Entrevista inédita do Marmota!

Há quatro meses, iniciamos aqui nossas comemorações de aniversário. Mas só hoje, aproveitando o ócio das férias, consegui encerrar os posts alusivos a data! Hora de conhecer um pouco mais a respeito da vida, obra e carreira do sujeito responsável por este blog: eu mesmo!

Não, senhores. Não sou narcisista o suficiente para entrevistar a mim mesmo. O texto a seguir reproduz a única “entrevista” que concedi oficialmente sobre blogs. Na verdade, foi um bate-papo com Rafael Ofemann e Sabrina Dias, do falecido Febre de Blog. Jornalistas e estudiosos do fenômeno blog, o casal sonhava em incrementar o site com as entrevistas com blogueiros conhecidos, e eu teria a honra de inaugurar o espaço. Acho que dei azar: a febre passou e o blog acabou. A propósito, se alguém tiver notícias sobre o casal, agradeço.

Mas enfim. A conversa, que rolou por volta das 21 horas de uma quinta-feira, 17 de fevereiro de 2003, está devidamente preservada. Na íntegra!

– Olá Marmota!

– Boa noite!!! Tudo bem com vc(s)??

-Tudo bem conosco. Está trabalhando ou está em casa?

– Como sempre, estou na redação…

– Que bom pra você! Vc nunca vai pra casa?

– Claro que vou! Adoro a minha casa, minha família… Felizmente, gosto do que faço, não me importo em passar horas e horas aqui…

– Falando em gostar do que faz, como surgiu o interesse pelo jornalismo?

– A entrevista começa agora ou já tinha começado? 😛 Brincadeira… hehehe!!

– Tá tudo valendo! É claro que depois nós vamos editar!!!

– Hmmmm… Entendi! Bom, sobre o jornalismo, esse era um daqueles sonhos de infância. Eu adorava escrever, era apaixonado pela aula de redação, fiz jornalzinho na minha rua… Cursar a faculdade era o estágio seguinte, e felizmente consegui!

– E a internet, como entra nisso tudo?

– Hmmm, longa história! Vou tentar resumir em duas linhas. Não sou apenas jornalista: também sou eletrotécnico! Fiz o curso – é de nível médio, equivalente ao segundo grau – justamente pra poder trabalhar e bancar a faculdade (seria melhor que custear cursinho e tentar uma faculdade pública). Assim, desde 92, mergulhei no maravilhoso mundo da eletricidade, da matemática, da física, misturamos tudo isso com doses de eletrônica, outros conceitos técnicos… E até internet. Um negócio que estava começando a se expandir naquela década. Em 98, já estudando jornalismo – mas trabalhando como técnico, pintou a grande oportunidade da minha vida até hoje. A Fundação Cásper Líbero criou o Núcleo de Internet, um pequeno setor que seria responsável pela implementação de uma cultura online na empresa. Meu perfil era relativamente interessante: um sujeito que sabia escrever minimamente com conhecimentos técnicos. Entrei como estagiário aí!

– Antes da Gazeta vc chegou a trabalhar em outro site?

– Não. Mas navegava bastante, montei minha home page no Geocities, dividi as despesas com amigos para um domínio próprio… Eram experiências bem bacanas. Só comecei a mergulhar mesmo nessa brincadeira quando passei a trabalhar efetivamente com isso, justamente na Gazeta.

– Então como jornalista vc nunca trabalhou em outro meio que não fosse a internet?

– Já! Foi num intervalo entre a minha passagem de estagiário a repórter contratado. Ainda sem vínculo com a Gazeta, fiz uma extensão curricular na TV Cultura de São Paulo, especificamente na pauta. Não ganhava absolutamente nada além da experiência, que foi sensacional. Mas tem mais. Em 99, pude realizar outro grande sonho: trabalhar em rádio. Não era nenhuma CBN, mas sim a modesta Metropolitana de Mogi das Cruzes. Fiquei lá até maio de 2000, quando voltei pra Gazeta. Nesse meio tempo, fui repórter, motorista, apresentador, editor, servi café… Tudo. Ganhando pouco mais de um salário mínimo. Mas valeu muito a pena! Aliás, foi nesse período que eu tenho a minha recordação mais bacana até hoje: a cobertura do carnaval de Mogi das Cruzes de 2000. Foram cinco dias bem bacanas, horas e horas muito divertidas, tudo ao vivo!

– Nossa, cobertura de Carnaval! Como foi?

