Eu sei que é um tremendo chavão o que escrevo aqui. Mas é comum, sempre após a eliminação do Brasil de uma Copa do Mundo. A gente enlouquece com o desempenho da equipe em campo, chuta a estante, soca a mesa, deixa o churrasco queimar… Depois que as horas passam e a TV desliga, somos golpeados pela realidade.
Então vem a pergunta: por que foi mesmo que perdemos horas de nossas vidas pintando a rua com o desenho daqueles mascotes de sempre? Estendendo linha na rua e amarrando fitas plásticas e bandeiras, suspendendo-as no poste? Gastando nosso pouco dinheiro em camisas oficiais, bandeiras para o carro, vuvuzelas descartáveis?
Até o último jogo da seleção, por mais que a desconfiança sempre acompanhasse o time desde aquela fatídica convocação, cada gol era acompanhado por gritos, pulos e aquela vibração estranha, como se fosse “um orgulho ter nascido nesse país plenamente adaptado para a prática do esporte mais popular do mundo”. Como se fosse delicioso, ao menos uma vez a cada quatro anos, gritar “é Brasil, porra!”.
E é incrível como essa euforia, que poderia perfeitamente reforçar uma pretensa vontade de nos equipararmos também em outras áreas, some completamente quando o juiz ergue o braço e nossas cabeças voltam a cair. As cores passam a representar um vergonhoso “tinha que ser brasileiro mesmo, todo castigo é pouco”. É óbvio que tal cenário é surreal ao lembrarmos que tudo não passa de um jogo, e que na prática, é ridículo falar em “nacionalismo” levando em conta apenas o ufanismo provocado pelas transmissões da TV. Mas será que todos pensam mesmo assim?
De verdade? Ainda gostaria de ver, um dia, os mesmos que se empenham para torcer por um time, transferir este mesmo clima pré-jogo quando ouve falar numa ex-namorada encontrada morta dias depois numa represa, num governador alegando que usa nosso próprio dinheiro para comprar panetones ou construir um estádio no meio do nada, no aumento do pedágio,numa sequência de disputas partidárias que nada ajudam a escolha do nosso futuro… Bem, talvez seja mais fácil imaginar que a gente consiga lembrar dessas coisas durante a disputa de um Mundial.
Esse clima de Copa do Mundo, que incrivelmente não se repete em Olimpíadas, seria perfeito em uma ou outra ocasião do calendário. E não é preciso um time de futebol erguendo uma taça para tal. Por que não torcer para que uma luz inspiradora caia sobre quem deve tomar atitudes – seja pra substituir o Josué ou punir os fora-da-lei? Experimente deixar as bandeiras penduradas, a vuvuzela acessível ou ao menos use mais vezes sua camisa verde e amarela. Isso não nos torna (e nunca nos tornará) patriotas, mas talvez nos ajude a caminhar pela trilha que, por erro ou descuido, Dunga e seus comandados não conseguiram trilhar na África.
Ou ao menos seja útil para não errarmos com o que chamamos de “nosso país”, naquilo que você considera importante para muita gente.
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Ooops, esse texto foi publicado antes do jogo entre Brasil x Holanda, eu sequer imagino o resultado da partida e já anuncio que o Brasil está fora da Copa! De modo que, puxa, acabo de cometer um erro! Como se trata de um blog com acessos poucos (mas qualificados), talvez aceitem minhas desculpas. Mais: por ser uma página web, eu poderia perfeitamente “despublicá-lo”, para evitar o constrangimento de ver a seleção classificada ou, pior, ser chamado de agourento.
Mas enfim, já que errei, ao menos que sirva como sinal de solidariedade ao responsável pelo posicionamento de anúncios na Folha de S. Paulo.
Sabem, textos como o que vocês leram lá em cima já estão prontos em inúmeras redações. Constatamos no episódio do hipermercado Extra que a publicidade também utiliza este artifício. A agilidade de uma redação, somado ao tempo curto, exige material preparado na véspera. É por isso que tanto a mídia impressa quanto a Internet já anunciou desde times campeões até gente morta com antecedência aos moldes da “eliminação” acima: erro ou descuido. Ninguém gosta de errar, evidentemente, apesar da sensação de que a web é mais “irresponsável” que o jornal, já que o papel não aceita correções.
O anúncio equivocado (acima) e o que deveria ter sido publicado: até Abílio Diniz ficou indignado com quem errou…
Errar faz parte da vida, bola pra frente. Convém lembrar, no entanto, de quando ouvi pela primeira vez que esse tipo de coisa acontece: “mas não é pra acontecer, Adilson!”.
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Falando nisso, só pra ficar no que houve após Brasil x Chile, alguém consegue identificar qual o erro bobo que ficou no ar na home do chileno La Tercera durante os 90 minutos e algo mais?
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Um último registro, para defender boas soluções num jornal, sempre o que exige mais criatividade em meio à instantaneidade das novas mídias. Em 21 de junho de 2002, Brasil e Inglaterra jogaram em Shizuoka durante a madrugada, horário ingrato para a mídia impressa. Imagine se o Extra tivesse que programar um anúncio do gênero para o dia seguinte, sendo que não haveria tempo hábil para imprimir e distribuir? A solução poderia ser algo tão genial quanto a capa do Correio Braziliense naquela manhã: bastava “girá-la” para ter a manchete certa.
É, parece que vc apostou que ia errar e não errou! Saiu um post mais ou menos como essa capa do Correio Brasiliense mesmo, hehehe!
Agora, respondendo aos seus questionamentos da primeira parte do texto, acho que agimos assim durante a Copa porque é o único momento em que o Brasil é Primeiro Mundo. E pode se achar para todo o planeta como tal. E isso realmente não vale para as Olimpíadas, que nunca ganhamos.
Agora, de volta à mediocridade de sempre.
Abraço!