A primeira vez que lembro ter acompanhado uma edição das Olimpíadas foi em 1988. Ano em que duas grandes figuras do atletismo brilharam em Seul: Ben Johnson e Florence Griffith Joyner. O primeiro derrotou Carl Lewis na final dos 100m rasos, marcando o recorde mundial de 9s79. A segunda faturou três medalhas de ouro com uma facilidade assustadora.
Pos é. Com Ben Johnson ouvi falar, pela primeira vez, em esteróides anabolizantes. E Florence, que faleceu dez anos depois vítima de complicações cardíacas, provocou uma constatação imediata, ainda que jamais provada, no imaginário popular: “a mulher tava dopada”.
Foram os dois primeiros casos que conheci, mas longe de ser os pioneiros do assunto: mesmo na Grécia antiga, os atletas usavam todo tipo de estimulante possível para se dar bem. E acreditem: a coisa não tinha o menor controle na maioria das modalidades até a década de 70, quando começaram os primeiros testes antidoping.
Até aí, a indústria das drogas já estava quilômetros a frente. Tanto que só anos mais tarde, durante a Volta da França de 1998, é que o doping atingiu o status de escândalo. Naquele ano, a tradicional prova ciclística foi rebatizada de “volta da vergonha”, por conta das substâncias encontradas entre os participantes.
No ano seguinte, a guerra contra o doping estava oficialmente declarada, com a criação da Agência Mundial Antidoping, a WADA, órgão independente que regulamenta a utilização de substâncias e coíbe meios ilícitos para burlar o fisco. Coisas como estimulantes, anabolizantes, hormônios, diuréticos, narcóticos, entre outras paradas.
Ocorre que a indústria do mal continua bem a frente… Taí o laboratório Balco que não nos deixa mentir. Os californianos prometiam transformar um atleta meia-boca num fora de série. Entre outros Tim Montgomery e sua esposa Marion Jones teriam feito, supostamente, o tal tratamento para se transformarem em fenômenos do atletismo norte-americano.
Até que, num belo dia de junho em 2003, um pesquisador recebeu um pacote sem remetente. Quando abriu, descobriu uma seringa com tetrahidrogestrinona, ou simplesmente THG. Era um tipo de esteróide desconhecido, não detectável em testes. Novo escândalo mundial, que coincide “misteriosamente” com o fracasso retumbante do casal na seletiva para Atenas.
São casos assim que transformam a luta contra o doping no esporte numa espécie de “cruzada ingênua”: parece impossível atingir limites usando apenas métodos normais, como alimentação adequada e treinos constantes. O médico Júlio César Alves declarou certa vez, em entrevista à ESPN Brasil: todo campeão é dopado, e o Brasil só vai se dar bem quando souber lidar com todas as químicas. Isso sem falar no futuro, quando a engenharia genética será capaz de “fabricar” super-homens.
E alguém ainda acha que o importante é competir? Talvez o importante mesmo seja encontrar uma forma de varrer a sujeira para, quem sabe, enxergarmos graça no esporte…
(Postado em 16/07/2004)
Turbinar o cérebro e o físico. Parece que o ser humano vive em constante insatisfação pessoal. Silicone, substâncias para aumentar músculos, remédios em excesso; extase, maconha, cocaína.
E sobre o Diogo Mainardi: gosto muito de seus textos, e na maioria das vezes participo de sua opinião.
Abraço!
Marmota, trabalho na empresa de um campeão olímpico e já o ouvi contar, mais de uma vez, que AS atletas dos antigos países comunitas faziam a barba com gilette, de tanto hormônio e esteróide que tomavam. Ele diz que o problema vem de longe. Claro que a competição fica desigual e que o espírito olímpico vai para o saco. Mas existe preocupação ética que resista e interesses financeiros?
Caro Marmota,
Todos os anos acontece a corrida ciclistica “Giro d’Italia”. Todos os anos a polícia italiana faz uma blitz durante o Giro e prende um monte de gente com produtos dopantes. As ligas americanas profissionais de basebol e futebol americano decidiram não mais fazer controles anti dopping. Nunca mais! Vão contar somente com a consciência dos atletas. O astro Zidane confessou a uma comissão de inquérito italiana, que usava, sob orientação e controle do clube (Juventus), produtos de uso proibido (inicialmente se falava de EPO, mas foi constatado que havia um rodízio de produtos).
Creio verdadeiramente que o uso de dopping no esporte profissional será cada vez maior. Afinal de contas,ninguém quer pagar pra ver uma competição que não seja espetacular. Efeito tostines: o dopping gera o espetáculo no esporte, ou o espetáculo no esporte induz ao dopping?
Ciao.
O que vale uma vitoria esportiva? Fama, glória e dinheiro. Isto seduz e os sedutores prometem tudo. E cobram , tb. Ou nos enganeremos que a indústria farmacêutica faz campeões de graça? Tem todo um comércio em torno do esporte e é este tipo de ‘competição’ que, entre outras desgraças, dá suporte para o dopping.
Infelizmente os esportistas de hoje não são mais “amadores do esporte” no sentido de praticar esporte por amor, mas sim profissionais, e tudo que é profissional precisa de um investimento e todo investimento necessita de retorno financeiro.
Pronto, está feita a desgraça para com o amor ao esporte…
Vai lá no meu Flickr, que tem fotos minhas com os Mutantes. OFF TOPIC!!!
Excelente o seu tópico. Sempre desconfiei dessas atletas e minha tia americana ficava torcendo por mulheres obviamente estruturadas por remédios.
Fiquei chateada com o caso do Dodô. Marca o jogaodr, não é?
A Jaqueline foi pega de besteira, pura besteira. Um rápido comentário que ouvi outro dia sobre uma pessoa ligada a ela, me faz ter certeza disso. Mas, infelizmente, não pode cair na rede (misttttéééérrrriiiiooo)