Se todos nesse mundo pudessem ser taxados como pessoas “normais” perante a sociedade, talvez nossa vida fosse mais tranquila. Mas sem sombra de dúvidas, ela seria muito entediante. Vamos ser francos: ser maluco é o que há. Que graça teria o mundo do esporte, por exemplo, sem a participação do médico Júlio César Alves na ESPN Brasil? Em alguns cantos do país, o sujeito já ganhou a carinhosa alcunha de “Doutor Bem Loco”.
Mas ninguém, absolutamente ninguém, se encaixa melhor no estereótipo de “cidadão adaptado aos dias atuais” do que Rogério Skylab. Para quem nunca ouviu falar, o rapaz tem duas profissões bem definidas: compositor alternativo e entrevistado do Jô Soares. Essa semana, por exemplo, lá estava o peculiar Skylab, lançando seu quarto CD, o sugestivo Skylab IV. É que o cara se amarra em séries e repetições.
Mas não é tudo. Um papo com o camarada rende um programa do Jô inteiro – e foi praticamente o que aconteceu. Foram dois blocos de entrevista, além do encerramento do programa. Entre os trechos mais sensacionais, destaque para a teoria de que “para estar por dentro, é preciso estar por fora”, que virou tema de música. Aliás, sua fonte de inspiração são outras canções: “sem essa de ciúme, ou você me beijou. A coisa é violenta, eu roubo dos outros mesmo”.
Entre um diálogo e outro, Skylab cantou. Começando pela inenarrável “acorda, Siva Maria” e passando pelo seu grande sucesso, que o consagrou em sua primeira aparição no programa de entrevistas: matador de passarinho, cuja letra você confere agora:
Pica-pau e colibri.
Aqui tem canário belga, araponga, açum-preto,
Curió e bem-te-vi.
Aqui tem tanta andorinha, cambaxirra, quero-quero,
Rouxinol e juriti …
Que servem de tiro ao alvo
para espantar o tédio
e o vazio do existir.
Pá, pá, pá!
Matador de passarinho… (8x)
Tico-tico quando voas,
Tico-tico tu pareces um teco-teco no ar.
Tico-tico quando cantas
Me lembro da minha infância,
Feriado em Paquetá.
Tico-tico tão arisco, tico-tico tu beliscas
Uns grãozinhos de fubá.
Tico-tico me perdoa mas me vem um vontade,
Não posso me segurar.
Pá, pá, pá!
Matador de passarinho… (8x)
Beija-flor de flor em flor
Beija-flor tu és o rei
Beija-flor te quero bem
Beija-flor se tu soubesse
Beija-flor ah! Se eu pudesse
Beijaria a flor também
Beija-flor tu vais levando
Numa nuvem cor de rosa
Grãos de pólen para quem
Beija-flor tu és tão lindo
Mas chegou a tua hora
Não beijarás mais ninguém
Pá, pá, pá!
Matador de passarinho… (8x)
Enquanto me divertia com suas performances, juro que me deu vontade de ser como ele. Exótico, estranho, e ao mesmo tempo cômico – acredite, para desespero de Skylab. “As pessoas acham tudo engraçado, e eu detesto isso. Eu quero ser trágico”. E que tal a frase da noite? “Eu me esforço, tento ser uma pessoa comum, mas não consigo”.
Na verdade, ninguém consegue. Ainda bem.
(Postado em 08/08/2003. Há alguns dias, ouvi um boato de que Slylab teria falecido. Felizmente, não: novamente, esteve no Programa do Jô nesta terça-feira, reafirmando sua profissão.)
Houve um filme nacional muito ruim em que de tantos emtantos minutos aparecia um close-up e uma atrz que dizia às câmaras –LOUCUUURA!
E disso é tudo de que me lembro. Sensacional esse Skylab. Só faltava ser blogueiro.
Hahahaha, figuraça!!! Acho que todas as vezes que vi esse sujeito foram em entrevistas ao Programa do Jô – incluindo a de ontem. Sensacional!
Já eu acho que se tanta gente não tentasse ser normal, eles até conseguiriam. 🙂