É vergonhoso, eu sei. Mas depois de uma viagem para a Europa em outubro/novembro, já passou praticamente um ano, tempo para sair de férias novamente e acompanhar uma Copa perdida. Ainda assim, não consegui escrever tudo o que queria a respeito. Sinceramente, pensava até em abortar os parágrafos, já que ninguém sentiria falta deles além de mim.
Mas enfim, eu sentiria falta. Por isso, aqui vai.
Em tempo: o Inagaki ficou de me mandar um texto sobre procrastinação. Mesmo quando ele lembrar disso, provavelmente eu não consiga ler de imediato.
Em uma das salas do Museu do Esporte e Olimpíadas em Colônia, uma saleta branca exibe objetos referentes aos Jogos de 1936, além de trechos do filme Olympia, considerado um dos marcos da história do cinema – sem falar nas questões relacionadas à propaganda nazista e à vitória de Jessé Owens sobre a raça ariana. Mas enfim. Foi a primeira referência que tive, em solo germânico, do magnífico estádio olímpico de Berlim, construído para aquela ocasião e que seria usado, setenta anos depois, na final da Copa do Mundo.
O Olympiastadion, evidentemente, fica bem melhor pessoalmente.
Nosso primeiro contato foi na noite de 26 de outubro de 2005. Tínhamos passe de imprensa para acompanhar Hertha Berlin e Borussia Mönchengladbach, pela segunda rodada da Copa da Alemanha. Foi na mesma quarta-feira que tínhamos ido aos bunkers: de Gesundbrunnen, tomamos qualquer um dos S-Bahn que “fazem a volta” na cidade até Westkreuz, e de lá tomamos outro trem, sentido Spandau, até a histórica estação Olympiastadion. Outra opção é o metrô: as linhas 2 e 12 do U-Bahn passam por ali – é o caminho mais rápido a partir de Zoologicher Garten.
Mas enfim. Chegamos às proximidades do estádio pouco antes do sol ir embora, tempo suficiente para nos integrarmos aos torcedores dos dois times – e isso foi marcante em toda a Alemanha: mesmo nas estações de trem em dias de rodada, onde os comboios traziam todas as cores clubísticas possíveis, não havia um único indício de briga. A uns 100 metros da entrada, pessoas de azul ou preto e verde conviviam harmoniosamente, tomando canecas de cerveja e comendo pão com salsicha.
Dividimos o mesmo espaço da imprensa naquela noite, com direito ao camarote especial, cheio de acepipes na mesa e bebidas à vontade, além de assentos próximos às posições do pessoal de rádio e TV. Uma constatação chata: os postes da cobertura, um dos pontos altos da reforma do estádio, atrapalhavam muito a visão de jogo em alguns poucos lugares. Enfim, essa foi a única constatação chata da noite, óbvio. O lugar é fora de série, a torcida é bem barulhenta e o Herta de Marcelinho Paraíba, em casa, fez 3 a 0 no Borussia Mönchengladbach, de Kahê.
No dia seguinte, a turma do curso voltou ao Olympiastadion, desta vez em outra condição: sem torcedores, mas com acesso livre a outros setores. Se nas arquibancadas ou no gramado as imposições dos novos tempos deram cara nova ao lugar, a história está presente em toda parte. Todas as dependências, desde a sala de imprensa, vestiários, corredores, camarotes, etc., mantêm preservados elementos originais, como o assoalho de madeira e alguns lustres. Do lado de fora, a mesma coisa: estátuas do tempo de Hitler continuam ali, assim como a fachada original. Mais do que um palco preparado para uma Copa, o lugar preserva demais o seu passado.
Por ser um patrimônio histórico, a reforma do estádio custou tanto quanto a construção do novíssimo Allianz Arena, em Munique. Mais do que isso: a construção levou dois anos (1934 a 1936), enquanto a modernização levou quatro (2000 a 2004). Uma das razões está no meticuloso e surpreendente método usado para “desmontar” e “remontar” alguns setores. Mais de 70 mil pedras foram numeradas, retiradas, restauradas e recolocadas da mesma forma. Impressionante.
Enfim, os alemães apresentaram doze palcos impecáveis em seu Mundial, alguns com muita história para contar (como em Berlim ou Dortmund), outros tão espetaculares e inovadores que nem precisam de um histórico (como em Gelsenkirchen). De todos os estádios da Copa, tive a oportunidade de conhecer a metade. Todos próximos ao metrô ou ao trem, bem sinalizados, confortáveis e organizados. Olhando para cada um, tive a certeza de que o Brasil dificilmente conseguirá fazer algo parecido.
Leia também: O século XX passou por aqui
“Olhando para cada um, tive a certeza de que o Brasil dificilmente conseguirá fazer algo parecido”
Então, concordo. Mas seguindo a linha Poliana e praticando o velho e bom “jogo do contente”, pra ter copa do mundo aqui e a seleção perder como da outra vez, é preferível mesmo que seja pelo mundo afora, acho que vendo pela televisão dói menos do que doeu pra aquelas pessoas que lotaram o Maracanã em 50. Resumindo, que seja até no mar, no deserto, mas que a gente vença. 🙂
Quanto ao estádio, é incrível mesmo e merecia um post a hora que fosse.
Sobre a procrastinação, que tal uma nova seção?: Blogagem ainda que tardia. Seria uma bela homenagem aos mineiros.
Pra fechar: estou aqui com minha plaquinha de “EU JÁ SABIA” que você é um rapaz gentil. 😉
Um beijo.
Copa do Mundo no Brasil?
HAHAHAHAHAHAHAHA!
Tá na hora de a gente tomar vergonha na cara e pensar, primeiro, em construir um país decente. Depois, se der, daqui a uns 50 anos, organizamos um Mundial.
Se eu fosse presidente da Fifa (hahaha), acabaria com essa história de rodízio de continentes. Copa do Mundo é na Europa e ponto final.
Abraço