Antes de viajar, após uma palestra sobre jornalismo e internet na UMC (convite do meu amigo Fábio Gonçalves), fui abordado por um estudante empolgado. Veio falar que adorou minhas colocações (sinal que consegui enganar mais um) e emendou com um “projeto ambicioso, um plano inédito e que poderia dar certo”.
Em linhas gerais, seu plano consiste num site de notícias elaborado pelos seus visitantes. Os usuários cadastrados teriam permissão para publicar ou mesmo alterar ou complementar informações, democratizando não apenas o acesso, mas a produção de notícias. “Mas é só um plano, parece ser algo tão distante…”.
A distância acabou. Jimmy Wales, 38 anos e formado em filosofia, é um dos entusiastas do wiki, um sistema de publicação online de autoria colaborativa. Traduzindo: em um site wiki, qualquer visitante interessado está apto a produzir seu conteúdo. Ao lado de outro filósofo, Larry Sanger, lançaram a Wikipedia, uma enciclopédia totalmente produzida pelos internautas.
Pois bem, agora Wales e seu amigo estão prestes a aplicar o mesmo fundamento para um site de notícias, o Wikinews. “Cujo objetivo é reportar e resumir notícias de todos os tipos de assunto, de forma colaborativa, com um ponto de vista neutro”, diz a proposta.
Ora, vejam se não é a idéia do nosso amigo sendo testada! Aliás, não é a primeira vez, como lembrou a professora Raquel: “Mais um sistema que segue no rastro do Slashdot, um dos mais bem-sucedidos sistemas de informação coletiva da Web”. Ou seja, Wikinews não foi o primeiro – e se depender de pessoas como meu amigo de Mogi, não será o último.
A Raquel cita ainda o artigo do jornalista Carlos Castilho sobre o tema, com um amplo compêndio de questões sobre o que ele chama de “revolução informativa”. As mais inquietantes, no meu ponto de vista: será que o Wikinews conseguirá agir como nenhum veículo e manter-se neutro, sem pender para um ou outro lado do muro? Será possível garantir a credibilidade e a veracidade do que é publicado por qualquer zé mané? E mais: existirá gente disposta a atualizar informações no instante em que elas acontecem, como é feito na maioria das redações online?
Independente das respostas, uma coisa me parece irreversível: o caminho é o da democratização da notícia. Começou com o blog, está chegando ao wiki, e não tenho dúvidas, vai muito além. O negócio é ficar de olho nas novidades – especialmente aqueles estudantes que possuem “aquele plano”.
André, concordo com tuas preocupações, e mais ainda, me atrevo a afirmar que é impossível controlar a neutralidade e credibilidade das notícias. Mais interessante seria um site de contestação do noticiário da grande imprensa. Testemunhas oculares, funcionário do departamento noticiado, morador do bairo, poderiam dar seu testemunho contestando a veracidade de certa notícia. Ação americana no Iraque não foi bem como o noticiado, espaço para notícia contestatória, citando a notícia original, e deixando espaço para a análise de quem lê. Posts blogueiros poderiam alimentar estas contestações, ou seja, o site reuniria o que já acontece na internet (vide caso da falsa documentação que provaria que Bush teria fugido da convocação). Concorda?
Essa era a idéia do Idearo.
Tem razão, Luis!