Talvez perca alguns pontos com você diante do que pretendo confessar aqui: há uns três anos, comecei a escrever uma série de histórias. Juntas, poderiam ganhar a forma de um livro. Sem qualquer pretensão: cada capítulo descreveria, de maneira tragicômica, um dos meus relacionamentos amorosos frustrados. Tenho material para uns quinze. Já me arrisquei a rascunhar uns seis, e algo me diz que, se a idéia fosse mesmo levada a sério, teria que viver mais para escrever uns cem.
Pois esse desejo adolescente passou por um duro golpe assim que eu terminei de ler O Cabotino, do Paulo Polzonoff Jr. Mesmo com a advertência inicial sobre o tom das palavras usadas neste manual de “anti-ajuda” para escritores, confesso que passei mal. A idéia da minha história, segundo ele, é a mesma de uma centena de indivíduos medíocres, que estão degradando a nossa literatura com suas histórias de vida sem importância, poesias concretas ou quaisquer textos herméticos absolutamente descartáveis. Por mais que eu não vislumbre uma noite de autógrafos para reunir os amigos e lançar meu modesto livrinho, fui realmente convencido de que meu esforço seria uma tremenda perda de tempo.
Mas eu sou um sujeito persistente. Não queria desistir. Corri para a livraria e tratei de pegar um antídoto aos conceitos de Polzonoff. Achei um que tem a cara do meu pretenso “worst seller”: chama-se Ria da Minha Vida Antes que Eu Ria da Sua, de Evandro Daolio. Atenção para o detalhe que faz toda a diferença: trata-se do volume três, “A busca de um grande amor”. Significa dizer que o autor já lançou dois livros que, juntos, reúnem seus tropeços do dia-a-dia – o último deles, com mulheres. Uma espécie de “blog impresso”, de linguagem direta e coloquial, com o nobre intuito de se tornar uma lição de vida para nós, pobres mortais.
Fico imaginando a reação de um lendo o livro do outro. Provavelmente, os dois chorem – cada qual com suas razões…
Enfim. Logo nos primeiros capítulos, Daolio conta que precisou dar carona para alguém que mora “num lugar horrível, onde era preciso cruzar a Radial Leste para chegar”… Ou seja, aqui perto da minha casa. Independente dessa falta de respeito aos moradores da periferia, o negócio é um sucesso! O cara arrebatou fãs no país inteiro, vendeu milhares de livros e reúne centenas de admiradores em seus encontros e palestras. Tudo sem usar um pingo de ficção, apenas contando a verdade.
Mas o que é, afinal, a verdade? Certa vez, Moacyr Scliar contou outra de suas histórias extraordinárias e concluiu, sempre escolhendo as palavras como um bom artista, que a verdade é relativa para quem trabalha com a arte de escrever, pois ela surge invariavelmente da imaginação. Como se um bom escritor fosse, em linhas gerais, um mentiroso com papel e caneta nas mãos. Mais uma vez, é tudo uma questão de palavras… Sempre elas, as ferramentas de trabalho para a literatura.
Basicamente, isso quer dizer que Polzonoff tem razão. Pessoalmente, estou mais perto do estilo Daolio de escrever, a alguns anos-luz de Moacyr Scliar, onde dificilmente vou cheguar. Talvez me contente em ser apenas um proto-escritor e exportar meu livrinho para um arquivo PDF e espalhar pela Internet, tornando-se efêmero como a rede para a maioria. Ou com alguma importância para um incauto qualquer. O esforço já terá sua validade.
(Postado em 05/03/2004. E quando o PDF sair, esta será a apresentação.)
Puxa, muito boa essa idéia do PDF. Se você quiser eu posso revisar seus textos – não dará muito trabalho, pois você escreve muitíssimo bem.
Fora que será super fácil de organizar, porque seu blog não é daqueles blogs bestas e sem foco. Seu blog é um blog família. 🙂
taí, a moça de cima tem razão. vc é dono de um blog familia. Oia eu aqui…super mãe, acordada as marmota, escreve que eu leio sempre…
bjão
André, manda alguns dos teus textos para o e-mail original@sillencio.org, com a formatação solicitada nesta página: http://sillencio.org/index.php?option=com_content&task=view&id=12&Itemid=26
Nunca se sabe…
Querido Marmota:
Feliz blog day. Quando jovem, sempre ouvi elogios à minha redação. Esta última reforma ortográfca me tirou fora do sério. Aliada à ausência no Brasil, causou certo desconforto às vezes.
Já fui criticadíssima e nem sou tão destacada como você. Quero publicar em CD-ROM com links ativos. Como um blog.
Seja qual for a maneira, você vá em frente. Será um su, garanto.
Melhor ser um proto-escritor do que um procto-escritor (nossa, que trocadalho do carilho infame). De qualquer forma, sei como você se sente. Aquele abraço!
Aiaiaiaiai…
Marmotex, durante alguns anos fui leitora do seu blog, só não continuo passando aqui com frequência por vários fatores externos, senão, você ía se cansar dos meus comentários. Vc escreve super bem, prende a atenção da gente, dá gosto de ler e dá até vergonha de eu continuar com a idéia de escrever em blog.
Imagina só vc lançando um livro? Putz, show!!! Tenho certeza disso.
Beijão…
Fala Marmota! 😉
Cara, ótima idéia do seu livro.
Quando estiver finalizado, dê uma olhada no site http://www.AutoresVirtuais.com.br
A publicação digital não impede a impressa (você fica com os direitos) e só facilita o aumento de visibilidade (inclusive para encontrar editoras). Sem contar que nosso sistema (www.virboo.com) é bem mais seguro que um simples PDF.
É um projeto que coordeno aqui na empresa (www.vivali.com.br)
Abraço,
Gustavo Gitti
http://nao2nao1.com.br
http://takadime.com
É… words, swords, já diria o bardo… Acho que dá pra pensar mais ou menos o seguinte: O universo não deve nada a você, nem você deve nada ao universo. Então, tudo vale a pena se a alma não é pequena.
Só nunca, nunca recorra a citações o tempo todo. É muito brega!
E na capa –ou na contracapa, apresentando o autor–, que tal uma foto sua com a camiseta do Charlie Brown? Acabo de ver, no seu Flickr, a do Hopi Hari.
Que puxa…
Quero uma cópia com dedicatória e tudo… lógico.
Seria bom você contar sua saga rumo ao seu livro. Ajudaria e esclareceria muitas dúvidas de quem um dia pretende ter um.