Salvador (BA) – Passavam das sete da noite na Avenida Oceânica, a poucos metros do farol da Barra. Era uma terça-feira, mas não era Carnaval.
– Aquela linha azul no asfalto indica o fim dos cordões de cada trio. Pra cá, é a “pipoca”.
Narazaki, baiano por opção, explicou minuciosamente o que acontece ali durante a folia do axé. Não é fácil abstrair e imaginar o quão maluco esse mesmo pedaço.
– Cara, eu nunca vi esse lugar tão vazio em toda minha vida…
Vez ou outra, era abalroado por algum corredor de fim da tarde. Eram muitos. Compunham a maioria dos poucos transeuntes na rua.
– Todos esses prédios, inclusive aquele caído ali, vira camarote. Esse hotel é o que a Band usa como base para montar o estúdio. Um quarto ali durante o Carnaval custa uns seis paus.
Tentei ligar todas as referências que dispunha para me colocar no lugar do meu amigo, mas não consigo guardar nenhuma boa lembrança envolvendo multidões espremidas na rua…
– Eu costumo sentar bem aqui, nessa mureta branca.
– Mas não fica cheio? Dá pra sentar aí numa boa?
– Ah, sim, mas eu chego cedo. Olha aquele morro ali, no fim da rua: ali costuma lotar muito mais.
Seguimos em frente. Já estávamos perto de Ondina, exatamente onde acaba o circuito dos trios. Lembrei Narazaki de uma antiga proposição particular: a de que todo brasileiro deveria participar de uma muvuca carnavalesca, assim como todo muçulmano deve ir um dia a Meca.
– É insuportavelmente cheio, mas tem uma energia forte, que me deixa acordado por longas horas…
Pode até ser. Talvez até participe da festa um dia. Mas tenho que admitir: eu me sinto muito melhor caminhando pela avenida vazia.
Imagina a lotação que deve ser?!?!
Afe!
Eu acho bonito uma pessoa se apaixonar assim por outra cidade que não a sua. É de um despreendimento exemplar.
Sou mais ou menos assim com Beagá – fico feliz quando posso falar sobre a cidade, explicar, apontar, sugerir coisas a respeito de lá… Imagino que o Nara deve estar curtindo te mostrar a cidade dele em toda a sua baianidade nagô.
Sabe do que lembrei? “Aaaaaaaaaaaah, que bom você chegou, bem-vindo a Salvador, coração do Brasil, do Brasiiiiiiiil!” 😉
Beijo.
Engraçado… eu adoro muvuca. Adoro me sentir apertada, levada pra lá e pra cá, o calor, o suor… mas, quando penso nisso, não me parece coisa normal.
Já passou o tempo de encarar muvuca. Acho que é a síndrome losangelina. Esta foto me lembra da primeira vez em que fui à Bahia e Ondina era praticamente só praia, 1968.
Encarei muita muvuca de Maraca, nos tempos do Francisco das Chagas Marinho, do Galinho do Quintino e do Gérson no Fluminense.
ô, saudade da Bahia.
Adoro a Bahia de paixão,principalmente quando me lembro de que foi lá que aprendi a gostar de política e do antigo PFL de ACM. político de coragem que não existe mais. Não disse “honesto demais”,mas era melhor que esse bando de corruptos soltos por aí, em tudo quanto é lugar. Tirando os ladrõezinhos que já povoam a capital, o resto todo vale a pena, apesar de.