– Foi assim. O comando era feito por um jornalista mais experiente, que hoje trabalha na assessoria do PSDB da cidade. Outros repórteres ficavam na avenida. E eu, ao lado do meu xará André Almeida, ficávamos nos estúdios. Antes da transmissão dos desfiles, eu e o André falávamos com os ouvintes ao vivo, eu fazia a tradicional “ronda” na PM, Santa Casa, além da escuta. E rolava um bate bola bem redondinho e divertido. Mas o melhor da cobertura aconteceu na madrugada de pra domingo. Após os desfiles, uma rádio FM promovia um baile a céu aberto. Devia reunir umas quatro mil pessoas por dia. Naquela noite, um cururu resolveu levar uma arma. Comprou briga com outro baiaba e atirou. Sete feridos e um receio danado no dia seguinte. Claro que, durante o tiroteio, ainda estávamos ao vivo. Foram mais algumas horas prestanso serviço, acalmando os ouvintes, discutindo o assunto. Foi bastante enriquecedor. No dia seguinte, apareceu na rádio o Waldemar Costa Neto, deputado federal líder do PL – todos conhecem. Ele é filho do então prefeito da cidade, o Waldemar Costa Filho, já falecido. Ele estava organizando, ao lado da prefeitura, o Carnaval da cidade. Interrompemos a programação e “entrevistei” o Valdemar ao vivo, domingo à tarde. Na verdade, ele falou o tempo todo, acalmando o povo e chamando pra avenida. Evidente, gravei a entrevista e reproduzimos durante o resto da noite e no dia seguinte, no jornal da emissora – o tradicional “Radar Noticioso”. Ufa… Agora cansei vcs!

– Mesmo com essas experiências vc prefere a internet, ou não foi uma escolha?

– A escolha foi ótima, tenho certeza de que um dia ainda vou trabalhar com rádio. Mas infelizmente, é uma mídia que não compensa os seus funcionários como merecem. E aqui na Gazeta, é claro, ganho mais, além de trabalhar em um ambiente que poucos conhecem e que, ainda acredito, tenha algum futuro. O ideal seria conciliar dois empregos. Um dia, quem sabe…

– E o blog, quando pintou a idéia de criar um?

– Isso foi em setembro passado. E foi de repente, nada planejado. Já tinha lido várias matérias sobre a onda blog, mas não tinha noção alguma do que se tratava. Até que o assunto surgiu, do nada, aqui na redação. Visitei um ou dois blogs e disse: “ah, isso eu também posso fazer”! Tanto que o nome do blog representa exatamente o assunto que eu pensei em discutir: mais dos mesmos. Nada específico, nenhum tema fechado. Apenas o mesmo que a maioria faz: comentar notícias, falar da vida, contar histórias, inventar outras… Só que uma premissa eu estabeleci desde o princípio: pouco do que estivesse lá seria simplesmente uma cópia. Seria sempre o meu ponto de vista, o meu jeito de escrever ou ilustrar. Uma forma de forçar a minha mente a trabalhar, tanto na hora de escrever quanto na forma que aquilo iria aparecer na tela.

– E qual a importância que ele tem hoje para vc? É um hobby, um paixão…

– É uma válvula de escape. Uma espécie de “quebra de ritmo”. Vez ou outra estou envolvido em alguma coisa que consome muito tempo e paciência. Pra relaxar, abro o blog, leio alguns comentários, clico em algum link aleatório… O blog também acabou se transformando em uma função “social”: nessa de escrever tudo do meu jeito, acabei encontrando pessoas que se identificam com aquilo, discutem as idéias, concordam, discordam… Isso se amplia constantemente, formando uma “comunidade”.

– E como vc administra o sucesso?

– Hahahahahahahaha!!! Não encaro o blog como sendo um sucesso. Não vejo que o blog é um “programa de variedades” cujos espectadores estão atentos de olho na próxima atração. Prefiro pensar que é uma forma de comunicação direta. Não ligo pra quantidade de pessoas, mas sim para um único visitante, especificamente. É uma relação mais estreita. Acabo formando um grupo de colegas, não espectadores.

– Muita modéstia! Viajando um pouco o que vc prevê para o futuro dos blogs?

– Hahahahaha! Não é modéstia!!! 😀 Sobre o futuro dos blogs, acho que certamente eles vão continuar evoluindo. Da mesma forma que já ocorre hoje. Faz tempo eles deixaram de ser simplesmente uma versão eletrônica do “Querido Diário”… Já li em diversas matérias especializadas que os blogs podem se transformar em uma espécie de “filtro”. Algo como acontece hoje, mas em larga escala: ao invés de ler a notícia direto nos sites específicos, prefiro saber se Fulano ou Beltrano comentou algo antes. Esse é apenas um dos caminhos. Além disso, os blogs vão intensificar essa idéia de comunidades, que eu disse há pouco. Aqueles que gostam de informática, literatura, jornalismo, futebol, ciências ocultas… Ou um pouco de cada coisa. Todos os blogs que foram criados com algum objetivo, seja pessoal ou baseado em algum assunto, vão se adaptar facilmente a essa grande rede de blogueiros profissionais!

– Falando específicamente do MMM, qual dos seus posts vc acha que foi o mais inspirado?

