Por um sorteio dirigido na próxima Copa

Argentina, Brasil, Inglaterra, França, Alemanha, Itália, México e Espanha: estes são os cabeças-de-chave da Copa. Os oito, considerados favoritos antes mesmo do sorteio do Mundial, feito no dia 9 de dezembro passado, estão classificados para a próxima fase. Com uma ressalva: França e México ficaram em segundo lugar.

Até aí, sem surpresa alguma. Vamos aos outros oito times. Cinco deles são europeus que provavelmente estão em qualquer bom bolão: Suécia, Holanda, Portugal, Suíça e Ucrânia – esta última se aproveitou da fragilidade dos adversários no seu grupo. Um africano, para seguir a estatística válida desde 86, quando Marrocos chegou ao mata-mata: a surpreendente seleção de Gana. Por fim, duas grandes zebras: Equador e Austrália.

Pelo que mostraram em alguns momentos no Mundial, considero Costa do Marfim e República Tcheca as duas maiores injustiças. Adoraria ver as duas equipes ao menos no mata-mata, mas as duas caíram em grupos muito difíceis, verdadeiras pedreiras. Isso certamente poderia ser evitado em um simples lance de sorte.

Vamos voltar ao dia 9 de dezembro. Costa do Marfim ocupava o pote B, o mesmo de Tunísia, Equador, Austrália e Angola. Se os marfinenses tivessem caído no Grupo H, certamente deixariam a Ucrânia de fora e seguiria junto com a Espanha. Os marfinenses no Grupo F, do Brasil, passariam por Croácia e Japão – a Austrália que se virasse no Grupo da Morte. Imaginem os elefantes no lugar dos angolanos no grupo de Portugal. Certamente fariam alguém perguntar com mais veemência: “quem foi o cururu da Fifa que botou o México como cabeça-de-chave?”.

Melhor sorte poderia ter também a República Tcheca, que estava no pote C, o mesmo de Polônia e Suíça. Da mesma forma, acredito que os tchecos rivalizariam de igual para igual com a Alemanha, dando muito trabalho para o Equador no Grupo A. Na chave da França, provavelmente repetiria o feito dos suíços e se classificariam em primeiro lugar.

A bem da verdade, não é só o sorteio da Copa que provoca distorções, tornando a competição um balaio de coisas estranhas. As eliminatórias foram as grandes responsáveis pela presença de togos, tobagos e outros troços na Alemanha. A própria fase inicial talvez ficasse melhor se tivéssemos Uruguai, Camarões, Nigéria, Dinamarca… Mas enfim, melhor assim do que uma Copa a la Libertadores com 36 países, ou a cada dois anos, como querem os energúmenos do G-14…

Muitos lindos brindes! – Meu chapa Ian Black já contou tudo a respeito do nosso encontro no espetacular Instituto Goethe na última terça-feira. Tudo bem, o ambiente acadêmico reunindo estudantes, professores não serve de parâmetro, mas definitivamente, os alemães tem seu jeito de torcer. Eles gostam do esporte, esperam por um bom desempenho e vibram em lances de perigo, aplaudindo e apoiando o time. O brasileiro é muito mais apaixonado. Numa escala de passionalidade, poderíamos dar zero para a motivação zero, três para os alemães e sete para os brasileiros (torcidas organizadas seriam oito, e argentinos dez).

O melhor da partida veio no fim: o Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico – DAAD promoveu um quiz muito interessante sobre futebol alemão. Perguntas e respostas direcionados para duas equipes de três pessoas, seguido por explicações muito bacanas, verdadeiras aulas grátis – você sabia que Borussia, por exemplo, vem do latim, e se refere ao Reino da Prussia, que ocupava o norte da Alemanha? Por isso existem clubes como Borussia Dortmund, Borussia Mönchengladbach (isso me lembra uma piada interna, quando um amigo nosso escreveu que as equipes fariam “o clássico de Borussia”, referindo-se a uma cidade que não existe).

Enfim, graças ao ao Ian e a Nikki, que também estava lá, além do desempenho da minha equipe – um garoto de sete anos trajando uma camisa com os dizeres DEUTSCHLAND e um senhor muito inteligente, com a camisa da seleção alemã – saí do Instituto Goethe com lindos brindes. Um sensacional guia artístico e cultural da Copa (inglês e alemão); um completíssimo guia de Berlim (em alemão), um livro espetacular com fotos e dados de todos os estádios da Copa e mais alguns (todo em alemão) e o belo SAGA – Retrato das Colônias Alemãs no Brasil, com ricas fotos do gaúcho Ricardo Teles de alguns, hmmm, parentes distantes da minha avó. Saí de lá com vontade de aprender alemão!

Balanção da última rodada – Ninguém aguentava mais essa maldita primeira fase! Já foi tarde! Agora é a vez do mata-mata, e se o seu bolão já se esfarelou com as surpresas, imagine o que vem por aí. Mas vamos manter a brincadeira e falar das últimas dezesseis peladas.

