Ojos Rojos

Ao que tudo indica, o Brasil deverá se classificar para as quartas-de-final nesta segunda-feira, apesar de todas as suas dificuldades, diante da simpática e esforçada seleção chilena. Apesar do retrospecto negativo dos comandados de Marcelo Bielsa diante dos brasileiros, somando ainda os desfalques no meio-campo e o desgaste físico, é lógico que nossos eternos fregueses podem ganhar. Atitude, como vimos na primeira fase, eles já mostraram. Num lampejo de raça e vibração, repetir os primeiros minutos de jogo contra a Espanha, acertar um gol e obrigar o Brasil a buscar um placar reverso – algo que ainda não aconteceu nesta Copa.

Independente do resultado, a forte identidade desta seleção do Chile já está devidamente registrada.

Juan Ignacio Sabatini, Juan Pablo Sallato e Ismael Larraín começaram a acompanhar a seleção durante as eliminatórias da Copa da Alemanha. Em dezoito jogos disputados entre 2003 e 2005, foram cinco vitórias, seis empates e sete derrotas, terminando em sétimo entre os dez países. É com mais esta frustração que começa o “Ojos Rojos”, documentário elaborado pelo trio.

Da tristeza por mais uma ausência num Mundial, veio o clamor por uma virada. E a partir da contratação de Marcelo Bielsa e a mudança de postura, os chilenos experimentaram outra vez o prazer de celebrar sua equipe durante as eliminatórias para a África do Sul. Acabaram classificados em segundo lugar, apenas um ponto atrás do Brasil. Os momentos épicos desta caminhada, permeados por muitos treinos, vestiários, gritos de incentivo e suor, recebem uma carga puramente emocional diante de torcedores e narradores emocionados, reforçando a paixão dos sul-americanos pelo esporte. Sem falar na esperada visão nacionalista, caracterizada pelo orgulho de usar vermelho, branco e azul.

Isso é tudo que posso identificar pelos trailers oficiais oferecidos pela produtora. O filme, que estreou no Chile em maio, foi um tremendo sucesso: em 20 dias, superou a marca de 100 mil espectadores. Isso sem contar os torcedores que encontraram cópias para download por aí, graças a distribuição pirata iniciada por algum cururu que furtou o material em alguma etapa da produção do DVD. Dos males, o menor: enquanto não é possível encomendar uma edição especial, com extras, gols, entrevistas e afins, as cópias proibidas representam a única solução para aficcionados distantes do Chile assistirem ao documentário.

Enfim, vejam que todo envolvimento de um país, pelo simples fato de sua seleção ter mostrado empenho para chegar à Copa do Mundo, virou filme. Mas já está bom, né? Ao menos desta vez, Dunga e seus comandados certamente não vão dar nenhuma brecha para uma continuação.

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