Mensagem natalina de um amigo relapso

E aí, rapaz! Tudo em paz? Espero que sua vida e a de sua família estejam em ordem!

Cara, pra falar a verdade, eu já devia ter escrito essa mensagem há bastante tempo. Lembro que, no nosso último contato, combinamos um almoço na região da Paulista… E isso foi em junho de 2005, meses depois de você digitar seu nome no Google, cair no blog e dar de cara com aquela foto “cheia de gente feia” da nossa sala de aula… Lembra disso?

Pois é… Tempos depois você comentou comigo que passou sem querer pelo Salgado Filho na mesma época em que eu estava em Porto Alegre. Faltou pouco para a gente se cruzar por lá. Então você me deu o número do celular, que obviamente só lembrei no dia do seu aniversário. Era feriado, e eu estava de plantão quando peguei você almoçando numa churrascaria, ao lado de uma galera bem antiga, que eu morro de saudades. Você estava meio alto já, certamente nem lembra do que eu falei… Sobre a primeira vez que saí sozinho de carro quando tirei a carteira de motorista. Foi para ir até a sua casa, quando você completou dezenove anos, há uns dez…

Fiquei mesmo frustrado aquela tarde – até saí num horário decente, mas já era tarde demais. Mesmo antes daquilo fiquei de ir atrás do resto da turma, pra tentar resgatar pessoas e histórias. Cheguei a encontrar, perdido numa das muitas caixas que acumulo em casa, aquele jornalzinho mequetrefe que nós fizemos, ainda no tempo da máquina de escrever. Bons tempos.

Nossa, fiquei tentando lembrar quando foi a última vez que nos vimos pessoalmente… Foi no dia do seu casamento! Aquele que eu perdi a cerimônia por causa de um maldito cinto que fui comprar naquela tarde, e que me tomou minutos preciosos. Tempo que poderia ter compartilhado com você.

No fim das contas, a vida, se é que ela serve de desculpa, manteve nossa distância, e de minha parte, peço mesmo desculpas por ter deixado isso acontecer. Se serve de consolo, não foi exclusividade sua: ando bastante relapso com muitos amigos.

Apesar da correria e das poucas mudanças no campo profissional, assunto é o que não falta pra gente conversar. Daquele nosso último e-mail até hoje, seu time foi campeão da Libertadores e ainda conquistou um Mundial, roteiro que o meu pretende fazer nesse 2006. Deu tempo ainda de fazer um curso na Alemanha, meses antes dessa Copa que ninguém quer lembrar. Também foi tempo suficiente para convencer alguém a ficar comigo e, pouco tempo depois, ela se dar conta de que não era nada daquilo.

Também fui conhecer o Uruguai – e eu lembro de uma vez que você argumentou comigo, só porque eu não queria ver o Uruguai em uma Copa do Mundo. Foi em uma das nossas longas noites ao lado dos amigos, jogando conversa fora no boteco. Lembro que você sempre quis saber mais detalhes daquela minha aventura no Guardião. Quando você disse aquela frase célebre, “pessoas de direita também não perderiam tempo discutindo, estariam ocupadas demais tentando ganhar o primeiro milhão”. Puxa, e hoje eu trabalho tanto, sem aqueles papos de mesa de bar, e não tenho grana sequer para realizar pequenos prazeres…

Mas voltando. Essa semana soube de uma história triste. Duas amigas que se conheceram no primeiro grau, e que também tiveram suas histórias separadas por conta dos percalços que afligem todos nós: trânsito, trabalho, pessoas malas, más vibrações em geral. Apesar de tudo, sempre houve aquele desejo mútuo de “tomar aquele cafezinho” para colocar a conversa em dia. Até que uma delas faleceu. Dá para imaginar uma situação dessas?

Ei, longe de mim rogar praga em você! Nada disso! Essa história me fez realmente pensar mais uma vez o que ando fazendo com a minha vida, e especialmente, com os meus amigos. Só que a nossa inércia é gigantesca, eu sei, e não vai ser em uma simples resolução de ano novo que ela vai mudar.

Mas enfim, apesar das pequenas decepções do dia-a-dia, ainda tenho esperanças na humanidade. Nosso encontro, seja um almoço, um café, um esbarrão ou seja lá como vier, ainda está de pé. E não vou bancar o otimista: sei que, em dezembro, que é um mês mais curto já que vai só até o Natal, temos aquela ânsia de resolver tudo aquilo que deixamos pendentes – essa mensagem é um exemplo disso…

De qualquer forma, seria bem legal se conseguíssemos nos ver ainda esse ano. Que, pra mim, não foi dos melhores. Nem pretendo passar longos minutos enviando aqueles spams de Natal, que pouco valem diante de tanta impessoalidade. Um encontro frente a frente superaria qualquer mensagem dessas, além de se transformar em um momento inesquecível, tão necessário diante de tantas passagens desagradáveis.

Enfim, acho que é isso. Um grande abraço, e caso essas palavras se percam, tenha um feliz ano novo e um próspero Natal.

(Pronto. Só preciso escrever e enviar mais uma dezena de mensagens dessas.)

(Postado em 04/12/2006. Esse ano, essa sensação só piorou…)

André Marmota dialoga muito com o passado, cria futuros inverossímeis e, atrapalhado, deixa passar algumas sutilezas do presente. Quer saber mais?

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Comentários em blogs: ainda existem? (7)

  1. Cara, muito bom seu texto e sua mensagem. Mostra exatamente o que acontece na “vida real” que não é real, é online. Todos esqueceram a presença física… o abraço, o aperto de mão, etc… enfim.. complicado..

    Não prometo melhorar esse ano…

  2. Putzzz… Eu li esse texto e me vi escrevendo ele. Infelizmente é o que realmente acontece. Os amigos deixam de ser reais e tornam-se virtuais. Com esse “corre-corre” do dia-a-dia, ficamos “sem tempo” pra comunicarmos com um amigo. Preferimos mandar um e-mail ou algo assim. Sendo que o mais importante é o contato físico; é um abraço!
    Bem… adorei o seu texto! Muito bom, ver a relidade de um outro jeito!

    Seu blog é muito bom! Parabéns!

    beijO

  3. Eu faço cartões de Natal à mão e escrevo um por um com mensagens personalizadas. Mas ainda não é o mesmo de encontrar pessoalmente, dar um abraço e dizer o que eu sinto. Será que eu chego lá?

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