa de todas! Eu sigo acreditando, e espero que desta vez o amor lhe sorria como vc sempre mereceu 🙂 E viva Neruda e Matilde e todos os Nerudas&Matildes deste mundo! beijossss
Que post lindo.
Que casa linda.
Agora eu quero ir pro Chile. André, pra que me fazer querer ir pro Chile? Que sem graça, você!
Cara,
visitar cada uma das 3 casas do Pablo Neruda não tem preço. É uma melhor que a outra.
Carrancas, coleções de garrafas e conchas, livros e mais livros… tudo fazendo parte da decoração…
E a de Isla Negra é a melhor de todas. Aquela casa na praia com aquele quarto de paredes de vidro com vista para o mar. Sensacional…
abraço
A poesia pode nos transportar a lugares antes inimaginaveis!
E que bela seria essa casa, não?
Eu quero uma casa igual a do Pablo Neruda – Marmota, mais dos mesmosTexto cativante sobre Neruda.
Provavelmente, você continua não sendo muito fã de poesias, afinal algumas coisas não mudam e como um bom taurino que é, apresenta como característica um gosto pelo “adquerido”… rs Eu, como sou uma mudança-ambulante-eterna, não era muito chegada em poesia até o dia em que coloquei meus pés nesta casa, e apesar de já ter viajado muito e visto muitas coisas lindas, esta casa foi a mais. Até hoje, uns 5 anos após ter conhecido esta casa, quando penso nela sinto meu coração apertar e apertarrrrr. Quem sabe isso aconteça por causa da história de amor que ficou registrada na construção?! Tenho alguns livros repletos de poemas dele, uns românticos, outros políticos (que são tão bons quanto os românticos), se quiser empresto para você.
P
Beijos
Cy
Eu concordo com o colega acima: a de Isla Negra é a melhor.
Aquela cama virada para o mar. Não é a toa que o túmulo dele repete a orientação.
Eu tenho uma vista desta orientação:
http://static.flickr.com/66/167327224_c833532c58.jpg
E, para finalizar, uma das minhas preferidas é:
“Tu eras também uma pequena folha que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi: não soube que ias comigo,
até que as tuas raízes atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue, falaram pela minha boca,
floresceram comigo”.
Visitei a casa de Neruda em Santiago e Uauuu!!! aquela casa está mesmo impregnada de amor, cheira a paixão!!!
cheira a coisa proibida!!!
Só mesmo um cara tãi detalhista e apaixonado como Neruda, poderia
construir uma casa tão “viva”! saí dalí com a nítida impressão que aquela casa tem “Alma”…
Vick,