O mascote olímpico, este pobre coitado

No final dos anos 70, alguém teve a brilhante idéia de incluir mais um símbolo entre tantos ícones relacionados aos Jogos Olímpicos. Algo que pudesse personificar a cultura local e, ao mesmo tempo, transmitir uma mensagem de alegria e amizade entre os povos. Assim surgiu a figura do mascote.

Dito isso, convenhamos: o único que se saiu bem nessa tarefa foi Misha. A imagem dos espectadores formando um painel multicolorido, derrubando lágrimas do bichinho na cerimônia de encerramento, é mítica. Mesmo se você nasceu depois de 1980, ou ainda considerar o ursinho dos Jogos de Moscou um instrumento soviético ligado à Guerra Fria, você vai concordar com as palavras da nossa visitante Maristela Alves:

Não houve nenhum mascote olímpico como Misha. Nem os mascotes de Copa do Mundo. Talvez o Naranjito, o mascote da Copa de 82, tivesse algum carisma, mas ele não chorou, nem subiu aos céus. O Misha encantou uma geração, embora alguns espíritos de porco achavam que na verdade ele deveria ser um Ursinho Bisha, tal sua doçura a toda prova. Pura maldade.

O primeiro mascote olímpico surgiu em 1932, nos Jogos de Los Angeles. Era um cão chamado Smoky. Mas ainda não era um símbolo oficial – tanto que um novo personagem só foi surgir em 1968, no México. Era um jaguar vermelho, de nome Paloma. Só nos Jogos seguintes surgiram os primeiros mascotes oficiais. Vamos a eles:

Waldi (Munique, 1972): O cão da raça basset dashshund, popular na Baviera, ganhou as cores dos anéis olímpicos e teve a honra de ser o primeiro mascote oficial. Apesar do sucesso comercial (vendeu dois milhões de unidades), o coitado deu um azar danado: Munique foi o palco da tragédia envolvendo terroristas palestinos e atletas israelenses…

Amik (Montreal, 1976): Novamente, um animal que tem a ver com a cidade sede: um castor, ideal de paciência e trabalho, símbolo oficial do Canadá. Perceberam que todos esses mascotes da era pré-Misha eram mais sóbrios? não carregavam essa aura comercial dos dias de hoje. Tudo bem, admito ainda que ambos eram bem sem-graça.

Misha (Moscou, 1980): Tudo bem, já falamos demais dele.

Sam (Los Angeles, 1984): Esse aqui está mais fresco na memória das crianças da minha época, graças a sua aparição em latas de Coca-Cola, entre outros produtos. A águia, símbolo dos EUA, foi concebida por Walt Disney – por essa razão lembra tanto o Zé Carioca… Um contraponto nacionalista em relação ao mascote russo – contra ataque mal-sucedido, diga-se de passagem.

Hodori (Seul, 1988): Esse todo mundo vai lembrar também. O nome do “tigre amigo do homem”, como aparece nas lendas coreanas, foi escolhido por uma votação popular – ou seja, foi o símbolo que mais perseverou para chegar até o topo do pódio. A série de mascotes com alguma ligação regional estava interrompida temporariamente…

Cobi (Barcelona, 1992): O cachorrinho de traço fácil e inacabado (como as obras locais de Gaudi) e raça absolutamente desconhecida – e sem nenhuma relação com a fauna local – pode não ter sido o mais marcante, mas certamente foi o mascote com maior exposição televisiva. Tudo porque, mesmo após os Jogos, Cobi virou desenho animado para incentivar a prática de esportes e o respeito aos amigos (dava quase meio ponto de audiência na TV Cultura).

Izzy (Atlanta, 1996): Aqui, uma ressalva: cada olimpíada tem o mascote que merece. Um evento pré-fabricado, cujo estádio olímpico virou estacionamento meses depois, só podia contar com um mascote infeliz. Cujo nome original era Whatizit – corruptela de “que porra é essa”, em inglês (se nem os criadores sabiam o que era, imagine a gente). Esse espermatozóide azul futurista foi concebido por crianças de 15 países – inclusive do Brasil – e desenhado por um computador. Péssimo.

Olly, Syd e Millie (Sydney, 2000): A última olimpíada do milênio tinha que ser grandiosa em vários aspectos. Por essa razão, ao invés de botar um canguruzinho, os organizadores arrebentaram a boca do balão e criaram três mascotes: uma ave kookaburra, um ornitorrinco e uma équidna. Como três é demais, caíram num desmerecido ostracismo.

Athena e Phevos (Atenas, 2004): Sempre em busca de novas e criativas tentativas de dar certo, surgiram dois personagens humanizados. Inspirados em bonecos gregos antigos, o casal de irmãos tentará interligar o passado e o presente. Além de emplacar nas vendas, claro.

Beibei, Jingjing, Huanhuan, Yingying e Nini (Pequim, 2008): O objetivo de entrar para a história como os maiores jogos de todos os tempos começaram pelo número de mascotes: cinco. Sob a forma de “fuwa” (bonecos da sorte), eles representam os cinco elementos da filosofia chinesa: peixe (mar), panda (floresta), chama olímpica (fogo), antílope (terra) e andorinha (ar). Difícil lembrar? Basta imaginar que suas primeiras sílabas, quando juntas (“Bei Jing Huan Ying Ni”) significa “Pequim lhe dá as boas vindas”.

Enfim, apresentando o nosso mascote, prepare-se: até o dia 24 de agosto, a overdose será pesada.

André Marmota acredita em um futuro com blogs atualizados, livros impressos, videolocadoras, amores sinceros, entre outros anacronismos. Quer saber mais?

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Comentários em blogs: ainda existem? (7)

  1. André, estava louca de saudades do Marmota MM! Muita! Você é um cara incrível, julguei minha noite terminada com chazinho e resolvi dar um pulo aqui – acompanhando o desafogamento da minha vida – e tive o melhor fechamento de domingo dos últimos meses. Tive de parar a leitura umas cinco vezes por conta de engasgos. Você é um cara brilhante. Sacações à 3/4 sem despentear.

    Cara admirável, buenas suertes na entrevista.

    beijo

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