Minha visita ao Fifa Fan Fest no Rio

Cabem dois agradecimentos aos responsáveis pelo meu embarque à Cidade Maravilhosa no último dia dois. O primeiro foi circular por São Paulo exatamente durante o segundo tempo de Brasil x Holanda, evitando dores de cabeça com congestionamentos e com o time do Dunga. O segundo foi o de ter desembarcado a tempo de caminhar pela Avenida Atlântica e passar um tempinho na instalação que concentrou, aqui no Brasil, parte das intenções da Fifa com um Mundial de futebol: a Fan Fest nas areias de Copacabana.

A primeira vez que uma praça com telão foi armada oficialmente pela Fifa foi em 2002. A idéia era atender aos turistas que perambulavam sem ingressos para os estádios. O esboço no Japão e na Coréia serviu de modelo para a Alemanha, em 2006: estima-se que 18 milhões de pessoas frequentaram as Fan Fests nas doze cidades-sede. Para 2010, talvez os números na África do Sul não sejam tão estimulantes, graças ao inverno rigoroso no país. Em compensação, outras seis cidades no mundo receberam o evento patrocinado: Roma, Paris, Berlim, Sydney, Cidade do México e o Rio – a única na América do Sul.

A arena tem capacidade para receber até 20 mil pessoas – durante a manhã daquela sexta-feira, mais ou menos 69 mil circularam pelos arredores da praia. Nem todos, portanto, ficaram diante do telão de 120metros quadrados, em alta definição, apesar de ser possível enxergá-lo antes mesmo de entrar no complexo. Antes mesmo de chegar, o primeiro contraste: por ser oficial, a transmissão da Fan Fest é, obrigatoriamente, da Globo; já os bares recebem o sinal da Orla TV, do Grupo Bandeirantes, que também exibia os jogos da Copa…

A arena fica exatamente a areia da praia – sabendo disso, optei por deixar os tênis no hotel e usar chinelão mesmo. Isso não impedia a presença de alguns perdidos, certamente saídos do escritório, usando camosa social, calça e sapatos. Todos estes, ao entrar, passam por duas barreiras: os seguranças responsáveis pela revista e os fiscais das catracas, que contabilizam a lotação do espaço, são parte dos cerca de mil profissionais envolvidos na organização. Mesmo no final da tarde posterior a eliminação brasileira, ainda tinha uma porção de torcedores curtindo uma ressaca, além do segundo jogo do dia: Uruguai x Gana.

Antes da prorrogação, consegui circular por todos os quiosques mantidos pelos patrocinadores. No cinema 3D da Sony, fila para curtir a transmissão da partida. Ao lado, uma lojinha de produtos licenciados, com preços inflacionados: uma camisa alusiva a qualquer seleção não saía por menos de R$ 100; a mini-jabulani, que encontrei por aí a R$ 35, custava o dobro. Valores que desmotivaram minha especulada em um dos dois bares da Coca-Cola instalados ali. Parti para o ambiente mais interessante: a área do telão.

Tava na cara que a maioria dos torcedores sentados ou escorados nas bordas da arena estavam ali desde o início da manhã, vestindo verde-amarelo e segurando vuvuzelas. Não encontrei ninguém vestindo azul celeste ou alguma camisa relacionada à África, tanto na arena quanto nos camarotes praticamente vazios: só descobri que a maioria dos presentes pareciam torcer para Gana quando Suárez salvou o que seria o gol da classificação de Gana aos 30 minutos da prorrogação, com a mão.

“Que vacilo…”, pensei, em voz baixa, enquanto a maioria gritava loucamente e Suárez deixava o campo, chorando, expulso de campo pelo árbitro português. Asamoah Gyan, um dos grandes nomes da seleção africana, partiu para a cobrança, Chutou com força e a bola bateu no travessão. Enquanto Gyan olhava atônito, vibrava ao lado de uns poucos aficcionados pelo Uruguai. Passei o minuto mais sensacional da Copa do Mundo não apenas diante de uma imagem em alta definição, mas também ouvindo reações da galera. Não podia ter escolhido melhor.

Aquela imagem deu a certeza, ao menos para mim, que o Uruguai se classificaria nos pênaltis. Mesmo com a redenção de Gyan, que foi lá cobrar o seu após ter desperdiçado a chance de se classificar. Vieram duas cobrancinhas medíocres dos africanos, além de uma bola na trave de Maxi Pereira, antes do botafoguense Loco Abreu fazer a alegria dos botafoguenses presentes na areia. Chute com cavadinha e vaga celeste para as semifinais, celebradas pela minoria dos cariocas da Fan Fest.

Assim que a transmissão acabou, entraram os comerciais dos patrocinadores – entre eles o famigerado Tcha Tcha. E acreditem: meia dúzia de três ou quatro torcedores levantaram-se e… Levantaram os braços, seguindo o jeito novo e envolvente de torcer nesta Copa do Mundo! Lógico que estavam levando na brincadeira… Mas isso denota que, mesmo babaca, repercutiu…

Enquanto ia embora, o mestre de cerimônias da Fifa Fan Fest tentava animar os presentes que ficariam para o show do sambista Arlindo Cruz. “É, pessoal, a seleção perdeu hoje mas nossa festa continua! Vamos continuar alegres, com a cabeça erguida! Vamos cantar juntos! Eeeeuuu… Sou brasileeeeiroooo…”. Ah, não, né?

Enfim, enquanto caminhava de volta, fiquei imaginando cada uma das doze cidades-sede no Brasil com uma estrutura semelhante. Fiquei imaginando onde cada uma das que conhecia poderia instalar uma área daquelas, com 31 mil metros quadrados e num lugar bem localizado? Talvez o Anhembi em São Paulo, os arredores do Beira-Rio em Porto Alegre… Onde mais?

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