Toda vez que encontro notícias e sites novos, recebo e-mails, ou mesmo quando as idéias para este espaço surgem do nada, recorto e guardo num arquivo texto do meu computador – minha gaveta. Está entupida, com coisas do ano passado, que não sei se ainda vou usar.
Fecho a gaveta e dou de cara com as minhas cento e poucas mensagens na caixa de entrada. Muitas merecem respostas elaboradas. Outras começam com “faça isso, por favor”. Começo a responder a primeira, mas o telefone me interrompe. Minutos depois, alguém grita meu nome: “preciso da sua ajuda”. Ainda ouço coisas como “por que não fizeram o que pedi ontem?”.
Difícil priorizar tudo. A minha volta, percebo que todos tem a mesma dificuldade. Estou cercado por bombeiros egocêntricos, meros apagadores de incêndio preocupados apenas com os seus problemas. Todos querem ajuda, mas não sobra tempo para ajudar ninguém. Ou talvez estejam com preguiça, vai saber.
São horas recheadas de preocupações intermináveis. Quando uma se resolve, aparecem outras dez. E depois de partir pra outra, alguém me avisa: “isso que você acabou de fazer está errado”. Num relance, observo uns e outros indiferentes, acham que está tudo normal. Também tem aqueles que cansaram de se preocupar, resolvem sua vida e exterminam qualquer mal-estar com uma palavrinha mágica: “foda-se”.
Respiro fundo e fecho os olhos, alívio imediato. Em poucos instantes, amigos, família, namorada… Todas as pessoas que fizeram e ainda fazem parte da minha vida, pedindo ao menos um minuto da minha atenção para saber se está tudo bem. E pensar que só posso ver (ver?) muitos deles por e-mail. Paciência. Levanto da cadeira e vou tomar um café.
Ainda com o copo na mão, tento armar minha listinha de prioridades. Chega mais um e-mail importante, outro link engraçado via messenger. Reparo que tem a ver com um livro bacana, que ainda não terminei. Bom, ao menos este eu comecei – tem dezenas deles na estante, esperando por um leitor disponível. Deve ser a mesma sensação daqueles CDs empoeirados, ou daquelas fitas VHS-C esperando por uma carinhosa edição não-linear.
Não há tempo para pensar neles. Surgem novos pedidos, ouço novas reclamações. Também recebo convites interessantes, que serão aceitos com alegria. Claro, se não estiver trabalhando. Dedicando meu tempo para uma infinidade de coisas que parecem não se resolver nunca. E essa droga de café fica intragável quando está frio.
Por que diabos tinha que viver justamente na tal “sociedade da informação”, onde somos obrigados a processar um volume gigantesco de coisas em minutos? Obrigação que me transforma em mais um desses bombeiros incompetentes – não faço a metade do que gostaria, e o que faço não está bem feito? Constatação que amplifica todas as minhas frustrações pessoais e deixa com uma esta terrível sensação de mau humor?
Mas não é só mau humor. É tristeza, indisposição, estafa… Tudo junto. Será doença típica de final de ano, quando parece que tudo se acumula? Pode ser apenas tontura, já que o mundo gira depressa demais. Bom seria se pudesse saltar fora, deixar tudo rodando aqui dentro e ficar deitado na beira da praia, até a coisa ruim passar.
Ou simplesmente levantar a cabeça, encarar um dia após o outro e esperar pacientemente pelo final de dezembro. Afinal, é nessa época que costumamos dizer: ano que vem vai ser melhor.
Tomara. Espero que sobre tempo ao menos para esvaziar a gaveta.
(Postado em 28/11/2003. Não mudou muita coisa.)
Comentários? Eu tenho!
Tem uma metodologia chamada “Getting Things Done” que pode te ajudar a priorizar e realizar tudo o que você deseja.
Se eu ainda me lembro, o que demora menos de 2 minutos você não guarda (faz logo!). AS demais, você arquiva em 4 categorias que aí já é querer que eu saiba demais…
Sempre que puder, aproveite para estar com quem você, não deixe para depois.
Evite que sua partida, ou a de quem você ama,chegueeixando uma das partes no vacuo.Que uma das partes,sofra a dor da palavra não dita,do beijo não dado,do amor não declarado, dos momentos sonhados e planejados CALADOS PARA SEMPRE.
Em agosto deste ano tive a infelicidade de vivenciar o que acabei de citar acima.E ele era BOMBEIRO.
SANDRA
Incrível como este post define o momento pelo qual estou passando.
Olha, final de ano eu me arrasto… fico sem pique total…
Mas que loucura seu trabalho!!