– Nossa… Essa pergunta é difícil. Acho que o MMM passou por evoluções tremendas desde que foi criado. O primeiro post a gente nunca esquece… Depois veio o Plantão Marmota, idéia básica de comentar notícias. Entre um e outro comentário pessoal, bolava coisas como “astrologia sem vínculo empregatício”, “post interativo”… Também escarafunchei velhos escritos pra bolar uma retrospectiva de 2002, inventei novas maneiras de contar como foi aquela viagem, como em forma de um diário em janeiro ou em vídeo, como agora. A cada momento, tento executar uma idéia nova. Como eu costumo dizer: mudando pra ser sempre o mesmo!

– Vc tem alguma idéia de quando e por quê seu blog começou a ter muitos visitantes?

– Bom, esse conceito de “muitos” é bem relativo. Em setembro, quando começou, não passava de dez, vinte, por dia. Eram apenas amigos. Aí veio o Google e a “festa da Giovana” – uma coisa que é fácil identificar: pelo menos um quarto das visitas diárias do blog surgem de mecanismos de busca. Em outubro, veio o Blogs of Note. No primeiro dia, foram 1430 visitas, um assombro horroroso! Evidente, desse número, praticamente 95% entraram uma única vez e não voltaram mais. Curiosamente, o link pro blog apareceu em páginas de grande visibilidade (Blogger de novo e Globo.com em janeiro) e as visitas explodem. Mas sempre voltam ao normal. Hoje calculo uns 100 visitantes “fixos”, aqueles que entram com frequência. Uma coisa que ajuda muito também são os links de outros blogs, que acabam remetendo para o meu. Vendo agora no Toplinks, dá pra contar: são 60 blogs que já linkaram, por algum motivo, o MMM. Isso acaba formando uma “panela” restrita de internautas. E isso é uma curiosidade geográfica interessante: no mês passado, fui numa festa de blogueiros – a das máscaras, promovida pela Ale do Amarula. E lá deu pra perceber as “panelas”: a turma dos links do Jesus me Chicoteia, dos do Amarula, dos do Marmota…

– Agora duas perguntinhas rápidas (e fáceis). Primeira: Dê algumas dicas para quem quer montar seu próprio blog. Segunda: Eleja os cinco blogs que você mais gosta.

– Ô, facinho! A primeira grande dica: se você pensa em montar um blog apenas para aparecer rápido, distribuir awards, copiar e-mails, imagens e nada mais, pense de novo. Arrume um bom motivo, que tenha a ver com a sua personalidade. Tendo isso em mãos, as ferramentas estão aí, de grátis! É só montar, e não é difícil. Sobre os cinco blogs, vou cometer grandes injustiças. Afinal, não são só cinco os meus blogs favoritos. Mas vou começar pelo Inagaki. Tive a grande honra de ser seu colega de trabalho durante alguns meses. Mesmo se não tivesse sido, continuaria sendo um leitor diário. Também gosto do Blah Blah Blog, da Flávia Durante. Foi um dos primeiros blogs que eu visitei, e o estilo “mais dos mesmos” está bem resumido ali, naquela estrutura! Claro, com um lado mais musical. Tem o Pulso Único, que usa a estrutura blog para se tornar um dos mais completos sites sobre jogos online e novidades do gênero. Por fim, dois exemplos de blogs que, de tão criativos, acabaram ganhando independência financeira: o Eu, Hein e o Mundo Perfeito. Casos ainda raros de pessoas excepcionais que ganharam visibilidade com seus blogs – coisa que, espero, aconteça com maior frequência, apesar da crise… Mas tem mais, muito mais. Só mais três, vai. O Cris Dias, o Tecendo Idéias e o dot.dot.dot. , cada qual falando do mundo do ponto de vista deles. Blogs que me inspiram também.

– Bom, acho que já conhecemos bastante da sua trajetória blogueira.

– Que bom, espero que eu tenha sido um bom entrevistado!

– Foi muito bom conversar com você, acho que vamos estrear em grande estilo!

– Uau, fico feliz!!! Também adorei a conversa, mas gostei mesmo de saber que o projeto de conclusão de curso sobre esse tema felizmente foi aprovado!! Tomara que ele se transforme em uma tese de mestrado, um livro e, quem sabe, fonte de renda para a família Ofemann Dias!

– Bom vamos desconectar por que nossa conexão é discada. A “mudernidade” da banda larga ainda não chegou aqui (já ouviu falar de jacarepaguá?).

– Já, sim! Mas não conheço! Em casa, a conexão é discada tbm… Uma beleeeza!!! Enfim, foi um prazer enorme conversar com vocês!!!

– Um super abraço, até a próxima.

– Até!!!

André Marmota tem uma incrível habilidade: transforma-se de “homem de todas as vidas” a “uma lembrancinha aí” em poucas semanas. Quer saber mais?

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Comentários em blogs: ainda existem? (1)

  1. Prezado Marmota;
    Aproveite bem as suas férias!
    Muito boa essa sua entrevista aqui no seu próprio blog! (Vejo que vc entende do riscado!)
    Vc conseguiu resumir tudo o que eu pensava em perguntar pra vc (se tivesse chance um dia). Será que vc també lê pensamentos? Ha, ha, ha.
    Até a volta!

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