Alemanha 3 x 0 Equador – Foi aquela surpresa: a LDU mostrou força e garantiram a classificação antecipada. Mas foi só encarar os donos da casa e o futebol dos primeiros jogos sumiu. Não devem aprontar pra Inglaterra. Em compensação, a Alemanha de Klose está embalada: vai suar mais, mas passa pela Suécia.
Polônia 2 x 1 Costa Rica – O Deportivo Saprssa sequer conseguiu vencer os pobres poloneses, mas que decepção. E o técnico da Polônia disse, depois da vitória: “puxa, podíamos ter vencido antes, né?”. Pois é.
Paraguai 2 x 0 Trinidad e Tobago – O sonho acabou logo para os caribenhos. Tudo bem, o Paraguai já tinha acabado bem antes. Não vão fazer falta.
Inglaterra 2 x 2 Suécia – Os ingleses jogaram com um belo uniforme vermelho com letras douradas. Parecia o Liverpool. Por isso, não venceram e ainda perderam o Owen. Ainda bem que terá o pobre Equador nas oitavas. Já o Larsson não mostrou nada demais, e nem com o Ibrahimovic os suecos vão para frente.
Portugal 2 x 1 México – Portugal acertou o rumo do mesmo jeito que o Brasil: sem os titulares! Vão dar trabalho para a Holanda. Já os mexicanos não mereciam se classificar. Pena que Angola não fez a sua parte… Se bem que, de repente, eles até eliminam a Argentina da Copa.
Angola 1 x 1 Irã – Quando os angolanos fizeram o primeiro gol, fiquei feliz: seria muito legal ver os Palancas Negras comemorando nas oitavas como se fossem a finalíssima. Ao menos conquistaram dois pontos e ficaram na frente de muitas “favoritas”…
Costa do Marfim 3 x 2 Sérvia e Montenegro – … Como a tal Sérvia, a minha “primeira colocada” no bolão. Mas que droga. Ao menos perderam pros marfinenses, cuja camisa ainda hei de comprar antes da Copa acabar.
Argentina 0 x 0 Holanda – Sim, senhores: esse foi o jogo que marcou o grupo da morte. As duas seleções mataram a bola, e os espectadores morreram de sono. Mas enfim, seguem favoritas.
Gana 2 x 1 EUA – Esses africanos são abusados. E vão dar muito trabalho pro Brasil. Já os EUA do técnico Dedé Santana fizeram o caminho que deveriam ter feito em 2002.
Itália 2 x 0 República Tcheca – E não é que a Itália passou pela primeira fase sem sustos, mostrando um time forte? E eu disse que o time de Pavel Nedved e Tomas Rosicky eram os melhores do grupo, que iam deixar a Itália de Luca Toni em segundo, no caminho do Brasil, e que os surpreendentes tchecos chegariam às semifinais… Hahahahahahaha!!!
Austrália 2 x 2 Croácia – Esse é o jogo do árbitro inglês que será convidado pra apitar a Copa João Havelange. Enfim, bela porcaria essa Croácia, que chegou à Alemanha dizendo ser mais forte que o Brasil. E o Guus Hiddink transformou outra baba em potencial numa equipe encardida. E novamente vai pegar a Itália nas oitavas-de-final: será que um raio cai duas vezes num mesmo lugar?
Brasil 4 x 1 Japão – Todo mundo já falou demais desse jogo. Eu só lamento pelo time do Zico, que para o meu bolão, chegaria a esse jogo classificado à próxima fase… E o time do Parreira vai enfrentar uma grande incógnita durante o nosso almoço de terça-feira (não tinha um horário pior não?).
Espanha 1 x 0 Arábia Saudita – Os árabes deram um sufoco no finalzinho, mas não conseguiram superar os reservas da Espanha. Ao menos se saíram melhor que em 2002. E os espanhóis estão em rota de colisão com a seleção brasileira – ou alguém acredita em revanche com a França?
Ucrânia 1 x 0 Tunísia – Da série “ninguém viu essa porcaria”, e por essa razão, candidato a pior jogo da Copa. Teve gol de pênalti de Sheva e só.
Suíça 2 x 0 Coréia – Deu a lógica no grupo: a Suíça eliminou a esforçada seleção asiática, aquela que um dia, num futuro distante, alguém vai lembrar: “nossa, e pensar que eles já chegaram em quarto lugar em uma Copa”…
França 2 x 0 Togo – Aliás, o mesmo vale pra muitas seleções aí. Se hoje ninguém acredita que o Uruguai já foi campeão, que a Hungria já foi vice, que a Bulgária já eliminou a Alemanha… Em pouco tempo, vão perguntar: a França já foi campeã mesmo? E nesse jogo, o goleirão “Coça e Agacha” fez excelentes defesas, mas no final nem pra eliminar a França o time de “tongo” serviu.

International PhilosophyLink campeão do Toplinks essa semana: um esquete extraído do Monty Python Live at the Hollywood Bowl: direto do Estádio Olímpico de Munique, filósofos representando Grécia e Alemanha se encontram para uma partida de futebol – a escalação de Beckenbauer é uma grande surpresa. Confúcio é o árbitro, com Santo Agostinho e São Tomás de Aquino como auxiliares. Aqui vai uma transcrição (em inglês) da genial partida, cujo único gol foi marcado por Sócrates (que não era o do Corinthians).

André Marmota pode perder um grande amor, um amigo de longa data ou uma oportunidade de trabalho... Mas não perde a piada infame. Quer saber mais?

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Comentários em blogs: ainda existem? (5)

  1. O que interessa é que o Pelé deu sorte de novo ao Brasil no sorteio e a Argentina, novamente, cai num grupo da morte! OFF POST: Marmota, para vc que é um gurmet, saiu um guia muito bacana no estadão sobre os restaurantes clássicos de Sampa…

  2. A Holanda acaba de quebrar (de vez) o meu bolão. Incompetentes!! Pipoqueiros!! ROBBEN AMARELÃO!!!

    Enfim, eu achando que era uma bela sacada MEU trocadilho e vem você me jogar na cara que o nome do goleiro de Togo é na verdade uma piada-pronta… Humpf!!

    Agora eu jogo minhas fichas na Alemanha. Se eu achava que o Brasil não chegava lá, sem Robinho então…

    Um abraço!

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