Sabe o que está tirando o sono de muitos profissionais interessados em aproveitar todo o potencial das novas tecnologias? Acertou quem respondeu “celular”. Está todo mundo de olho nesse mercado impressionante: no Brasil, é praticamente um telefoninho para cada dois habitantes (ok, em Brasília, tem mais celular que habitante). Estimativas apontam que essa brincadeira pode gerar um faturamento de US$ 42,8 bilhões em todo o mundo, daqui a quatro anos.
Atualmente, a expressão “conteúdo para celular” está restrita ao entretenimento. Tirando o evidente uso como telefone, praticamente 80% da movimentação está ligada a torpedos e ringtones. Saiu na frente quem está diretamente ligado à música, como alguns canais que exibem videoclips convidando o usuário a participar do bate papo ou baixar o sucesso. Pessoalmente, não conheço ninguém que use com frequência algum serviço informativo.
Isso quer dizer que ainda existe uma minoria interessada em conteúdo jornalístico: iniciativas que inundam os programas de TV, como a Seleção do Faustão podem funcionar por duas razões. A primeira é atrelar o recebimento de boletins à participação em um sorteio de prêmios. A segunda é a própria força da Rede Globo, disposta a usar todos os seus tentáculos para promover cross-marketing.
Mas se o celular ainda está longe de ser o melhor receptor de notícias, ao menos já podemos considerá-lo um tremendo gerador de conteúdo. Há muito tempo é possível blogar ou publicar fotos usando apenas o telefone móvel. Lembram do show do U2? Em cada uma das duas noites, o Morumbi recebeu 70 mil potenciais jornalistas, que informavam tudo em tempo real. Agora pense ,o mesmo fenômeno a qualquer hora do dia, em qualquer lugar. Mais do que isso: em vez de toneladas de links descentralizados, imagine todo esse conteúdo em um único endereço.
Não precisa imaginar mais. Conheci no E-Media Tidbits a idéia do Pablo Altclas, um portenho aficcionado por celulares: chama-se Cronicas Moviles, um espaço de expressão livre gerado por uma integração ilimitada de diferentes pontos de vista, via celular. Na Argentina, são 22 milhões de celulares, 1,5 milhão com câmera. E segundo a imprensa local, já existem 150 pessoas inscritas no projeto.
O blog do Pablo Altclas já funciona como um protótipo: entre os posts, muitas entrevistas em vídeo discutem o impacto dos blogs e as novas formas de jornalismo cidadão. Sua conclusão? “qualquer um pode cobrir uma notícia e contar a sua realidade”, declarou em uma entrevista ao jornal Página 12. Mmmhhh… Polêmico.
Não vai demorar muito para que alguém desenvolva a mesma idéia, focada ao menos em uma cidade como Rio ou São Paulo.
R$ 4,00 para receber 10 notícias da Copa e concorrer a 2006 prêmios é um preço nada convidativo…
Para mim, celular é só telefone + pager + agenda. E ponto final.
[]’s
Sem querer, o capitalismo tecnológico acabou incentivando o jornalismo cívico. A Internet e as maravilhas multimídia, em vez de servirem somente como mais um dínamo de consumismo desenfreado acabaram colocando em xeque o modelo da comunicação de massa até agora vigente, baseado na dominação de poucos grupos empresariais sobre a geração de conteúdo. Em outras palavras, qualquer um de nós pode ser Rede Globo agora…
O celular é uma ferramenta, quem usa é que determina a função. Existe aqui uma grande oportunidade de fazer a inclusão digital de milhões (longe de emendas mirabolantes de sanguessugas e mensaleiros. O aparelhinho é mais barato que um PC e, mesmo limitado, pode ajudar a diminuir a desinformação nesse país. As empresas de comunicação precisam dialogar nesse meio tbm, sob risco de ficarem isoladas em seus nichos iniciais. Mas daqui a um tempo, será que fará sentido discutir internet em separado de celular?