Quando a Revista Placar dedicou matéria de capa ao treinador da seleção brasileira, já sabíamos que o capitão do tetra, como Gerard Leônidas Butler em 300, alimenta-se da raiva para superar seus obstáculos. Para ter raiva, é preciso cultivar inimigos. Que, nos últimos quatro anos, é a imprensa.
Além da briga com os jornalistas, a postura de Dunga remete a outros atributos. Como a lealdade aos seus comandados, independente de seus desempenhos nos clubes, o fim de qualquer privilégio – tanto para imprensa quanto pros próprios jogadores confinados – e a valorização à seleção de um jeito que, se você não sente orgulho de vestir esta camisa e batalhar por ela, não merece este convívio. É uma mistura demasiadamente humana de bons valores com uma inflexível “brucutice”.
O episódio deste final de semana, onde Dunga balbucia palavrões enquanto observa Alex Escobar – só interpretado tempos depois e reproduzido à exaustão no YouTube – , evidenciou tal estilo com muita força. O mais curioso, no entanto, é o equilíbrio de opiniões diante do tema. A mídia e alguns entusiastas, obviamente, se posicionam contra os métodos xiitas do treinador. Muitos torcedores, no entanto, apóiam Dunga, chegando a lembrar coisas como “essa Globo manipula mesmo, bem feito pra eles”.
Resumidamente, não tem como ficar indiferente. Mais ou menos como torcedores diante do Corinthians, ou num comício do PT: você apóia ou odeia, simples assim. E se temos petistas e corintianos, nada mais apropriado: temos também os dunguistas.
É possível, diante do desempenho da seleção na África, bradar com orgulho de comercial da cerveja: eu sou dunguista, e bato no peito! Também dá para apontar o dedo em direção a algum cabeça dura, incapaz de mudar a opinião ou apenas dialogar civilizadamente. E, com desprezo, dizer: “seu… Seu… Seu dunguista!”.
Sua relação com este neologismo define sua postura diante da possibilidade de uma punição, imposta pela Fifa, ao treinador. Mesmo com um gancho, uma multa ou um simples puxão de orelhas, não saberia dizer, de verdade, se um potencial título mundial seria capaz de arrebanhar mais dunguistas espontaneamente.
Mas dá pra cravar que, com taça ou com punição, o “dunguismo” e seus inimigos imaginários vão continuar com a força de sua inabalável teimosia.
Atualizado: Dois ingredientes de alta combustão para os dunguistas, pinçados do UOL Esporte. Primeiro, a Fifa não encontrou qualquer elemento para punir o treinador. Segundo, Mauricio Stycer bancou a informação de que Dunga teria vetado entrevistas exclusivas durante o Fantástico de domingo – o que explicaria o entrevero durante a coletiva e a dura resposta no programa. Se por um lado o técnico poderia ter sido menos contundente, por outro temos aquela velha máxima: “prezada Globo, no meio de tanto festim, que tal um pouco de jornalismo?”.
Cala a boca, Globo!